ELEIÇÕES

Bolsonaro tem ‘plano B’ para perda de inserções na TV: o discurso de que é vítima da Justiça

Se decisões não forem revertidas, Lula terá 395 inserções na reta final do segundo turno, contra 55 do candidato à reeleição

Bolsonaro tem ‘plano B’ para perda de inserções na TV: o discurso de que é vítima da Justiça (Foto: Reprodução - TV Globo)

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) já tem um “plano B” à decisão da Justiça Eleitoral de repassar cerca de metade de inserções da TV na reta final do segundo turno como direito de resposta a Luiz Inácio Lula da Silva (PT): o discurso de que o presidente está sendo vítima de uma perseguição da Justiça Eleitoral.

A estratégia, segundo integrantes da campanha, é usar a militância digital justamente para apontar um suposto favorecimento a Lula nas decisões e, consequentemente, explorar a vitimização de Bolsonaro. A avaliação do QG bolsonarista é que entre eleitores indecisos há também a percepção de que há um exagero do Judiciário.

O principal objetivo da campanha, entretanto, ainda é tentar reverter as decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que concederam direitos de respostas em número maior a Lula, embora tenha decidido também favorável a Bolsonaro. A principal decisão favorável ao petista diz respeito às inserções da campanha de Bolsonaro que chamaram Lula de “ladrão” e “corrupto”.

Cada campanha teria direito a 225 inserções de 30 segundos na TV nos nove dias restantes da propaganda eleitoral, que acaba dia 28. Com as decisões, Bolsonaro perde 184 inserções e ganhou 14 (por causa da propaganda que associava o presidente ao canibalismo). Assim, ele teria 55 inserções na reta final da campanha, ou uma média de 6,1 por dia. Já Lula, com estes resultados, terá 395 inserções, ou uma média de 43,9 por dia, até o fim da propaganda na TV.

Mas, caso não tenha sucesso jurídico para reverter isso, a campanha de Bolsonaro vai lembrar que, além das perdas das inserções, há outras questões. A proposta seria elencar outras decisões do TSE, como a que impediu o presidente de usar imagens dos atos de 7 de Setembro nas propagandas de televisão e também a proibição de fazer transmissões ao vivo de dentro do Palácio da Alvorada, onde é a residencial oficial.

Parte da equipe de Bolsonaro acredita que a perda do tempo pode acabar tendo um efeito reverso para Lula se a campanha conseguir emplacar o discurso de que há um favorecimento ao petista nas decisões. Neste aspecto, caberá à militância e não à propaganda oficial explorar a narrativa de que tentam fazer “Lula vencer no tapetão.”

Para também tentar compensar o prejuízo da perda das inserções, a campanha de Bolsonaro deve aumentar a atuação nas plataformas digitais e tentar ocupar espaço na imprensa.

Decisão citou abuso

Na decisão favorável a Lula, em uma ação iniciada pela campanha petista contra peças em que o adversário o chamou de “ladrão” e “corrupto”, que também foram suspensas pelo TSE, o ministro Sanseverino afirmou que a propaganda atribuía “abusivamente” esses termos ao candidato adversário, o que viola o princípio de presunção de inocência e se caracteriza como ofensa.

“É fato notório a existência de decisões condenatórias e da prisão do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, assim como é de conhecimento geral da população que as referidas condenações foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal”, afirmou Sanseverino.

Ainda segundo o ministro, o conteúdo, tem “atribuições ofensivas que desborda da mera crítica política” e que “caracteriza, ainda que em tese, os crimes de injuria ou difamação, o que aciona a válvula justificadora do exercício legítimo do direito de resposta”.

Por isso, o magistrado determinou que a campanha do presidente Jair Bolsonaro à reeleição deverá veicular 20 inserções de propaganda no rádio e na TV, de 30 segundos cada.

Também nesta quarta-feira, a ministra Maria Claudia Bucchianeri aprovou, em conjunto, seis pedidos de resposta feitos pela campanha de Lula. As respostas também servirão para rebater acusações de ser “ladrão”, “corrupto” e de envolvimento com o crime. Neste caso, a campanha de Bolsonaro deverá veicular direito a resposta em 164 inserções na TV.

Nas decisões, a magistrada afirmou que há um entendimento consolidado no TSE de “atuação profilática” contra qualquer discurso desinformativo ou que pode ofender a honra dos candidatos.

Por meio de decisões também proferidas nesta quarta-feira, a campanha do presidente terá direito a 14 inserções, o mesmo número de propagandas veiculadas pelo PT com conteúdo vedado, de 30 segundos cada na TV durante o tempo destinado a Lula. No caso, Bolsonaro poderá rebater peças divulgadas pelos petistas que o associavam ao canibalismo.