Escassez de lamivudina
Para os especialistas, um sinal de que a compra de medicamentos para o HIV pode ser afetada pelo corte é a situação atual da escassez da lamivudina. Em ofício enviado no último dia quatro às coordenações estaduais e municipais dos Programas de HIV/Aids, o Ministério da Saúde relata uma falta de estoque do antirretroviral, um dos mais utilizados no tratamento, porque os “laboratórios fabricantes estão com dificuldade para atender o aumento da demanda”.
Isso levou à permissão temporária de esquemas de “simplificação” do uso dos antirretrovirais, que envolve a substituição dos medicamentos, e à orientação de que sejam entregues quantitativos do remédio apenas para o prazo de um mês, em vez de dois a três meses que geralmente eram indicados.
O coordenador-geral da do Grupo Pela Vidda, uma das primeiras ONGs voltadas para pessoas que vivem com HIV, Marcio Villard, destaca ainda que essa escassez pode impactar pacientes que estão respondendo bem ao tratamento e precisarão trocar o remédio, ou aqueles que moram longe dos postos de saúde, e terão que se deslocar mais vezes para conseguir o total necessário. Para ele, é uma questão de logística e uma possível já falta de recursos.
— Quando a pessoa está em tratamento e ele vai bem, nenhum médico vai querer mudar no meio. Isso tem que ser uma avaliação do médico, não uma situação forçada. O ministério justifica que é uma questão de oferta, ou seja, que não tinha laboratório para vender, mas não temos informações sobre isso. O que sabemos por representantes no Conselho Nacional de Saúde é que o governo faz um orçamento para comprar um medicamento, mas desse valor empenha apenas parte e não explica por quê. Então o remédio não foi comprado e não há estoque suficiente. Agora é a lamivudina, daqui a pouco pode ser outro medicamento — diz Villard.
Em relação à lamivudina, o coordenador afirma que o grupo está cogitando formalizar uma ação pública pelo Ministério Público Federal (MPF) para cobrar justificativas do ministério. Já sobre os cortes, Pinheiro, do Foaesp, diz que já foi solicitada uma reunião com o relator do orçamento no Senado Federal, o parlamentar Marcelo Castro (MDB), para buscar manter os recursos do programa de tratamento do HIV durante a votação do PLOA.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “nenhuma política pública será interrompida” e que busca “adequações” orçamentárias para 2023 com o Congresso Nacional.
Em relação ao lamivudina, a pasta diz que não há desabastecimento. “No mês de setembro, houve um crescimento rápido e acima do previsto do uso dos esquemas simplificados de tratamento. O aumento ocorreu em razão da mudança na prescrição de tratamento antirretroviral, que no último mês passou a não exigir a avaliação prévia da câmara técnica assessora”, escreve na nota.
O ministério acrescenta que iniciou nesta terça-feira (11) a distribuição de cerca de 5 milhões de unidades do medicamento a todos os estados. Novas entregas estão previstas até o fim do mês.