Bois são esfolados vivos em abatedouros brasileiros, diz relatório
Investigação da ONG Animal Equality mostra que abatedouros não cumprem normas de bem-estar animal
Bois e vacas recebendo chutes na cabeça e choques elétricos nas genitais, esfolados e esquartejados ainda vivos. Condições sanitárias precárias, animais sem acesso à água e exposição prolongada ao sol. É o que aponta um relatório divulgado pela ONG Animal Equality, após investigação conduzida em três frigoríficos nos estados de Minas Gerais e Pará.
Mesmo sob fiscalização dos órgãos de defesa sanitária, os locais infringem uma série de dispositivos da Portaria 365/2021, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que define regras de bem-estar animal em abatedouros no país.
Os investigadores da ONG Animal Equality entraram nos locais disfarçados, mas as imagens foram gravadas de forma legal e com consentimento de funcionários, segundo a entidade.
Em um dos casos, registrado pela investigação por meio de imagens, o boi que seria abatido recebeu sete dardos de pistola na cabeça e seguia de pé, o que demonstra um processo inadequado.
Em outros casos, os bovinos eram sangrados após o tempo limite de 60 segundos estipulado pela legislação.
Da mesma forma, a esfola e a retirada de patas eram realizadas antes do tempo mínimo de três minutos definidos pela Portaria 365 – o que indica que os animais estavam conscientes e sentindo dor durante o processo.
Outros problemas no manejo, como exposição ao sol por tempo prolongado e falta de água nas baias, também foram constatados.
Risco
Para a Animal Equality, o resultado da investigação demonstra os riscos envolvidos na aprovação do PL 1293/2021, parte do chamado pacote da “Boiadinha”, que desobriga o Estado de fiscalizar frigoríficos in loco.
“Os matadouros brasileiros precisam de mais fiscais e de uma fiscalização mais rigorosa, não o oposto”, diz o relatório.
O PL já passou pela Câmara dos Deputados e pela Comissão de Agricultura do Senado, e agora segue para votação no plenário da Casa. Se aprovado, permitirá que frigoríficos e outras empresas antes fiscalizadas pelos órgãos de defesa agropecuária possam instituir seus próprios programas de autocontrole – deixando aos órgãos de fiscalização a tarefa de analisar remotamente documentos de inspeção produzidos pelas próprias empresas.
O projeto também abre a possibilidade de subcontratação, pelos frigoríficos, de empresas privadas para a inspeção dos locais.
Hoje é tarefa dos órgãos de fiscalização agropecuária federais, estaduais e municipais fiscalizar o cumprimento de normas de bem estar animal dentro de frigoríficos e outras instalações de abate, como granjas suínas e avícolas.
Sem fiscais veterinários pagos pelo Estado nesses locais, o tratamento conferido aos animais deve piorar, argumenta Carla Lettieri, diretora executiva da Animal Equality.
“Esse projeto representa um retrocesso de décadas nas normas de bem estar animal”, argumenta. “Se um fiscal de carreira aplicar uma multa a uma empresa, ele não perde o emprego. Mas, se uma empresa subcontratada fizer uma fiscalização rigorosa, o frigorífico pode simplesmente rescindir o contrato.”
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