A medida é unilateral, sem previsão de reciprocidade como é habitual nesses casos, e valerá apenas para a vinda de cidadãos destes quatro países. A mudança já havia sido definida por um grupo de trabalho temático sobre turismo durante a transição governamental, entre o início de novembro e o fim de dezembro do ano passado. Os mesmos países escolhidos pelo governo Bolsonaro já haviam sido isentos da necessidade de visto para a Olimpíada Rio-2016, temporariamente.
Um documento produzido pelo gabinete do chanceler Ernesto Araújo contendo propostas de medidas para os 100 primeiros dias de governo apontava que Estados Unidos e Canadá deveriam ter isenção de vistos por emitirem “grande volume de turistas”.
A reportagem do GLOBO ouviu de um integrante do Ministério do Turismo que um dos motivos para a decisão foi o diagnóstico de que a indústria hoteleira do país está ociosa. Em janeiro, o ministro do Turismo disse ao GLOBO que a medida poderia atrair mais visitantes ao Brasil no curto prazo.
“São países com risco imigratório baixo, ótimos em turistas, bons emissores de gastos e que não têm problemas consulares. Nossa expectativa é potencializar o turismo e, consequentemente, a geração de emprego e renda no Brasil” afirmou o ministro na ocasião.
Na semana passada, em entrevista à Rádio Gaúcha, o chanceler Araújo disse que governo se preparava para negociar com os Estados Unidos o fim da exigência de vistos para cidadãos brasileiros que visitam para aquele país. A medida seria uma contrapartida à decisão unilateral tomada pelo Brasil de liberar o ingresso de americanos, canadenses, australianos e japoneses no Brasil.
“No momento, queremos fazer esse caminho de lá para cá, em benefício de nosso mercado de turismo. A isenção de visto para esses quatro países pode gerar uma receita adicional de vários bilhões de reais” afirmou Araújo.
Ele disse que, além da isenção de visto, a ideia é conversar com autoridades americanas sobre o tratamento dado a brasileiros que entram nos EUA. Há vários casos em que, mesmo com a documentação complemente regular, o cidadão é mandado de volta para o Brasil.
“Vamos trabalhar para que isso diminua ao máximo. Vamos manter um diálogo consular, para que não haja discriminação e desrespeito. Os turistas brasileiros estão entre os que mais gastam nos EUA. Tenho certeza que o atual clima político [de aproximação entre os dois presidentes, Bolsonaro e Donald Trump] vai facilitar esse tipo de ação” destacou.No último sábado, porém, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que desde a semana passada preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara e acompanha o pai na visita aos EUA, causou controvérsia aoafirmar que os brasileiros que vivem irregularmente no exterior são “uma vergonha nossa”.
“Quantos americanos vão vir morar ilegalmente no Brasil, aproveitar essa brecha para entrar aqui como turista e passar a viver ilegalmente?” disse o deputado. “Agora vamos fazer a pergunta contrária: se os EUA permitirem que o brasileiro entre lá sem visto, quantos brasileiros vão para os Estados Unidos se passando por turistas e vão passar a viver ilegalmente aqui?” concluiu.