Ausente das negociações, ministro do Meio Ambiente pratica mergulho durante COP27
Chefe da delegação brasileira, ele admite passeio na manhã desta sexta, mas diz que dirigiu ao evento logo depois
Embora assuma oficialmente o posto de chefe da delegação brasileira na COP27, conferência do clima da ONU, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, foi até um espaço de prática de mergulho para visitar os corais da costa do mar Vermelho, em Sharm El-Sheikh, no Egito, nesta sexta-feira (18).
A cidade de resorts sedia o encontro, que se encerraria nesta sexta, mas deve se estender até o domingo (20) justamente pela dificuldade dos países de concluírem as negociações.
Os principais itens da agenda são conduzidos por ministros do Meio Ambiente da África do Sul, Dinamarca, Alemanha, Espanha, Maldivas, Índia, Austrália, Singapura, Noruega e Chile.
Segundo negociadores brasileiros, Joaquim Leite não participa das orientações sobre as posições do país.
O comando da delegação brasileira ficou, segundo pessoas ligadas ao Itamaraty, a cargo do diplomata Leonardo Athayde durante a primeira semana da COP. Já na segunda semana, o embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto chegou para reforçar a liderança —na prática, o comando foi dividido com Athayde, não com o ministro.
Diferentemente do ministro brasileiro, os comandantes da pasta do Meio Ambiente das nações que negociam na COP27 estão à frente das discussões em nome de seus países e assumem a coordenação de grupos de trabalho temáticos para mediar o entendimento entre as nações.
Eles desembarcaram no Egito no início da semana para assumir o comando das negociações, buscando resolver os nós políticos do acordo, ligados principalmente ao financiamento das ações climáticas em países em desenvolvimento —o que inclui o Brasil.
“Sem agenda e sem ter sido convidado para mediar a negociação (como costuma ocorrer nesta fase da COP), não restou nada ao ex-ministro do Meio Ambiente no cargo senão submergir —literalmente— para ver corais nesta sexta-feira”, diz uma mensagem do Observatório do Clima, rede que reúne dezenas de organizações socioambientais, no Twitter.
O texto acompanha foto de Joaquim Leite chegando ao espaço de mergulho, com uma mochila vermelha nas costas.
À Folha, Leite confirmou que foi praticar mergulho pela manhã, ressalvando que se dirigiu em seguida para a conferência. “Eu vim para cá todos os dias desde que cheguei”, disse, no centro de convenções onde ocorre a COP27.
Em sua resposta, o ministro afirmou repetidas vezes que é o chefe da delegação brasileira. O ministro não soube responder, no entanto, quais negociadores da sua equipe estão responsáveis por cada tema da COP.
Questionado sobre sua agenda na conferência, o ministro informou que fez reuniões bilaterais com países como Estados Unidos e Arábia Saudita, voltadas a negociar a venda de créditos de carbono do Brasil vindos de projetos de energia eólica offshore e florestas.
O ministro também não soube responder sobre o dado anual de desmatamento. “Não faço ideia”, respondeu Leite sobre a publicação dos dados do Prodes, sistema do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) que consolida a área de desmate do último ano.
A Folha revelou que o resultado já havia sido enviado pelo Inpe ao governo federal, que planeja, no entanto, divulgá-lo só após a COP27. A equipe de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse em entrevista coletiva na segunda-feira (14) que pedirá ao governo atual a informação sobre os dados. Leite, no entanto, preferiu não responder sobre a divulgação.
No ano passado, durante a COP26 do Clima, o ministro também segurou a publicação do dano anual —que já era conhecido pelo governo e revelaria mais um recorde de desmatamento. Ao longo daquela edição da conferência, o ministro falou em seus discursos que o desmatamento no país estaria em tendência de queda.
Em discurso na plenária da COP27 na terça (15), Joaquim Leite criticou líderes políticos, filantropos e empresários que vieram à conferência da ONU para mudanças climáticas com jatinhos particulares e cobram redução de emissões de gases do efeito estufa.
A crítica de Leite, que foi ao Egito em um voo comercial, ocorreu no mesmo dia em que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou à conferência climática em um jatinho do empresário José Seripieri Filho —conhecido como Júnior—, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.
Com o uso do avião privado, o petista virou alvo de críticas especialmente de deputados federais de oposição mais ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL).