POSSÍVEL PARALISAÇÃO

Aumento do diesel eleva ‘insatisfação’ de caminhoneiros, mas governo ainda não vê risco de greve

Mudança de tom ocorreu nesta terça (26), após a Petrobras aumentar o preço médio do diesel

A medida é vista pelos caminhoneiros como um descumprimento de promessas do governo do atual presidente Jair Bolsonaro

A CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos), que até a semana passada minimizava as chances de uma uma greve nacional de caminhoneiros, mudou de tom nesta terça-feira (26) após a Petrobras aumentar o preço médio do diesel nas refinarias em 4,4%, na primeira alta do combustível fóssil em quase um mês.

Se antes a entidade apontava o movimento grevista previsto por alguns grupos para 1º de fevereiro como algo com poucas chances de acontecer, agora fala em aumento da insatisfação dos condutores de caminhões.
Para elevar ainda mais a temperatura, os petroleiros resolveram aderir à eventual paralisação da próxima semana.

O governo, porém, insiste que o movimento não tem adesão. Um interlocutor do Executivo disse, sob condição de anonimato, que a categoria não está mobilizada e que a safra está aquecida até meados de abril/maio, o que diminui as chances de caminhoneiros pararem.

Além disso, pondera que, ao contrário de 2018, quando houve uma longa paralisação por todo o país, não há adesão das grandes transportadoras nem de setores do agronegócio.

A mudança de tom da CNTA veio junto com o anúncio da Petrobras. Com o reajuste nos combustíveis, o diesel passará a ser vendido às distribuidoras de combustíveis pela petroleira pelo preço médio de R$ 2,12 por litro.

Marlon Maues, assessor-executivo da CNTA, disse à reportagem que vinha acompanhando as tratativas do governo junto a Petrobras e que a sugestão da entidade era que não houvesse alterações no preço do combustível “no maior tempo possível”.

De acordo com Maues, a informação vinda do governo até sexta-feira (22) era de que não haveria reajuste no preço do diesel.

Diante do aumento, representantes da categoria veem aumento nas chances de uma paralisação já que o diesel representa entre 40% e 50% do custo de um caminhão e o reajuste não é compensado no valor do frete.

“Fica com um sentimento de traição”, disse o representante da CNTA.

Embora pondere entender que este não é o momento ideal para greve por questões como a pandemia de Covid-19 e a situação econômica do país, ele relata que a categoria não recebeu nada bem o aumento do custo para abastecer os caminhões.

“Realmente, aumentou a insatisfação, não tenha dúvida. Foi um movimento desnecessário [o de aumento do preço do diesel]. Não defendendo A ou B, mas já existia uma conversa alinhada de que isso não poderia acontecer”, afirmou.

Na semana passada, o governo anunciou uma série de medidas para tentar conter os ânimos dos caminhoneiros.
Conforme o jornal Folha de S.Paulo antecipou, o governo incluiu a categoria no grupo prioritário de vacinação contra a Covid-19.

Além disso, em sua live de quinta-feira passada (21), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) anunciaram uma série de promessas.

Foram relatadas medidas com isenção de tarifa de importação para pneus, revisão da norma de pesagem para que onere menos o caminhoneiro, eliminação de atravessadores, facilitação do recebimento do vale-pedágio e substituição de vários documentos por um único, eletrônico, que permitirá transações por Pix.

A CNTA disse ter sido informada de que o Ministério da Economia neutralizaria o efeito do aumento do diesel nas bombas através da redução do PIS/Cofins. A pasta, no entanto, não havia confirmado esta informação até a publicação desta reportagem.

A Federação Única dos Petroleiros informou na noite de terça que ela e seus sindicatos vão apoiar a paralisação dos caminhoneiros na segunda-feira.

” O apoio dos petroleiros terá ações localizadas em todo o país, unindo o protesto com solidariedade pelo momento difícil em que o Brasil se encontra, com altas taxas de desemprego e perda de renda”, disse a federação.

Em nota, o Ministério da Infraestrutura disse reforçar a “necessidade de entender o caráter difuso e fragmentado de representatividade do setor, seja regionalmente, seja pelo tipo de carga transportada, antes de divulgar qualquer informação referente à categoria”.

A pasta afirmou que “nenhuma associação isolada pode reivindicar para si falar em nome do transportador rodoviário de cargas autônomo e incorrer neste tipo de conclusão compromete qualquer divulgação fidedigna dos fatos referentes à categoria”.

O ministério disse ainda que tem agenda permanente de diálogo com as principais entidades que representam a categoria.