Bolsonarismo avança e ‘espreme’ centro no Senado e na Câmara
Com bancadas expressivas eleitas à direita e um leve aumento na esquerda, partidos de centro…
Com bancadas expressivas eleitas à direita e um leve aumento na esquerda, partidos de centro perderam cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado nas eleições. Os resultados indicam um Legislativo mais polarizado, especialmente no Senado, onde antes não havia uma base aliada de Jair Bolsonaro como se formou agora.
Na Câmara dos Deputados, os partidos de esquerda (PT, PDT, PSB, PSOL, PV, PC do B, Rede) foram de 121 para 126 deputados. Já os da base de Jair Bolsonaro (PL, PP e Republicanos) foram de 178 para 187. Os aumentos são proporcionalmente pequenos, mas fizeram com que o centro perca 14 cadeiras, o que pode impactar nas votações, se a correlação de forças se mantiver.
O PL elegeu 99 deputados. Entre eles estão bolsonaristas aguerridos, como Nikolas Ferreira (MG), campeão de votos em Minas Gerais; Carla Zambelli e Ricardo Salles, entre os mais votados de São Paulo; Bia Kicis (DF), Carlos Jordy (RJ) e o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello (RJ).
Bolsonaro não irá necessariamente manter o apoio de PP e Republicanos. Pensando na perspectiva de vitória do ex-presidente Lula, as cúpulas do União Brasil e do PP têm negociado uma fusão. A ideia é criar um “super partido” de centro que possa pressionar o Executivo na relação com o Parlamento. Se for concretizado, o novo partido terá 104 cadeiras, desfalcando o grupo partidário bolsonarista.
Os acenos desde já de deputados do PP ao União Brasil, que é de centro, indicam que, em um eventual governo Lula, a base fiel de bolsonaristas pode ser enxugada na Câmara. O patamar em que ela começa, porém, é mais alto do que antes. Em 2018, Bolsonaro conseguiu emplacar 52 deputados do PSL, seu partido na época.
— Se essa fusão de União Brasil com o PP vier, isso vai passar por um super partido. Não sei se isso vai se viabilizar. Há uma intenção manifesta do nosso presidente Arthur (Lira), (Antônio) Rueda — diz o deputado Hiran Gonçaves (PP-RR), eleito senador com apoio do presidente Jair Bolsonaro.
Antônio Rueda, vice-presidente do União Brasil, e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, já falaram abertamente sobre os planos de fusão partidária. O partido de Arthur Lira hoje é presidido pelo ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira.
Os resultados das eleições de 2022 ainda não estão completos — no Amazonas há 99,99% das urnas apuradas, por conta de um atraso na zona rural de Coari (AM) — mas já é possível estimar que o estado elegerá um deputado do PT, dois do Republicanos e um do PL.
Polarização maior no Senado
No Senado, Bolsonaro elegeu 14 aliados e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 8, ou seja, o centro ficou com 5 das 27 cadeiras disponíveis. Antes, por volta de 15 dessas vagas eram ocupadas por senadores de centro. MDB e PSDB perderam espaço, e a oposição foi de 6 para 8 das cadeiras em disputa neste ano, um pequeno aumento.
O senador centrista Tasso Jereissati (PSDB-CE), por exemplo, perdeu lugar para Camilo Santana (PT-CE). A vaga de Roberto Rocha (PTB-MA) será agora de Flávio Dino (PSB-MA). Alexandre Silveira (PSD-MG), também de centro, será substituído pelo bolsonarista Cleitinho (PSC-MG). José Serra (PSDB-SP) será trocado por Marcos Pontes (PL-SP) e Simone Tebet (MDB-MS), por Tereza Cristina (PP-MS).
O mandato de Rose de Freitas (MDB-ES), hoje ocupado pelo suplente Luiz Pastore (MDB-ES), será trocado pelo do bolsonarista Magno Malta (PL-ES). Pela primeira vez na história desde a redemocratização, o MDB não saiu das eleições com a maior bancada do Senado, outro sinal da polarização crescente no Congresso.
Houve estados em que as vagas foram “convertidas” para o outro lado do espectro. Alagoas, em que o governista Fernando Collor (PTB) era senador, elegeu Renan Filho (MDB), aliado de Lula; Pernambuco trocou Fernando Bezerra Coelho (MDB), ex-líder do governo Bolsonaro, por Tereza Leitão (PT). No Rio Grande do Norte, Jean Paul Prates (PT) será substituído pelo bolsonarista Rogério Marinho (PL).