EQUILÍBRIO DO MEIO AMBIENTE

Biofábrica distribui joaninhas para combate de pragas em BH

Projeto já distribuiu 80 mil insetos, que podem substituir agrotóxicos em hortas

Biofábrica distribui joaninhas para combate de pragas em BH (Foto: Pixabay)

Presença frequente nos desenhos animados e conhecida como um inseto bonitinho, as joaninhas também podem ser muito úteis no combate a pragas na agricultura. Carnívoras, elas podem se alimentar de pulgões, cochonilhas e outros invasores que atacam as plantações.

A partir desse potencial das joaninhas, a prefeitura de Belo Horizonte criou uma biofábrica que cria e distribui os insetos. O principal objetivo é potencializar o controle biológico de pragas nas áreas verdes e hortas urbanas da cidade.

De acordo com Dany Silvio Amaral, coordenador do projeto e diretor de gestão ambiental da secretaria de meio ambiente de Belo Horizonte, por se alimentar dos parasitas, as joaninhas funcionam como uma alternativa ao uso de agrotóxicos e venenos, potencializando uma agricultura orgânica e agroecológica.

A motivação inicial para o projeto surgiu quando as árvores fícus da capital de Minas Gerais foram infestadas por moscas brancas. Metade dos fícus precisaram ser cortados devido a infecção entre os anos de 2013 e 2014. Começou-se a pensar em possíveis soluções para o problema.

Em 2017, uma iniciativa francesa de controle biológico de pragas em jardins com uso de joaninhas despertou o interesse de profissionais da secretaria de meio ambiente de BH.

“Pensamos que não seria muito difícil fazer a mesma coisa aqui. Era uma boa alternativa para fazer o controle biológico das moscas brancas nos fícus e também auxiliar na agricultura urbana e nas hortas comunitárias, que são muito fortes na cidade”, diz o diretor.

Criada em 2018, a biofábrica está localizada no parque das Mangabeiras. De 2019 ao final de 2021, foram distribuídas cerca de 80 mil joaninhas. A meta para o ano de 2022 é distribuir 50 mil insetos.

Amaral, que é engenheiro agrônomo e doutor em entomologia, especialidade que estuda os insetos, diz que a ideia é trabalhar com joaninhas que já estão presentes na fauna da cidade. Os insetos foram coletados na natureza e levados para o laboratório, onde recebem acompanhamento para reprodução e desenvolvimento adequados.

Parte da produção é mantida na biofábrica, para manutenção do processo. O restante é destinado aos interessados ainda na fase de larva, para o uso no controle biológico.

“Elas são distribuídas na fase de larvas por dois motivos. O adulto pode voar, você libera ali na planta, ele pode ir embora e você não consegue fazer o controle. Além disso, a larva também é muito mais voraz. Como elas precisam se desenvolver, chegam a comer de 40 a 50 pulgões em um dia”, explica Amaral.

Qualquer morador de Belo Horizonte pode fazer a solicitação dos insetos por meio do portal de serviços da prefeitura. A pessoa então recebe gratuitamente um kit com cerca de 30 larvas de joaninha e instruções sobre como manusear os animais e sobre a importância ambiental do controle biológico.

A engenheira agrônoma Ingrid Araújo é criadora de uma start-up que produz hortas urbanas em Belo Horizonte de maneira agroecológica. Ela monta hortas em caixas para os clientes e também faz manutenção em plantas de casas, prédios, restaurantes e estabelecimentos comerciais.

Ingrid descobriu a biofábrica através de professores, ao procurar por alternativas para o uso de agrotóxicos no tratamento das plantas. Desde 2019, ela utiliza as joaninhas para combater pulgões em hortaliças como couve e rúcula.

“É uma solução fácil e ainda é bonito, as pessoas gostam de ver joaninhas na horta delas. Também ajuda que as pessoas conheçam as fases da joaninha. Alguns chegam até a matar quando está na fase de larva, achando que é algum outro bicho”, diz ela.

Já a auxiliar administrativa Helena Brito fez o pedido das joaninhas para usar na horta da própria casa. Segundo ela, os insetos foram eficientes para resolver o problema dos pulgões que atacavam as hortaliças.

Além disso, ela diz que outro ponto positivo dos kits é o didatismo, que possibilita que qualquer pessoa consiga usar as joaninhas e entender como funciona o controle biológico.

“A cartilha que eles mandam é bem explicativa, mesmo para quem é leigo no assunto. Todo mundo consegue compreender como funciona o processo e também a importância da biofábrica para o equilíbrio ambiental”, diz ela.

Além da distribuição das joaninhas, o projeto também atua para um aumento da população dos insetos, doando sementes de plantas que os atraem. Alguns exemplos dessas plantas são funcho, milho, girassol e erva-doce.

“A joaninha é muito sensível ao ambiente, então quanto mais urbanizado é o ambiente, quanto menos biodiversidade ele tem, menos joaninha a gente vai ter. Antigamente as casas tinham mais quintais e mais hortas, a cidade tinha mais espaços verdes e isso foi reduzindo no processo de urbanização”, diz Dany Amaral.

Para potencializar suas ações, a biofábrica também desenvolve projetos de educação ambiental, visitando escolas e recebendo estudantes. Segundo o diretor, o objetivo é difundir a importância ambiental das joaninhas, do controle biológico e do aumento da biodiversidade na cidade.