Arquiteta caminha por seis dias para pagar promessa em Trindade
Mariana Barbosa de Sousa Costa andou 120 quilômetros. Ela havia pedido a cura da mãe, que tinha câncer no intestino, e foi atendida
Emoção e histórias de fé e devoção marcaram o primeiro dia da festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, nesta sexta-feira(24). Entre as centenas de devotos, a história da arquiteta Mariana Barbosa de Sousa Costa, de 26 anos, chamou atenção. Pela primeira vez, ela andou 120 quilômetros para pagar a promessa que fez pedindo a cura da mãe, que tinha câncer no intestino.
Lucilene Lourenço da Costa Sousa, de 47 anos, descobriu que tinha câncer em março do ano passado e teve que fazer uma cirurgia às pressas, e ainda foi encaminhada para a quimioterapia, onde fez tratamento por seis meses. Depois do susto, a arquiteta então resolveu fazer uma promessa ao Divino Pai Eterno: se a mãe fosse curada, ela iria acompanhar a tradicional comitiva da família dela em Turvânia na romaria até Trindade.
No final de 2015, os médicos deram a boa notícia: Lucilene estava curada. A filha então não pestanejou, se preparou fisicamente e no último domingo (19), às 12 horas, ela partiu de uma fazenda em Turvânia com destino a Trindade, percorrendo 120 quilômetros de estrada de terra numa verdadeira rotina de tropeiro.”A gente acorda às 5h, almoça às 7 horas da manhã, caminha das 8h ao meio dia. Aí a gente para, come biscoito, picoca, bolacha, essas coisas que a gente leva no carro de boi, e para às seis horas da tarde”, descreve Mariana.
Sacrifício
A comitiva da família de Mariana já existe há mais de 15 anos e reuniu neste ano 10 carros de boi e 42 pessoas. O grupo ainda contou com o apoio de outros familiares, que foram acompanhando o trajeto e fornecendo comida e apoio nos “pousos” da comitiva.
A viagem durou seis dias de sol forte durante o dia e muito frio à noite. A cada final do dia, o acampamento era montado em alguma fazenda do trajeto e o trabalho foi intenso, relata a arquiteta. “Tem que cangar boi cedo 5 horas da manhã, e montar e desomontar barraca, fazer comida, não para não. É muito difícil, é sacrifício, na verdade.”
Lucilene chegou a tentar acompanhar a comitiva, mas o ainda frágil estado de saúde dela não permitiu. “Ela andou um dia, foi até a outra fazenda andando 13 quilômetros. Estávamos todos, eu, ela e meu pai, meus tios, primos, todo mundo. Mas teve poeira demais e a imunidade dela ainda está muito baixa, então ela não pode participar mais”, lamentou a filha.
Mariana então seguiu com a família e só encontrou com a mãe novamente, cinco dias depois, quando chegou em Trindade no final da tarde desta sexta-feira (24). Veja a emoção do econtro da mãe com a filha no vídeo:
Família Jamiral
A tradiçao religiosa na família Jamiral, título dado em homenagem ao avô de Mariana, Jamiro Alves da Costa, já dura, pelo menos, meio século. Em 1964, Jamiro doou um pedaço de terra de sua fazenda, em Turvânia, para a construção da capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde todos as semanas, até hoje, são realizadas missas e cerimônias.
A comitiva da romaria do Divino Pai Eterno foi criada há cerca de 15 anos pela filha de Jamiro, Vera Lúcia Lourenço de Carvalho. Desde então, todos os anos irmãos, filhos, primos, tios, pais e avós saem da propriedade da famílía, em Turvânia. “Há muito tempo atrás quando o vovô ficou muito ruim no hospital, meu primo fez uma promessa de sair todo ano da fazenda do vovô”, revelou Mariana.
Contudo, em maio deste ano, Jamiro faleceu, aos 82 anos. Ainda assim os familiares preservaram a tradição. “Ele gostava muito, ele tinha essa tradição de sempre sair da fazenda dele. Mas, ele faceleceu, e mesmo assim a gente preferiu sair da fazenda dele”, conta a aquiteta.
A comitiva fez uma homeagem ao patriarca e “plotaram” os carros de bois com cartazes com fotos e frases de respeito e carinho ao vô Jamiro. Segundo Mariana, a família ainda mantém as tradições herdadas pelo avô. “Toda segunda feira a gente reza o terço às 8 horas da noite. Essa tradição já tem cinco anos.”
No final de julho eles ainda pretender realizar outro hábito herdado pelo avô. “Todo final de Julho, última semana de Julho, temos 5 dias de reza e novena nessa igrejinha (capela Nossa Senhora do Perpétudo Socorro)”, diz a arquiteta.