Eleições 2022

Bolsonaro se reúne com comandantes das Forças Armadas após Moraes negar ação contra urnas

Pouco depois da reunião, foi anunciada presença do presidente em evento militar no Rio de Janeiro no próximo sábado

Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu os comandantes das Forças Armadas nesta quinta-feira (24) no Palácio da Alvorada, um dia depois de o chefe do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Alexandre de Moraes, rejeitar a ação do partido do mandatário que contestava o resultado da eleição.

General da reserva e candidato a vice no pleito deste ano, Braga Netto também esteve na reunião.

O encontro ocorre no momento em que bolsonaristas cobram as Forças Armadas para que promovam um golpe que impeça a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bolsonaro teve uma inédita derrota para um presidente que disputava a reeleição no país.

Esses atos antidemocráticos em frente a quartéis e em rodovias do país têm ocorrido sob uma escalada de violência que inclui ações lideradas por homens encapuzados e armados, uso de bombas caseiras, saques e depredação de caminhões.

Também há registros de ataques a agentes da Polícia Rodoviária Federal e a caminhoneiros, incluindo um que foi atingido por pedradas ao tentar furar um dos bloqueios.

Nesta quinta, pouco depois de os militares deixarem o palácio, a assessoria de Bolsonaro anunciou que está prevista a participação dele em um evento na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) no próximo sábado (26), em Resende (RJ).

Os comandantes do Exército, Marco Freire Gomes, da Marinha, Almir Garnier, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista, participaram do encontro no Alvorada.

Na agenda oficial do presidente, constava apenas uma reunião com o subchefe de Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência, Renato França, no Palácio do Planalto.

Um dia antes, na quarta (23), Moraes rejeitou o pedido do PL para que parte dos votos fossem anulados e condenou a coligação de Bolsonaro, formada por PL, PP e Republicanos, ao pagamento de multa no valor de R$ 22.991.544,60 por litigância de má-fé.

Ele também determinou o bloqueio dos fundos partidários das três legendas até o pagamento da penalidade imposta.

Além disso, por entender que na iniciativa encampada pelo PL houve “finalidade de tumultuar o próprio regime democrático brasileiro”, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, será alvo de investigações no STF (Supremo Tribunal Federal), no inquérito das milícias digitais, e no TSE.

O bloqueio do fundo partidário de PL, PP e Republicanos aprofundou a divisão entre os partidos que apoiaram Bolsonaro.

O PP e o Republicanos preparam um recurso ao TSE. Eles alegam não ter nenhuma ligação com os movimentos de contestação das urnas e afirmam reconhecer o resultado da eleição. Dessa forma, os partidos deixam Valdemar e a legenda do presidente isolados na ação golpista patrocinada por Bolsonaro.

De acordo com políticos ouvidos pela Folha, integrantes dos outros partidos da coligação tentaram fazer Valdemar desistir da ideia de questionar o resultado das urnas, citando que o presidente do PL corria risco de se tornar alvo de Moraes.

Apesar da tentativa de se distanciar da investida de Valdemar, dirigentes da coligação também criticaram a decisão do presidente do TSE. Eles afirmam que a multa imposta pode inflamar bolsonaristas e dar motivo para novas ações contra o resultado da eleição.

Os partidos ainda discutem como vão recorrer da determinação do ministro. Uma das possibilidades é levar uma representação ao TSE para que a coligação não seja considerada de maneira única na ação apresentada pelo PL.

Após a reunião com os militares, Bolsonaro foi ao Palácio do Planalto. Na quarta, ele também havia ido à sede de trabalho presidencial, após quase três semanas de reclusão.

O mandatário não ia ao local desde o dia 3 de novembro. Na quarta, Bolsonaro não ficou muito tempo no palácio. O presidente chegou por volta das 9h e ficou pouco mais de 5 horas, quando voltou para o Alvorada.

No próximo sábado, segundo o anúncio feito pelo governo, também há previsão da ida de “algumas autoridades dos Poderes Legislativo e Judiciário, oficiais generais da Marinha, do Exército e da Aeronáutica” para cerimônia de formatura de aspirantes na Aman.

Como mostrou a Folha, a equipe de Lula tem conversado com o ex-comandante do Exército Edson Pujol e o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva durante a transição.

De janeiro de 2019 a março de 2021, Pujol e Azevedo estiveram no governo Bolsonaro. Em uma crise militar sem precedentes desde a década de 1970, o mandatário demitiu o então ministro da Defesa. Pujol e os comandantes da Marinha e da Aeronáutica pediram demissão em seguida.

Bolsonaro queria maior subordinação das Forças Armadas ao seu governo, e a Defesa, sob Azevedo, buscou manter algum distanciamento do Planalto.

Segundo interlocutores do agora ex-ministro, esse é o motivo de ele ter enfatizado, em sua nota de saída, que considera ter preservado durante sua gestão as Forças Armadas como instituições de Estado.

De acordo com integrantes do governo de transição, há entendimento de que eles foram importantes para manter a institucionalidade em um momento de crise e de tentativa de politização dos militares.

Desde o início do governo Bolsonaro promove uma campanha de desinformação e de questionamentos —sempre sem provas— contra o sistema eleitoral brasileiro.

As Forças Armadas são peça importante na estratégia bolsonarista de espalhar suspeitas sobre as urnas. O presidente usou a participação de militares na comissão de fiscalização do TSE para difundir teorias da conspiração e para argumentar que o sistema não seria confiável.