Boné do Lula ‘CPX’ vira febre e empresa diz que ‘nem dorme’ para atender pedidos
Sócia de gráfica familiar na zona norte do Rio precisou contratar mais funcionários e recebe pedidos até do exterior
Após o ex-presidente Lula usar o boné com o bordado “CPX” em comício no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, Vitória Gonçalves, 24, sócia da gráfica que produziu o acessório viu as vendas dispararem. A Junior Bordados, pequena empresa familiar que tinha apenas três funcionários, precisou de mais cinco contratações de emergência para dar conta das encomendas de todo o Brasil e para Estados Unidos, Paris e Canadá.
Localizada na zona norte do Rio, assim como o Alemão, a empresa funciona na casa de Vitória e de seu marido, também sócio, Marcelo Dias, 27. Os dois moram no bairro de Irajá e têm o negócio há pouco mais de seis anos para sustentar a família. A produção do boné “CPX” começou há dois anos, mas a venda por mês era baixa. A sigla é abreviação da palavra “complexo”, nome dado a conjunto de favelas.
“Nós costumávamos vender para o pessoal do ‘baile das antigas’, que reúne pessoas que curtem músicas do passado e que têm orgulho da comunidade. Porém, com a pandemia, as pessoas pararam de pedir”, afirma Vitória. Foi por causa da pandemia também que uma loja da empresa localizada na Rocinha teve que ser fechada por questões financeiras.
Os bonés são vendidos a R$ 45 com lucro de 50% e há hoje cerca de 200 encomendas, sem contar as 630 mensagens no WhatsApp da empresa referentes à compra de produtos. “De sexta (14) para sábado (15) não dormimos”, disse Vitória, que recebeu uma encomenda de 200 bonés do ativista e fundador do Voz das Comunidades, Rene Silva, 28.
A gráfica começou com uma máquina pequena e agora conta com sete equipamentos. Segundo Vitória, os pedidos vêm de todas as regiões do Brasil e, depois do Sudeste, o Sul é o que mais faz pedidos.
Grande responsável pelo sucesso do boné, Lula recebeu o presente das mãos de Camila Moradia, 37, umas das lideranças do Movimento por Moradia no Complexo do Alemão e coordenadora da organização comunitária Mulheres em Ação no Alemão.
Ela conta que, na noite anterior (11) ao comício, o grupo responsável pela organização queria presentear o ex-presidente com algo significativo da região e um dos integrantes, Hector Santos, morador do Alemão, sugeriu entregar o próprio boné do “CPX”. Segundo ela, imediatamente após a entrega, as pessoas começaram a gritar “Complexo! Complexo!”, pois sabiam do que se tratava.
“Essa questão do CPX é muito importante para a gente, ainda mais em um boné, que é algo muito representativo nas favelas e periferias. O CPX nos representa.”
A sigla gerou repercussão após postagens bolsonaristas a associarem ao tráfico. Nas redes sociais, Rene Silva fez uma série de postagens explicando o significado de CPX. À Folha ele afirmou que, mesmo com as fake news de redes sociais bolsonaristas, foi possível reverter toda a história e fazer com que a repercussão fosse positiva para a gráfica Junior Bordados.
O ativista conta que o ex-presidente Lula ligou para ele neste sábado (15) e falou sobre as vendas. “Ele me disse ‘E esse boné aí? Está vendendo feito água, estou sabendo'”.
Neste sábado (15), o presidente Bolsonaro e candidato à reeleição voltou a utilizar a expressão de forma distorcida, também para atacar o adversário Lula. Em comício em Teresina (PI), ele afirmou que o ex-presidente não fez nada para o povo quando tinha governado e que tinha olhado apenas para seus amigos, “seus cupinchas, seus CPX”.
Pelas redes sociais, a gráfica Junior Bordados, que apoia a candidatura de Lula, tem recebido mensagens de bolsonaristas criticando negativamente a venda dos bonés, associados agora ao ex-presidente. Segundo a empresa, as mensagens dizem que irão se arrepender das vendas, que é errado e que irão falir.
Vitória não relata sofrer nenhuma ameaça dentro e fora das redes, mas teme perder contratos com empresas para bordar uniformes por causa do apoio ao petista quando a “febre” dos bonés passar.