Áudios revelam plano de golpe feito por militares de alta patente contra Lula
Áudios revelam conspiração de militares de alta patente para atacar a democracia após as eleições de 2022, incluindo planos contra Lula, Alckmin e Moraes
Áudios interceptados pela Polícia Federal (PF) revelam o plano de golpe feito por militares de alta patente contra a vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no bojo de atentados contra a democracia do Brasil após as eleições de 2022. Os arquivos, obtidos com exclusividade pelo Fantástico, expõem detalhes da conspiração, destacando o general da reserva Mário Fernandes como o mais radical de todos e o principal articulador do esquema. Os documentos foram divulgados neste domingo (24/11).
De acordo com o inquérito, Mário Fernandes, que foi o segundo na hierarquia da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo de Jair Bolsonaro, planejou ações que incluíam o assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Nos áudios, Fernandes exibe um discurso radical. “Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais.”
As gravações também mostram a insistência em alegações infundadas de fraude eleitoral. Em um áudio de 4 de novembro de 2022, Fernandes declara: “Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p…”. O tom inflamado era ecoado por outros participantes do grupo, com um deles afirmando: “Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso.”
Áudios expuseram plano de golpe com envolvimento de acampamentos e estratégias de comunicação
A PF apurou que os acampamentos em frente a quartéis, no final de 2022, faziam parte de um movimento coordenado. Fernandes mantinha contato frequente com manifestantes e incentivava a continuidade dos protestos. Em um áudio, ele sugere que a movimentação popular era essencial: “Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer: o clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa, para que ela se mantenha nas ruas.” (Se referindo ao ano em que o exército fez a deposição do presidente João Goulart por um golpe militar 31 de março a 1.º de abril).
Áudios obtidos na investigação indicam que Fernandes teria discutido o plano com Jair Bolsonaro, referindo-se à diplomação de Lula e Alckmin como uma oportunidade para ações mais ousadas. “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro,” relatou o general.
O plano, denominado “Punhal Verde e Amarelo”, foi encontrado impresso no Palácio do Planalto. Ele detalhava estratégias violentas, como envenenamentos, uso de explosivos e armamento pesado, para “neutralizar” os alvos. A PF classificou o esquema como um ato de terrorismo, apontando a precisão com que as etapas de execução e seus impactos foram descritos.
Consequências e indiciamentos
A investigação resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo figuras importantes como o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, Valdemar Costa Neto e Alexandre Ramagem.
Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) condenaram os atos de violência e terrorismo político. Ambas ressaltaram a importância de proteger o Estado Democrático de Direito e exigiram que os envolvidos enfrentem as consequências legais com o máximo rigor.