Bolsonaro pede para apoiadores irem a hospitais para filmar leitos
Presidente levanta dúvidas de que dados são manipulados para 'ganho político'; pedido vai na contramão de orientação de médicos devido ao risco de contágio
Presidente levanta dúvidas de que dados são manipulados para ‘ganho político’; pedido vai na contramão de orientação de médicos devido ao risco de contágio O presidente Jair Bolsonaro pediu a apoiadores que “arranjem” um jeito de entrar em hospitais públicos ou de campanha que atendam pacientes com a Covid-19 para filmarem o interior das instalações. A ideia, segundo ele, seria mostrar a real dimensão da epidemia causada pelo novo coronavírus. Mais uma vez sem provas, Bolsonaro levantou suspeitas de que os dados referentes à doença no país estariam sendo manipulados para atingir o seu governo.
— Seria bom você fazer… na ponta da linha, se tem um hospital de campanha perto de você, se tem um hospital público… arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tem feito isso, mas mais gente tem que fazer pra mostrar se os leitos estão ocupados ou não. Se os gastos são compatíveis ou não. Isso ajuda. Tudo o que chega para mim nas redes sociais a gente faz um filtro e eu encaminho para a Polícia Federal ou Abin (Agência Brasileira de Inteligência) — afirmou Bolsonaro.
No início do mês, deputados bolsonaristas chegaram a entrar no hospital de campanha do Anhembi, em São Paulo, com gritos e celulares ao punho para, supostamente, fiscalizar o funcionamento da unidade. Posteriormente, a prefeitura classificou o episódio como uma “invasão”. A administração municipal afirmou, ainda, que os deputados Coronel Telhada (PP), Leticia Aguiar (PSL) e Sargento Neri (Avante) agrediram pacientes e funcionários “verbal e moralmente”.
A declaração de Bolsonaro vai na contramão das recomendações médicas durante a epidemia. Médicos recomendam que pacientes com Covid-19 e pessoas sem sintomas não compartilhem o mesmo espaço.
A declaração foi feita em meio a críticas a governadores e prefeitos que implementaram medidas como o fechamento do comércio em estados e municípios do país como forma de enfrentar o avanço da Covid-19. Sem apresentar provas, Bolsonaro disse que vem recebendo informações sobre mortos que teriam sido classificados como vítimas da Covid-19 sem que suas famílias tivessem conhecimento sobre a infecção pela doença.
— São dezenas de casos por dia que chegam desse tipo. Não sei o que acontece. O que é que querem ganhar com isso. Tem um ganho político dos caras. Só pode ser isso. Aproveitando as pessoas que falecem pra ter um ganho político e pra culpar o governo federal. Não tem como impedir essa doença, o óbito. O que acontece na verdade é que quem contrai o vírus e tem comorbidade, a pessoa é mais fraca, a possibilidade de entrar em óbito é grande — afirmou o presidente.
Esta não é a primeira vez que Bolsonaro levanta suspeitas sobre os dados da Covid-19 no país. Em março, ele insinuou que governadores poderia estar inflando os dados de casos e mortes causadas pela doença com fins políticos.
Mais recentemente, o empresário Carlos Wizard, que chegou a ser indicado para ocupar uma secretaria no Ministério da Saúde, disse que o governo faria uma recontagem no número de mortos causados pela Covid-19 por acreditar que os dados fosse “fantasiosos e manipulados”.
Dias depois, Wizard recuou, anunciou que não ocuparia o cargo e o governo voltou atrás. Nesta semana, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse confiar nos dados enviados por estados e prefeituras.