Bloqueio de estradas era articulado em grupos bolsonaristas semanas antes da votação
Uma investigação da Agência Pública afirma que o bloqueio de estradas, que acontece em todo…
Uma investigação da Agência Pública afirma que o bloqueio de estradas, que acontece em todo o Brasil, era em grupos bolsonaristas semanas antes das eleições presidenciais acontecerem. Apesar da paralisação antidemocrática ter se concretizado somente após o resultado da votação, mensagens disparadas antes disso já convocavam os apoiadores de Bolsonaro (PL) a protestarem em caso de derrota.
“Preparem as barracas, o povo nas cidades vai para os quartéis os caminhoneiros e o agro irão parar às rodovias”, diz uma mensagem que circulou no Telegram, no dia 14 de outubro, no grupo ODB Ordem de Cristo, com 3,5 mil membros. Uma outra mensagem afirmava: “DIA 30 vamos votar e PERMANECER NAS RUAS”.
Conforme apurado, durante todo o período que antecedeu o 2º turno, chamados de paralisação de caminhoneiros circularam em grupos bolsonaristas. Como a maioria dos grupos não permite ver a quantidade de visualizações de cada postagem, a Agência Pública não conseguiu estimar quantas pessoas foram impactadas.
As mensagens mostram que os apoiadores mais extremos de Bolsonaro traçaram dois cenários principais. O primeiro deles seria realizar a paralisação nas semanas anteriores à votação, ou então, logo após a divulgação dos resultados. Eles chamavam a ideia de “contra-golpe”, mesmo sem a eleição acontecer.
“Intervenção civil é dias e dias a fio… Até que o ORDENAMENTO DO POVO SOBERANO SEJA CUMPRIDA”, defende uma mensagem compartilhada no grupo Conservadores, com 2,1 mil membros, no dia 15 de outubro.
Dois dias depois, novas mensagens de ordem também citaram os caminhoneiros: “Caminhoneiros e o agro irão parar as rodovias!!! O Lula e o STF só teme as FFAA! Selva!” Vale mencionar, atentar contra as instituições democráticas é crime e pode levar de 4 a 12 anos de reclusão, segundo a lei 14.197/2021.
O segundo cenário se referia ao pós-votação, quando o resultado das eleições presidenciais fosse confirmado. No dia 19, uma nova mensagem no grupo traçou o plano: “Se houver golpe. *Todos* precisamos fazer o contra golpe *imediatamente* após o anúncio. O povo precisa, uma parte cercar os cartórios eleitorais e sedes do TSE e outra parte ir para as portas dos quartéis e caminhoneiros e agricultores trancar os trevos de rodovias em DEDOBEDIENCIA CIVIL”.
Apoiadores citam discurso de Bolsonaro
Em discurso realizado em Pelotas, no Rio Grande do Sul, no dia 11 de outubro, Jair Bolsonaro disse que: “no próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar e vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração dos resultados. Tenho certeza que o resultado será aquele que todos nós esperamos, até porque o outro lado não consegue reunir ninguém”.
Conforme apurado, esse discurso foi uma dos mais usados em mensagens que chamaram a paralisação de caminhoneiros. Segundo os extremistas, a fala do presidente para que os eleitores permanecessem na seção após a votação seria um indicativo para as paralisações.
“Pegar a convocação que o PR fez em Pelotas-RS para o povo PERMANECER (iniciar a intervenção) e ao receber a notícia da fraude seguir todos para as portas dos quartéis. Preparem as barracas, o povo nas cidades irão para os Quartéis, os caminhoneiros e o agro irão parar às rodovias!!!”, diz um dos textos, que circulou nos grupos Ordem de Cristo, Conservadores e SCO Sociedade Civil, este último com 4,9 mil membros.
Dois dias depois do início dos atos, Bolsonaristas mantêm bloqueios em 20 estados
Às 9h de terça-feira, dia 1 de novembro, a PRF informou que haviam bloqueios ou interdições em pelo menos 20 estados, a maioria deles em Santa Catarina, com 38 pontos de bloqueios. A corporação divulgou ter desfeito 246 manifestações, sem informar se houve prisões ou multas. Reportagem da Agência Pública mostrou que agentes da PRF se posicionaram ao lado dos manifestantes que pediam golpe de Estado.
Desde a noite de segunda, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia determinado que a PRF e as polícias militares tomassem ações imediatas para desobstrução de vias. A decisão partiu de um pedido da Confederação Nacional dos Transportes e do vice-procurador geral eleitoral.
Moraes também estipulou que o diretor da PRF e aliado de Bolsonaro, Silvinei Vasques, pagaria multa de R$ 100 mil por hora e eventual afastamento do cargo caso descumprisse a determinação judicial.
*Esta reportagem usou informações escritas pelo UOL, que por sua vez, atuou em colaboração entre Agência Pública, Aos Fatos e Núcleo Jornalismo para a cobertura das eleições de 2022.