Bens do ‘Faraó dos Bitcoins’ apreendidos pela PF não deverão ser usados para pagar credores
Por entender que criptmoedas, imóveis, veículos e joias são de origem ilícita, juíza deverá mandar que valores passem para a União
Os bens apreendidos pela Operação Kriptos, em agosto do ano passado, por ordem da Justiça Federal, dificilmente serão transferidos para a Justiça estadual para o ressarcimento dos credores da GAS Consultoria e Tecnologia, empresa de Glaidson Acácio dos Santos, o “Faraó dos Bitcoins”. Por entender que os valores — R$ 400 milhões em criptomoedas, além de imóveis, veículos e joias — são de origem ilícita, a juíza do caso, Rosália Figueira, titular da 3ª Vara Federal Criminal do Rio, considera mais provável a hipótese de perdimento dos bens em favor da União.
A magistrada argumenta, junto a interlocutores, que a fase ostensiva da operação, há dez meses, não encerrou as investigações sobre o esquema de pirâmide financeira, disfarçado em investimentos com criptomoedas, liderado por Glaidson e Mirelis Zerpa, sua mulher, que se encontra foragida.
Como parte dos bens apreendidos não tem origem comprovada, os investigadores da Polícia Federal não descartam a suspeita de que pertençam a quadrilhas de milicianos e de traficantes de drogas.
Em paralelo à ação penal da 3ª Vara, tramita na Justiça estadual uma ação preparatória para a recuperação judicial do grupo de Glaidson. O advogado Sergio Zveiter, administrador judicial nomeado pela juíza da causa, Maria da Penha Nobre Mauro, da 5ª Vara Empresarial da Capital, desaconselhou um eventual pedido de transferência de bens enquanto não forem dirimidas as dúvidas sobre a origem dos bens apreendidos.
Zveiter espera que os advogados de Glaidson apresentem outros recursos, ainda desconhecidos pelas autoridades, para o ressarcimento dos 67 mil clientes da GAS — este contingente, segundo a investigação, pode chegar a 200 mil credores. Em ofício enviado aos advogados de Glaidson, o administrador lembrou que a defesa da GAS tem até o dia 30 para apresentar a relação oficial dos credores, o valor total da dívida e os recursos disponíveis para pagá-los, entre outras exigências.
O advogado de Glaidson, David Figueiredo, disse que o cliente pretende apresentar na recuperação outros ativos que não estão da Kriptos. Figueiredo alegou que Glaidson, preso desde agosto do ano passado, “sempre quis pagar as obrigações com os credores, mas foi impedido pela Justiça Federal)”. O advogado, porém, não deu detalhes sobre a origem dos bens a serem oferecidos e nem o seu montante.