COVID-19

Após seis meses, 1ª infectada por coronavírus no Rio ainda não recuperou olfato

Advogada de Barra Mansa contraiu a doença durante uma viagem à Europa, mas só teve diagnóstico quando retornou ao Brasil

A advogada Jeniffer Melgaço, primeira vitima de Covid-19 do Estado do Rio Foto: Arquivo pessoal

A funcionária pública Jeniffer Pereira Melgaço, de 28 anos, por seis meses resistiu em revelar o seu nome. Um dos motivos era o fato de ser a primeira pessoa diagnosticada com Covid-19 no Estado do Rio. Por um longo período, ela enfrentou o preconceito e chegou a ser vítima de ataques nas redes sociais. Jeniffer vive na cidade de Barra Mansa, no Sul Fluminense, onde nasceu.

Ela, que é advogada e trabalha na prefeitura, contraiu a doença durante uma viagem com o marido pela região da Lombardia, na Itália. Nas redes sociais, chegou a ser acusada de trazer a doença para o Brasil. Depois de seis meses muita coisa mudou. O município já registrou 1.822 casos da doença 120 pessoas morreram em decorrência do vírus. Jeniffer teve um quadro brando de Covid-19, mas até hoje não recuperou o olfato.

— No primeiro mês, ainda sentia cansaço durante o dia e, em algumas vezes, dores de cabeça. Hoje, seis meses após o positivo, ainda sofro com a perda completa do olfato e alteração no paladar. Tem sido um período difícil de adaptação e busca de tratamento, mas sem resultados até então — relata Jeniffer.

A perda do olfato e do paladar é apontada hoje como um dos principais sintomas da doença. Tanto que o Ministério da Saúde passou a determinar que as pessoas que apresentem esses sintomas passem a constar das estatísticas, sem a necessidade de fazer o teste específico.

Fabrizio Romano, presidente da Academia Brasileira de Rinologia (ABR), disse que ainda se sabe pouco sobre essas sequelas. Segundo ele, normalmente os pacientes recuperam o olfato em pouco tempo:

— A maioria melhora, mas percebemos que em menos de 5% das pessoas o problema persiste por meses. O tratamento é feito com fisioterapia (normalmente, com a exposição a cheiros fortes) e medicamentos. O paciente precisa ser persistente. A fisioterapia precisa ser feita por meses. É um tratamento de longo prazo. Nesse caso da Covid-19, uma doença recente, ainda não sabemos o que vai acontecer.

Ataques nas redes sociais

Jeniffer Melgaço acredita que os ataques sofridos nas redes sociais tenham como causa principal o desconhecimento das pessoas sobre a doença. Os comentários eram muito ruins. Alguns chegaram a dizer que a advogada deveria ter morrido. Ela foi chamada de irresponsável por ter trazido o novo coronavírus para o país:

— Acredito que entre tantas notícias das mortes e cidades sendo fechadas, a falta de conhecimento a respeito do vírus, como formas de contágio, sintomas, causaram pavor. Com isso, criaram alguns boatos, em grande maioria, falsos. Então eu compreendo a reação de algumas pessoas. Afinal de contas, eu também estava assustada. Os novos casos não passam pela mesma exposição que eu. O que, sem dúvidas, é positivo. Talvez em razão de as pessoas terem se habituado com o vírus, porém, é preocupante não atribuirem à doença a gravidade devida e abandonarem as medidas básicas para evitar a contaminação — avalia a advogada.

Ao descobrir que tinha sido infectada pelo novo coronavírus, Jeniffer Melgaço sentiu medo, como qualquer pessoa. Mas, ao perceber que tinha sintomas leves, teve outra preocupação:

— Durante os primeiros dias, a possibilidade de ter contaminado alguém era o que me angustiava. As pessoas que tiveram contato comigo antes do diagnóstico fizeram o teste, e o resultado de todas foi negativo. É claro que sou muito grata por estar viva, ter tido uma forma branda da doença, mas meu maior agradecimento foi não ter contaminado meus familiares e amigos.

A servidora e o marido, um empresário da cidade, foram para a Europa no dia 10 de fevereiro. No roteiro inicial, a região da Lombardia, na Itália, que foi o epicentro da doença no país. Ela pôde perceber, durante o passeio, que a doença era grave. Quando descobriu que tinha sido infectada, ficou apavorada:

— Eu tive muito medo. Me lembro de ver uma das cidades que visitei transportando corpos para outras cidades, pois não conseguiam comportar mais a quantidade de mortos. A ausência de tratamento para todos, cidades inteiras fechadas, um cenário realmente apavorante. Infelizmente, hoje não me assusto quando vejo os números de óbitos diários. A maneira como me sinto mudou, porque há seis meses vivemos essa realidade. Entretanto, penso que não podemos nos acostumar com as mortes. São mais de 890 mil casos fatais no mundo, esse não pode ser o “novo normal”.

Mesmo depois de ter sido curada, Jeniffer Melgaço diz que mantém todos os cuidados:

— Eu não saio sem máscara, adoto todos os cuidados com higiene e evito aglomerações. Não sabemos ao certo sobre a possibilidade de reinfeção. Eu definitivamente não quero me contaminar de novo. Sei que ninguém escolhe ficar doente, mas se agora temos conhecimento de medidas para evitar, seguir as recomendações é o mínimo a se fazer.