DIPLOMACIA

Bolsonaro completa 15 dias sem reconhecer vitória de Biden nas eleições presidenciais dos EUA

Chefe do Executivo brasileiro ainda não entrou em contato com democrata

Bolsonaro completa 15 dias sem reconhecer vitória de Biden nas eleições presidenciais dos EUA

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) completa neste domingo (22) quinze dias sem reconhecer a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.

O chefe do Executivo brasileiro é aliado de Donald Trump, atual chefe da Casa Branca e derrotado no pleito deste ano, e ainda não procurou o vencedor da disputa nem comentou a vitória do partido democrata.

Biden foi declarado vencedor em 7 de novembro após projeções da imprensa americana indicarem que ele atingiu os votos necessários para ser eleito no Colégio Eleitoral — o sistema indireto que define a Presidência nos EUA.

Desde então, Biden já recebeu cumprimento de líderes mundiais, inclusive de aliados de Trump, como os premiês do Reino Unido (Boris Johnson) e de Israel (Binyamin Netanyahu), mas Bolsonaro não fez o mesmo e preferiu não desagradar o aliado.

O atual presidente americano tem afirmado que é vítima de uma fraude. Ele tenta deslegitimar o resultado das urnas e busca reverter o resultado na Justiça.

As ações judiciais visam evitar a certificação da totalização de votos de cada estado que resulta na escolha dos delegados a serem indicados pelas unidades da federação. Esses representantes são os responsáveis por escolher o novo presidente.

A tentativa do republicano, porém, não prosperou em estados como Geórgia, Michigan e Arizona, reduzindo as chances de reversão de resultado e consolidando a maioria de Biden no Colégio Eleitoral.

Desde a vitória de Biden, Trump publicou ou compartilhou mais de 400 mensagens na rede social Twitter. O mais perto que chegou de admitir a derrota foi em tom crítico ao afirmar que Biden “ganhou porque as eleições foram fraudadas”.

Enquanto Bolsonaro evita falar sobre os Estados Unidos, o vice-presidente, Hamilton Mourão, já comentou o caso. Em entrevista à Rádio Gaúcha, ele disse que, “como indivíduo” julga que a vitória de Biden está “cada vez mais irreversível”.

Bolsonaro participou neste fim de semana de reunião da cúpula do G20 e novamente evitou comentar a situação americana.

Ele usou o encontro para tentar dar uma resposta à pressão internacional sofrida pelo governo na política ambiental, dizendo que mais da metade do território brasileiro tem vegetação nativa preservada e que o país vai “continuar protegendo” seus biomas.

O chefe do Executivo defendeu um debate com dados concretos, sem demagogia, e disse sofrer ataques de nações menos sustentáveis.

O discurso de Bolsonaro foi visto como uma tentativa de antecipar o debate que deve ganhar força com a ascensão de Biden ao comando dos EUA.

Em um debate no fim de setembro, o democrata anunciou que arrecadará US$ 20 bilhões para proteger a Amazônia e disse que, se o Brasil não parar com o desmatamento na região, “vai enfrentar consequências econômicas significativas”.

No último dia 10, quando a vitória de Biden já estava sacramentada, Bolsonaro não citou nominalmente o democrata, mas o rebateu.

“Assistimos há pouco a um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo, chanceler]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona”, disse o presidente brasileiro.

Nos últimos dias, o fato de a recontagem dos votos ter confirmado a vitória de Biden na Geórgia, estado que os democratas não venciam desde 1992, consolidou ainda mais o resultado do pleito.