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Brasil está no começo do surto do coronavírus, diz estudo

Relatório foi publicado pelo Imperial College, instituição britânica de referência em estudos de epidemiologia

Caixão sendo colocado em carro de funerária.

Um estudo publicado nesta sexta-feira pelo Imperial College, de Londres, instituição de referência em medicina, aponta que o surto do novo coronavírus no Brasil apenas começou e, embora as medidas de distanciamento tenham diminuído a sua disseminação, como aconteceu em países europeus e asiáticos, a situação irá piorar caso não sejam adotadas medidas mais rígidas de distanciamento social.

“Em nenhum estado do Brasil nossos resultados indicam que a imunidade de rebanho está próxima de ser atingida, sublinhando o estágio inicial da epidemia no Brasil atualmente, e a possibilidade da situação piorar a não ser que outras medidas de controle sejam adotadas”, afirma o estudo.

As conclusões estão presentes em um relatório específico produzido pelo Brasil e assinado por 59 especialistas da universidade britânica. Segundo o documento, a doença ainda está fora de controle no Brasil. Na última semana, ao passo que o presidente Jair Bolsonaro continua pressionando pela flexibilização das medidas de controle, governadores e prefeitos já começam a estudar medidas mais duras de distanciamento social.

No início da epidemia, a taxa de reprodução da doença estava entre 3 e 4. Em outras palavras, em média, cada pessoa infectava outras três ou quatro. Graças a medidas de distanciamento social, como a quarentena, esse número diminuiu. Entretanto, no Brasil, esse número ainda está acima de 1. Em países europeus, já é menor do que 1.

“Uma taxa de reprodução acima de 1 significa que a epidemia ainda não está controlada e irá continuar a crescer”, afirmam os cientistas.

Cinco estados concentram 80% dos casos

O relatório ainda aponta que a doença ainda está em seus estágios iniciais no Brasil, visto que a incidência da Covid-19 em cada estado é muito diferente. Apenas cinco dos 27 unidades da federação respondem por 81% dos casso: São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Amazonas.

Utilizando um modelo matemático, os cientistas calculam que nesses estados a porcentagem da população infectada varia entre 3,3% em São Paulo, até 10,6% no Amazonas. Em todos os outros estados, menos de 2,3% da população já teria sido infectada.

Os especialistas afirmam que as medidas de distanciamento social funcionaram no Brasil, mas a diminuição do movimento das pessoas não é o mesmo encontrado em outros centros da doença. Um exemplo é a região da Lombardia, na Itália, onde se concentraram a maioria dos casos no país.

Após a introdução da política de ‘lockdown’, os padrões de mobilidade diminuiu 75% nas proximidades de mercados e farmácias. No Brasil, por outro lado, essa redução foi de 21% em São Paulo. Na Lombardia, a taxa de reprodução da doença caiu para 0,58. Em São Paulo, a taxa de reprodução caiu para 1,46 – número que não é o suficiente para evitar o crescimento da Covid-19.

“De forma geral, enquanto nosso estudo sugere que as medidas implementadas até agora tiveram um impacto na diminuição da transmissão da doença, ele também destaca sua insuficiência para o controle da transmissão da doença e a necessidade de adoção de mais medidas de limitação de contato, indo além das que foram colocadas em vigor, para a reduçaõ da taxa de reprodução da doença no Brasil para menos que 1”, afirmam os cientistas.