MUDANÇA

Após viver 2 colapsos, AM tem Covid estável e até dia sem morte em Manaus

As imagens de hospitais de Manaus sem oxigênio para tratar pacientes com Covid-19, em janeiro,…

As imagens de hospitais de Manaus sem oxigênio para tratar pacientes com Covid-19, em janeiro, chocaram o mundo. O colapso colocou o Amazonas em uma situação até então inédita na pandemia, com pessoas barradas em porta de hospitais e fila de carros funerários em cemitérios. Naquele mês, 2.786 pessoas morreram lá, recorde até agora no estado.

Passados seis meses, há hoje uma estabilidade no número de casos e na transmissão do coronavírus, sem indicativos de formação de uma terceira onda.

Na semana passada, segundo a FVS (Fundação de Vigilância em Saúde), Manaus chegou a ter um dia sem mortes nem enterros por Covid, em 22 de junho —a última vez em que isso tinha ocorrido havia sido em 5 de novembro de 2020. Durante o pico da pandemia, cemitérios chegaram a ter 198 sepultamentos por dia.

Segundo a fundação, o Amazonas apresenta estabilidade da covid-19, com o Rt (taxa de transmissão) em 0,98 (ou seja, a cada 100 pessoas doentes pelo novo coronavírus, outras 98 são infectadas). Taxas abaixo de 1 indicam queda no número de casos ao longo dos dias.

Apesar da melhora, o vírus ainda circula bastante no estado: o Amazonas apresenta uma média de 500 novos casos confirmados diariamente. Em média, são 25 hospitalizações por dia (em janeiro chegou a haver 258 em um único dia). Por isso, permanece na fase 3, de risco moderado, ainda com restrições.

“Provavelmente, após duas ondas absurdas e com o avanço da vacinação, tenhamos chegado a um percentual de imunidade coletiva que está segurando. Espero que seja duradouro”, disse Felipe Naveca, virologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia.

Ainda não se sabe o percentual de pessoas que foram infectadas durante essa segunda onda. Uma pesquisa sobre esses resultados está em fase final.

Avanço da vacinação

Com 4,2 milhões de habitantes, o estado atingiu a marca de 2 milhões de doses aplicadas (1,45 milhão com a primeira dose e 544 mil com a segunda) na quarta-feira passada. O número foi comemorado em evento. Até ontem, 779 mil manauaras estavam vacinados com a primeira dose e 312 com a segunda (ou 15% da população).

O Amazonas foi contemplado, em janeiro, com doses extras de vacina e pôde acelerar a vacinação. Hoje, quem tem mais de 26 anos em Manaus já pode se vacinar —só está atrás de São Luís em menor faixa etária, sem comorbidades.

O estado já colhe os resultados. “O que a gente espera com a vacinação é exatamente isso, e com certeza já temos resultados positivos da vacinação. As perspectivas são boas. Entretanto ainda temos muita preocupação em relação ao futuro, porque conhecemos muito pouco sobre esse vírus”, afirma o infectologista Bernardino Albuquerque, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia e da Ufam (Universidade Federal do Amazonas).

Para estimular a vacinação, o governo tem promovido os “viradões”. Ao todo já foram cinco. Neste sábado (3), Rio Preto da Eva será o sexto município a receber a ação.

Segundo o infectologista, a grande questão agora é saber se haverá novas variantes capazes de furar a imunização. “A grande expectativa é pelo não aparecimento de uma nova variante. Já sabemos que isso é um fator extremamente importante, como vimos a P.1 [variante Gamma], que causou tudo aquilo no início do ano.”

Precursora de duas ondas

A situação de Manaus concentra atenções do restante do país porque foi a cidade que primeiro vivenciou o pico nas duas ondas registradas, em 2020 e 2021. “Manaus antecedeu todas as outras capitais, viveu primeiro o boom da segunda onda entre janeiro e fevereiro”, diz Albuquerque.

Até a quarta-feira, Manaus havia registrado 9.164 mortes de covid. Já o estado chegou a 13.313. Em mortalidade média, Amazonas está atrás apenas de Rondônia e Mato Grosso e empatado com o Rio de Janeiro: 321 mortes por 100 mil habitantes.

Para o infectologista, apesar de tardias, as medidas de controle da covid no estado conseguiram segurar o vírus em janeiro e estão tendo reflexo até hoje. “Como as medidas de contenção foram intensas nesse período, consequentemente tivemos redução no número de casos. Fora isso tivemos também a introdução da vacina”, explica.

Ele vê, contudo, com ressalvas o registro de um dia sem óbitos. “A questão de ter tido um dia sem morte não faz muita diferença, porque o que estamos vendo é que o vírus continua a circular. Realmente o número de casos novos diários está estacionado em determinado patamar, mas com a vacinação o que tem de positivo é a diminuição de internações, e consequentemente os casos graves e óbitos”, finaliza.