CRISE

Bolsonaro volta a atacar STF e fala em limites para evitar crise entre Poderes

Presidente decide subir o tom depois de Alexandre de Moraes determinar abertura de nova investigação contra ele

Bolsonaro volta a atacar STF e fala em limites para evitar crise entre Poderes - (Foto: Fábio Pozzebon/ABr)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou nesta quinta-feira (9) a atacar o STF (Supremo Tribunal Federal), defendeu aliados presos por determinação da corte e disse que, se os Poderes não se impuserem limites, poderá ocorrer uma nova crise institucional no Brasil.

Um dia antes, o chefe do Executivo já havia subido o tom contra o STF, quando criticou também determinações do ministro Alexandre de Moraes, ainda que não mencionasse ele diretamente.

Na semana passada, Moraes determinou a abertura de uma nova investigação contra Bolsonaro na corte, desta vez para apurar a conduta do presidente por ter feito uma falsa relação, durante uma live, entre a Aids e a vacinação contra a Covid-19.

“Ou todos nós impomos limites para nós mesmos ou pode-se ter crise no Brasil. Apesar de a grande mídia me acusar de provocar, agredir, não tem agressão minha. Tô tomando sete tiros de 62 [calibre], quando dou um [tiro] de 62, tô provocando”, disse o presidente, em tom exaltado.

A frase se deu no momento em que o mandatário fazia menção em seu discurso ao blogueiro bolsonarista Allan dos Santos.

Há um pedido de extradição feito por Moraes, no inquérito que investiga milícias digitais, mas a delegada do caso alega risco de interferência do Ministério da Justiça, como mostrou o Painel. “Estamos assistindo a atos arbitrários pelo Brasil com constância. Isso não é crítica, ofensa a um Poder, isso é constatação”, disse o presidente durante evento Palácio do Planalto.

“Tá escrito ali [no acordo de extradição] o que você pode pedir de extradição ou concedê-la. Aqui [no Brasil] se acha qualquer motivo, ‘me chamou de feio, narigudo, barrigudo, posso agora pedir a extradição dessa pessoa’. Não é assim que funciona.”

No final de outubro, Moraes ordenou a prisão do dono do site Terça Livre. Como ele mora nos Estados Unidos, para onde se mudou após entrar na mira de inquéritos que investigam atos antidemocráticos e fake news na corte, o ministro teve de acionar o Ministério da Justiça para solicitar sua extradição.

O pedido de prisão se deu porque o blogueiro driblou decisão de Moraes de suspender as contas de seu site devido ao inquérito das milícias digitais. Ele continuou publicando programas e artigos.

Bolsonaro também mencionou outro alvo dos inquéritos de Moraes no Supremo, Daniel Silveira (PSL-RJ), agora solto, por determinação do ministro, desde novembro. O deputado acompanhava o discurso da plateia.

“Doeu meu coração ver um colega preso, doeu. Mas o que fazer? Será que queriam que eu tomasse medidas extremadas? Como será que ficaria o país perante o mundo? Possíveis barreiras comerciais, problemas internos”, disse.

Aliados do presidente se queixaram desde que Daniel Silveira fora preso, porque ele evitava sair em sua defesa publicamente. Mais recentemente, passou a citá-lo quando critica prisões de aliados. “Temos aqui um parlamentar que ficou sete meses preso. Se coloque no lugar dessa pessoa. Muitas pessoas falam para eu não falar nada…(…)”, disse.

Bolsonaro criticou ainda a cassação do deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR) pelo TSE (Tribunal Federal Eleitoral), que, segundo ele, disse a “verdade”.

A decisão da corte eleitoral, inédita até aqui, ocorreu devido à publicação de vídeo do então candidato no dia das eleições em 2018, em que ele afirmava que as urnas eletrônicas haviam sido fraudadas para impedir votação em Bolsonaro.

Mesmo que tenha sido eleito pelo sistema de urnas eletrônicas, o presidente criticava o modelo e alegava.

Quando o Congresso derrubou a possibilidade de alterar o sistema e o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, até então alvo frequente do chefe do Executivo, decidiu incluir militares para fiscalizar as eleições com civis, o presidente vinha modulando discurso.

Recentemente, a apoiadores, Bolsonaro disse ter certeza que não haverá fraude no ano que vem. O centrão, que dá sustentação ao seu governo, não concorda com o ataque de bolsonaristas ao sistema eleitoral.

No discurso desta quinta-feira, contudo, o presidente recuperou o tom de radicalização de meses atrás.

A subida de tom agora de Bolsonaro contra o STF ocorre após dois meses de certa calmaria em seus discursos e entrevistas.

A trégua, a partir de uma intermediação feita pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), teve início logo após o 7 de Setembro, quando, após atacar o STF com ameaças golpistas, Bolsonaro divulgou uma nota afirmava que não teve “nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes” e atribui palavras “contudentes” anteriores ao “calor do momento”.

Bolsonaro havia passado os dois meses anteriores com seguidos ataques ao STF e xingamentos a alguns de seus ministros como estratégia para convocar seus apoiadores para os atos do 7 de Setembro, quando repetiu as agressões e fez uma série de ameaças à corte e a seus integrantes.

Os principais alvos de Bolsonaro sempre foram os ministros Moraes e Luís Roberto Barroso. No 7 de Setembro, porém, buscou também emparedar o presidente do STF, ministro Luiz Fux.

Nessas falas, Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade que podem levar à abertura de processos de impeachment, segundo especialistas ouvidos pela Folha.

Além dos crimes de responsabilidade, que possuem caráter político e jurídico, o presidente pode ter cometido também crimes comuns, ilícitos eleitorais e ato de improbidade administrativa, na avaliação de parte dos entrevistados.

A crise institucional, patrocinada por Bolsonaro, teve início quando o presidente disse que as eleições de 2022 somente seriam realizadas com a implementação do sistema do voto impresso —essa proposta já ter sido derrubada pelo Congresso.