ELEIÇÕES

Armínio Fraga explica voto em Lula: “economia depende da democracia”

Em entrevista, ex-presidente do Banco Central expõe os motivos para pronunciamento dele e de outros economistas do PSDB a favor do petista

Armínio Fraga explica voto em Lula: "economia depende da democracia" (Foto: Agência Brasil)

O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, me concedeu uma entrevista na Globonews em que explicou o voto em Lula, a despeito de eventuais divergências na área econômica. Ele disse que os riscos à democracia aumentaram depois de domingo e estão sob ameaça também o meio ambiente e a ciência. Pais do Plano Real, como Pedro Malan, Edmar Bacha, Persio Arida, Armínio Fraga divulgaram hoje seu voto, e anteriormente André Lara Resende também havia respaldado a candidatura do petista.

Abaixo a entrevista:

Pergunta: Por que vocês fizeram este pronunciamento direto se posicionando na defesa da candidatura de Lula?

Armínio Fraga: Os grandes temas que estão na cabeça de nós todos são temas não econômicos. Estamos falando de riscos para a democracia que, na minha leitura, aumentaram depois dos resultados de domingo. Essencialmente é isso. Não há como colocar isso de maneira diferente. Nossa preocupação com a economia é antiga. No fundo, a nota registra a nossa esperança de que na área econômica as coisas sejam bem conduzidas inclusive porque o momento hoje é bem complicado, não só aqui no Brasil, mas também no contexto internacional. Taxas de juros subindo, guerra fria com a China, Rússia. Não é um momento onde se possa brincar. É um conjunto, mas o fundamental, de fato, é muito mais o político do que o econômico.

Vocês se movimentam pelo risco que a democracia corre nesse momento?

Com certeza. Há várias dimensões, nós estamos aí observando movimentos nessa direção, vamos dizer autocrática mundo afora. São situações em que a deterioração da qualidade da democracia ocorre gradualmente. O povo continua votando, mas aí as coisas vão perdendo a sua qualidade, a sua força. É um risco altamente relevante porque na esteira disso, em geral, ocorrem fracassos retumbantes na economia também. Às vezes, a gente se esquece que a economia funciona na base da confiança. E confiança é uma coisa ampla.   Outro dia eu perguntei para alguém: ‘você já imaginou se um parente seu for preso e processado e não tiver direito a uma defesa decente, equilibrada, neutra?’. As pessoas param para pensar. Pois é, mas isso acaba afetando a economia também.

Na área ambiental, há uma divergência muito grande entre os dois candidatos, no caso, o presidente Bolsonaro governou  deixando acontecer um desmatamento forte na Amazônia e crimes ambientais. E até a revista ‘The Economist’ alertou para esse ponto. Você acha que também é um ponto importante?

Considero esse ponto enorme. É uma vocação nossa. Estamos pegando algo que deveria ser um tijolo fundamental na construção de um futuro melhor para nós – não falo ‘apenas’ da contribuição climática- e transformando isso num problema. Então o que deveria ser uma oportunidade vira um desperdício total. Mas tem outras áreas também: a facilidade para as pessoas comprarem armas e munições, isso é outra loucura. Estamos falando de temas qualitativos bem claros a essa altura do jogo, como o desprezo pela ciência. Todo cuidado é pouco. Todo cuidado é pouquíssimo, nesse caso.

A “Economist” fez uma declaração de voto em Lula, afirmando que ele deveria se mover para o centro e esclarecer mais sobre o plano econômico. Você também pensa assim?

Penso, com certeza. É uma parte importante porque ao longo dos anos do PT no poder houve uma evolução para pior, bastante grave. Na chegada, o PT foi responsável de certa maneira abandonando conceitos antigos que faziam parte do programa do partido e estava dando muito certo. Depois houve um desvio de rota e resultados nós conhecemos bem. Isso tem que aparecer na discussão e espero que isto ocorra nos debates que vão preceder as eleições no dia 30.