Em entrevista a um podcast neste domingo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirma que poderá “descartar” a proposta de alterar a composição do Supremo Tribunal Federal (STF) em um eventual segundo mandato, caso os atuais integrantes da Corte “baixem a temperatura”. Parte de seus apoiadores defendem uma ampliação no número de integrantes do STF com uma alteração à Constituição. A ideia é que, com mais ministros que seriam indicados por Bolsonaro em uma eventual reeleição, a Corte poderia ter maioria de integrantes indicada por Bolsonaro e, assim, tornar mais fáceis os planos do presidente.
– Se eu for reeleito, e o Supremo baixar um pouco a temperatura, já temos duas pessoas garantidas lá [os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça]. Tem mais gente que é simpática à gente, mas já temos duas pessoas garantidas lá, que são pessoas que não dão voto com sangue nos olhos. Tem mais duas vagas para o ano que vem, talvez se descarte essa sugestão. Se não for possível descartar, você vê como é que fica – disse Bolsonaro.
– É impossível eu governar mais quatro anos com o Supremo agindo com ativismo judicial. Tenho certeza que no caso de reeleição nosso querido STF vai agir de forma diferente da que agiu até o momento. (…) Depois das eleições, vou conversar melhor com o Supremo, vamos colocar um ponto final nessa censura de um ministro apenas apaixonado por censurar todo mundo por aí – declarou, em referência ao ministro Alexandre de Moraes.
– Essa sugestão já chegou para mim [alterar a composição do Supremo]. Tem que conversar com as duas casas a tramitação de uma proposta nesse sentido. E está na cara que muita gente do Supremo vai para dentro da Câmara e do Senado contrário, porque se você aumenta o número de ministros do Supremo, você pulveriza o poder deles. Eles passam a ter menos poder e lógico que não querem isso – disse Bolsonaro.
O presidente também afirmou que, em caso de reeleição, pretende conversar com os ministros do STF.
Permanência de ministros
Bolsonaro também comentou neste domingo como seria seu ministério em caso de um eventual segundo mandato. Ao ser questionado se Paulo Guedes fica no Ministério da Economia, o candidato à reeleição disse que preservaria o ministério como está.
– Olha, no que depender de mim, todos ficam. Todos ficam – disse.
Em seguida, desferiu elogios ao atual ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio.
– O executivo do Tarcísio, que é o Marcelo, é um cara fantástico. É um cara inteligentíssimo que aprende as coisas com muita facilidade. Acho que deve ter uns quarenta anos de idade o Marcelo… Marcelo Sampaio, né? – disse.
Na mesma ocasião, o presidente foi questionado se o ex-presidente Fernando Collor seria ministro, caso se reeleja. Bolsonaro respondeu:
– Sem comentários.
Mais tarde, no fim da entrevista que durou mais de quatro horas e foi transmitida pelo Youtube, Bolsonaro retomou o assunto, após os apresentadores comentarem um post feito no Twitter pelo deputado federal André Janones, que integra a equipe de campanha de Lula.
Ao publicar um vídeo da entrevista editado, no qual Bolsonaro aparece comentando a notícia de que nomearia Collor para o ministério, Janones escreveu: “Não sei a veracidade disso, mas a princípio não me parece montagem. Recebi via Whats e está rodando muito por lá. Esperamos o pronunciamento do Presidente Bolsonaro. Caso seja verdade é grave, e exige uma resposta imediata da sociedade!”. Minutos depois, Janones voltou à rede social para dizer: “(…) Eu me comprometo a avisar TODOS meus Contatos no zap que se trata de fake News contra o Bolsonaro! Eu ainda sou Lula, mas não vale tudo pela vitória! Vamos lá desmentir galera! Lá no zap que onde se decide eleição!”.
Durante o podcast, Bolsonaro rebateu Janones e disse que seu jurídico iria ao TSE contra a campanha do adversário.
– Não existe convite ao senhor Collor de Mello para ser ministro. A gente já acionou o jurídico – afirmou Bolsonaro.
Pedido à corte
Bolsonaro também pediu ao TSE para não determinar a retirada da internet de conteúdo produzido por influenciadores que apoiam o governo. Na semana passada, a campanha de Lula acionou a Corte contra a disseminação de notícias falsas pelo Twitter.
A lista de influenciadores que entrou na mira do tribunal inclui dois filhos do presidente, Flávio e Carlos Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli, a produtora de vídeos Brasil Paralelo, entre outros.
– Peço ao nosso querido TSE que não embarque nessa porque se tirar o pessoal lá e eu nada fizer aqui é você mandar um batalhão para a guerra e no meio do caminho você tira os canhões dele. É nessa situação que eu fico aqui. Eu ia entrar na guerra e, em vez de fuzil e canhão, ia com pau e pedra. Vou perder essa guerra – disse Bolsonaro.