As reações dos empresários no jantar com Lula: ‘falou tudo o que a plateia queria ouvir’
Segundo resumiu um dos presentes, “não foi um jantar de vira voto, foi um jantar para reduzir a desconfiança”
“Não foi um jantar de vira voto, foi um jantar para reduzir a desconfiança”, resumiu assim um empresário que esteve no encontro com Lula em São Paulo na última terça-feira à noite, organizado pelo Grupo Esfera.
Cerca de cem executivos foram à casa do fundador do Esfera, João Camargo, para um encontro antes previsto para ocorrer só no segundo turno e que foi antecipado diante da perspectiva concreta de que Lula vença no primeiro turno.
Chamou a atenção dos presentes, além do público maior – no jantar anterior, com Bolsonaro, foram cerca de 40 empresários – a diversidade da plateia, que reuniu nomes próximos ao bolsonarismo. O carisma de Lula e sua disposição para ouvir também foram muito comentados.
Segundo relato de um dos presentes, o ex-presidente não demonstrou mágoa de aliados de outra hora de Bolsonaro e “falou tudo o que a plateia queria ouvir”. A menção a uma substituição do teto de gastos causou desconforto, mas na sequência Lula repetiu que seu governo prezou pela responsabilidade fiscal e fez uma analogia com o ambiente corporativo para se aproximar da plateia.
“Ele usou a lógica do empresário e disse: ‘assim como uma empresa, um governo às vezes precisa se endividar para crescer’”, contou um executivo.
Na casa de João Camargo, a sala onde ocorre os jantares tem duas portas de entrada. Enquanto os empresários entram pela entrada principal, o convidado usa um outro acesso. No jantar com Bolsonaro, o presidente foi direto ao púlpito. Lula, por sua vez, assim que entrou cumprimentou um a um os empresários, lembrava do nome de quase todos e puxou conversas individuais. Antes de ir embora, também fez questão de se despedir individualmente de muitos dos presentes.
O primeiro a falar foi Aloizio Mercadante, que não empolgou a plateia. Em seguida, Geraldo Alckmin. E, quando Lula foi ao púlpito, em vez de discursar, disse que estava ali “para ouvir”.
“Aí ele conquistou de vez o público”, resumiu um executivo presente. Outro empresário mencionou com colegas que até os mais resistentes admitiram “os encantos de Lula”.
Os executivos afirmaram que a plateia mais numerosa, em relação ao jantar com Bolsonaro, foi também reflexo da data – as eleições estão mais próximas. Mas relataram que, se o grupo de empresários chegou ao jantar ponderando os riscos de uma eleição em primeiro turno de Lula, a noite terminou com um clima de vitória inevitável do petista no próximo domingo ou no fim do mês.
Muitos após o jantar lembravam, nas conversas entre si, que em 2003 o governo de Lula fez acertos na economia. Outros repetiam que Alckmin teria um papel de destaque num eventual novo mandato de Lula.
“A desconfiança maior não é com Lula, era com a entourage, foi isso que ele tentou reduzir”, contou um dos presentes. Segundo outro relato, o ex-presidente tentou “refazer o laço com uns ou criar com os que nunca teve”.