Bolsonaro convocou reuniões com chefes das Forças Armadas para anular eleição, diz Freire Gomes
Informações são do jornal Estadão
Em depoimento à Polícia Federal (PF), o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, afirmou que após o segundo turno das eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou reuniões no Palácio do Alvorada com os chefes das Forças Armadas, buscando anular o pleito. Segundo informações do jornal Estadão, Freire Gomes colocou Bolsonaro no centro das articulações golpistas.
Durante o depoimento, Freire Gomes mencionou que Bolsonaro apresentou ideias de utilizar institutos jurídicos como GLO (Garantia da Lei e da Ordem), estado de defesa e sítio em relação ao processo eleitoral. O general prestou depoimento em 1º de março e afirmou que Bolsonaro informou que a minuta em questão estava em estudo e que depois reportaria a evolução aos comandantes.
O convite para a reunião foi enviado pelo próprio Bolsonaro, através do então ministro da Defesa, Paulo Nogueira. Segundo Freire Gomes, o tema da reunião não foi inicialmente informado aos convidados. O encontro ocorreu na biblioteca do Palácio do Alvorada.
Freire Gomes também mencionou que o texto em questão foi lido por Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, que foi preso pela Polícia Federal na Operação Tempus Veritatis.
Outra minuta
De acordo com o depoimento de Freire Gomes, uma versão alternativa do documento foi apresentada em outra reunião, desta vez envolvendo os chefes das Forças Armadas e o ministro da Defesa. Segundo Freire Gomes, esse texto propunha a decretação do estado de defesa e a formação de uma comissão de regularidade eleitoral para investigar a “conformidade e legalidade” das eleições.
Ambos os pontos estavam incluídos na minuta encontrada na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que negou qualquer autoria do documento.
Ele esclareceu à Polícia Federal que sempre deixou claro ao então presidente Bolsonaro que o Exército não participaria da implementação dessas medidas visando reverter o processo eleitoral e que Bolsonaro não teria base jurídica para anular o resultado da eleição.
Segundo o general, o chefe da Marinha, almirante Almir Garnier, teria se colocado à disposição do ex-presidente.
A Polícia Federal também questionou Freire Gomes sobre uma carta redigida por oficiais da ativa quando simpatizantes de Bolsonaro acamparam próximos às instalações das Forças Armadas. O documento pedia ações para “manutenção da Garantia da Lei e da Ordem e da preservação dos poderes constitucionais”.
O ex-comandante considerou essa iniciativa uma tentativa de pressionar os comandantes a aderirem ao plano golpista. Ele afirmou: “Após perceberem que os comandantes não iriam apoiar qualquer ação contra a democracia, começaram a fazer ataques pessoais”.
Mensagens obtidas pela Polícia Federal revelam que o general Walter Braga Netto, ex-vice na chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022 e ex-ministro da Casa Civil, liderou uma campanha velada de pressão sobre oficiais das Forças Armadas que rejeitaram aderir ao plano golpista.
Em uma das mensagens, datada de dezembro de 2022, Braga Netto afirma que a “culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes”. Ele acrescentou: “Omissão e indecisão não são características de um combatente. Ele está se entregando. Covarde”.
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