CÂMBIO

BC intervém menos no dólar na gestão Lula em comparação ao governo Bolsonaro

Moeda dos Estados Unidos está acima de R$ 6

Foto: FreePik

Nos últimos quatro anos, o Banco Central (BC) tem adotado diferentes estratégias para controlar a oscilação do dólar, com destaque para a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022). Durante aquele período, o BC realizou 113 intervenções no mercado à vista, vendendo um total de US$ 74 bilhões. No entanto, a atual administração de Lula tem adotado uma abordagem mais cautelosa, com apenas uma intervenção no mercado de câmbio em 2024, totalizando US$ 1,5 bilhão.

O mercado de câmbio tem enfrentado desafios nos últimos meses, com o dólar ultrapassando a marca dos R$ 6. Isso tem gerado crescente pressão sobre o BC, que ainda usa ferramentas como a venda de dólares à vista, os contratos de swap cambial e as operações de recompra, para tentar estabilizar a moeda americana. Essas ações, no entanto, não são suficientes para resolver as causas subjacentes da alta do dólar.

A atuação do Banco Central nas duas gestões

Durante o governo Bolsonaro, o BC adotou uma postura agressiva para controlar o câmbio, especialmente após 2019, quando a queda da taxa de juros (de 6,5% para 4,5%) provocou a saída de capital estrangeiro do país. Com o fluxo de dólares negativo, o preço da moeda americana disparou, forçando o BC a vender bilhões de dólares no mercado para equilibrar a oferta e demanda. Em 2020, por exemplo, o BC vendeu US$ 24,7 bilhões. Já em 2022, o valor caiu drasticamente para US$ 571 milhões, mas ainda assim representou uma tentativa de conter a volatilidade cambial.

Por outro lado, a gestão Lula tem sido muito mais comedida. Em 2023, o BC não fez nenhuma intervenção à vista, e em 2024, a única venda foi de US$ 1,5 bilhão em setembro. Essa postura é explicada pela atual situação econômica do Brasil, que, embora enfrente desafios, tem um fluxo de dólares positivo e uma taxa de juros mais alta do que no período anterior, o que já ajuda a atrair investidores.

Ferramentas do Banco Central

O BC possui várias ferramentas para atuar no mercado de câmbio. Uma delas são as operações de recompra, nas quais o BC vende dólares com o compromisso de recomprá-los no futuro. Em novembro de 2024, o BC vendeu US$ 4 bilhões com a promessa de recompra entre abril e junho de 2025. Durante a gestão Bolsonaro, essas operações tiveram saldo negativo, com mais dólares sendo vendidos do que comprados. Já no governo Lula, o saldo é positivo em US$ 9 bilhões, uma vez que o BC comprou mais dólares do que vendeu.

Outra ferramenta utilizada pelo BC são os contratos de swap cambial, que servem para proteger os agentes econômicos que têm dívidas denominadas em dólares. Esses contratos aumentaram 46% de 2019 a 2022, mas desde então, o crescimento foi mais modesto, com uma alta de apenas 2% entre 2023 e 2024.

Intervenção no câmbio: quando é necessária?

O Brasil opera sob um regime de câmbio flutuante, onde o valor do dólar é definido pelo mercado, sem controle direto do BC. No entanto, o BC pode atuar quando identifica “disfuncionalidades” ou desequilíbrios no mercado. Com o dólar voltando a subir nos últimos meses, especialmente após o cenário fiscal do país gerar incertezas, a pressão para uma intervenção se intensificou.

Críticos apontam que a atual gestão do BC, presidida por Roberto Campos Neto, não tem sido tão incisiva quanto a anterior. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o líder do partido na Câmara, Odair Cunha, são algumas das vozes que questionam a falta de ação, lembrando as grandes intervenções realizadas pelo BC no governo Bolsonaro. No entanto, o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado por Lula, afirmou que “não se pode segurar o câmbio no peito” e que, apesar das reservas de US$ 370 bilhões, essa não é uma solução definitiva.

O que explica a alta do dólar?

Especialistas apontam que a alta do dólar tem raízes em fatores estruturais da economia brasileira. A desconfiança do mercado quanto ao controle da dívida pública é uma das principais razões para o aumento da percepção de risco do país, o que torna os investimentos em reais menos atraentes. Isso ocorre em um contexto onde as taxas de juros estão elevadas, mas a expectativa de crescimento econômico e a confiança no governo ainda são incertas.

A venda de dólares pelo BC não é vista como uma solução para esse cenário. Economistas afirmam que, embora as intervenções possam aliviar momentaneamente a pressão sobre a moeda, elas não resolvem as questões fiscais e estruturais que impactam a confiança dos investidores.

O Banco Central, portanto, segue monitorando o mercado de câmbio, com a consciência de que a volatilidade cambial é uma questão complexa, que exige não apenas intervenções pontuais, mas também um planejamento fiscal mais robusto para restabelecer a confiança dos investidores no Brasil.

Com informações do Portal UOL