PROTESTO

Ativistas jogam esterco em prefeitura de cidade da Itália que homenageará Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro será recebido na segunda-feira (1º) em Anguillara Veneta, cidade no norte…

O presidente Jair Bolsonaro será recebido na segunda-feira (1º) em Anguillara Veneta, cidade no norte da Itália onde seu bisavô nasceu, com protestos contrários à concessão do título de cidadão honorário oferecido pela prefeita Alessandra Buoso, ligada ao partido de ultradireita Liga Norte.

O ato está sendo organizado por diversos grupos, entre os quais o Partido Democrático, o Partido da Refundação Comunista e a CGIL —o maior sindicato da Itália—, além de ONGs e da população local.

Enquanto esperam pelo ato de segunda-feira, alguns manifestantes ligados ao grupo ambientalista Rise Up 4 Climate Justice já começaram a agir. O prédio da prefeitura da cidade amanheceu nesta sexta (29) com grande quantidade de esterco na porta de entrada do local, e a fachada do edifício também foi pichada com a frase “Fora Bolsonaro” e manchada com tintas coloridas. De acordo com o grupo, “o presidente representa o modelo capitalista, predatório, destrutivo e colonialista contra o qual lutamos”.

Floriana Rizzetto, presidente da sessão de Padova da ANPI (Associação Nacional dos Partisans da Itália), que também lidera as manifestações contra o brasileiro, disse à Folha que a polícia “está fazendo tudo para evitar que Bolsonaro veja o ato”, já que o protesto teve permissão para ocorrer apenas das 9h às 11h.

“Mas estamos muito satisfeitos porque as forças progressistas se uniram, inclusive, com a igreja. Tanto que o bispo de Padova, Claudio Cipolla, não o receberá, assim como os padres da igreja de Santo Antônio”, disse Rizzetto. “Também encontramos uma grande solidariedade com alguns prefeitos democráticos como de Padova, Sergio Giordani, que também não receberá Bolsonaro.”

Presidente Bolsonaro chega de avião ao aeroporto em Roma – José Dias – Presidência da República/Divulgação

A ativista afirmou ainda que a justificativa de Buoso, prefeita de Anguillara Veneta, para homenagear o brasileiro, de que a honraria se refere à imigração italiana no Brasil, é mentirosa. “Ela precisa dar explicações.” A cidade destinou 9 mil euros (R$ 59 mil) para receber o presidente e sua comitiva.

À agência de notícias italiana Ansa Buoso afirmou ter pensado “nas pessoas que migraram para o Brasil e construíram uma vida até chegar à Presidência, levando o nome de Anguillara Veneta para o mundo.”

O protesto está marcado para acontecer na praça Matteotti, referência a um político socialista italiano assassinado por fascistas em 1924, o que, segundo Rizzetto, “ganha significado mais importante se pensarmos no que representa Bolsonaro para o mundo”. Além da praça que homenageia o político antifascista, Anguillara Veneta detém, desde 1993, o título de “cidade da paz e dos direitos humanos”.

Brasileiros que participaram do ato realizado na última segunda-feira (25), em frente à Câmara dos Vereadores, no momento em que acontecia a votação para aprovar a homenagem a Bolsonaro, também estarão no protesto do dia 1º. A proposta para conceder o título de cidadão honorário ao presidente brasileiro foi votada com urgência, e a população só soube do processo graças a Vanessa Camani, vice-presidente do Partido Democratico na região, que publicou um post em suas redes sociais.

“Bolsonaro atrasou o início da campanha da vacinação [contra o coronavírus] por meses, promovendo tratamentos alternativos com eficácia não testada, como a hidroxicloroquina, e em mais de uma ocasião minimizou o perigo do vírus que causou estrago especialmente entre a população indigena”, escreveu ela.

Na Câmara local, a proposta de homenagem recebeu nove votos a favor, três contra e uma abstenção. Uma petição online com mais de 2.600 assinaturas reivindicava que a honraria não fosse concedida.

Em Roma, aonde Bolsonaro chegou nesta sexta (29) para participar da cúpula do G20, ativistas brasileiros criaram o cardápio do “Ristorante da Bolsonaro” para ser distribuído em restaurantes da capital italiana.

O menu, estampado em verde e amarelo, com uma mão em forma de arminha sobre a bandeira brasileira e o slogan “desde 2018”, traz “uma seleção de pratos nascidos do desespero dos desempregados brasileiros”, além de menções a problemas ambientais e à situação da pandemia no Brasil.

“O Ristorante da Bolsonaro em Roma é uma obra de fantasia. O desespero do povo brasileiro, por outro lado, é real”, afirma o cardápio, que diz que o país não pode ser considerado um integrante do G20.

Ativistas anti-Bolsonaro planejavam fazer uma manifestação na piazza Navona, onde fica a embaixada do Brasil, local em que o presidente vai se hospedar. A segurança reforçada pelo governo italiano, no entanto, levou organizações, entre as quais o Comitê Lula Livre, a optar pela nova estratégia.