Brasil precisa aplicar 204 mi de doses e pode atingir cobertura vacinal só em 2022
Apenas 14,9% da população adulta recebeu a segunda dose. Ideal é ter 90% da população adulta imunizada
O Brasil ainda precisa aplicar cerca de 204 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 para atingir a desejável cobertura de 90% da população acima de 18 anos —uma meta segura para controlar a epidemia da Covid-19. Apesar do novo calendário acelerado de vacinação, na velocidade atual a cobertura vacinal completa desta população pode ser alcançada apenas em meados de 2022.
Os dados e as conclusões são de um estudo feito por professores da USP, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com base no banco de dados oficial do Ministério da Saúde.
O país tem hoje 160 milhões de cidadãos brasileiros com mais de 18 anos e que são elegíveis para a vacinação.
O caminho para se chegar ao percentual seguro de 90% de imunizados (ou 144 milhões de pessoas) ainda é longo: até a quinta (17), 60 milhões, ou 37,5% da população adulta, já tinham recebido pelo menos a primeira dose da vacina.
Destes, apenas 24 milhões, ou 14,9% da população adulta, receberam também a segunda dose.
No país há hoje, portanto, 62,5% de brasileiros, ou 100 milhões de pessoas, que ainda não receberam nem sequer uma dose do imunizante. E 85,1% que ainda não tomaram a segunda dose e por isso não estão completamente imunizados.
Os professores calculam que, para que a imunização coletiva seja atingida ainda neste ano, será necessário aplicar mais de um milhão de doses diárias de vacinas até dezembro.
A meta é considerada factível por eles, “considerando o histórico de sucessos de campanhas de vacinação do SUS”. Mas não será alcançada “se mantidas as médias abaixo de 700 mil doses diárias que vêm sendo observadas”, diz o professor Guilherme Loureiro Werneck, da UERJ, um dos coordenadores do trabalho, que é assinado também por Ligia Bahia e Jéssica Pronestino de Lima Moreira, da UFRJ, e Mário Scheffer, da USP.
A vacinação dá sinais de aceleração.
Na quinta (17), foram aplicadas mais de 2,2 milhões de doses no país, a maior marca até o momento –na sexta (18), no entanto, a quantidade de vacinas aplicadas voltou a cair.
Segundo o estudo, “a velocidade no aumento da cobertura vacinal ainda é insuficiente” para que se chegue à imunidade coletiva da população brasileira.
“Houve, na última semana, variação positiva discreta no crescimento das coberturas de primeira dose em relação ao observado nas semanas anteriores”, afirma o texto. E a velocidade no aumento da cobertura com segunda dose diminuiu nas últimas seis semanas, “mantendo-se estável desde então”.
Um dos grandes desafios apontados é a aplicação da segunda dose: 12% dos que já deveriam ter recebido o reforço ainda não retornaram aos postos de saúde para completar a imunização.
Não foram vacinados ainda com duas doses 21% dos idosos com mais de 80 anos e 20% dos idosos de 70 a 79 anos.
Outras faixas etárias ainda aguardam o período de três meses entre a primeira e a segunda dose para completar a imunização. Diante disso, 69% dos que têm entre 60 e 69 anos tomaram até agora apenas a primeira dose, percentual que cai para 5% entre as pessoas de 50 a 59 anos de idade.
No começo do mês, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que todos os brasileiros estarão vacinados. O governador de São Paulo, João Doria, diz que completará a cobertura vacinal em outubro, com ao menos a primeira dose. E outros gestores fizeram anúncios parecidos.
Para que as promessas sejam cumpridas, no entanto, o país precisará superar o gargalo da entrega de vacinas ou de insumos para produzi-las. O Brasil não tem autonomia e depende de laboratórios internacionais, que nem sempre cumprem os prazos acordados.
“A oferta de vacinas é o limite estrutural para o alcance, em tempo oportuno, de altas coberturas vacinais imprescindíveis para que seja alcançado o benefício coletivo máximo da vacinação”, afirmam os professores universitários em seu trabalho.
Apesar de o Ministério da Saúde ter anunciado que o país já comprou 662 milhões de doses de vacinas, o calendário de entrega vem sendo sempre alterado, frustrando as expectativas. E há dúvidas na própria equipe do ministro Marcelo Queiroga sobre quando e quantas doses serão efetivamente entregues até dezembro.
O estudo relembra as intempéries enfrentadas pelo Ministério da Saúde.
“Para junho de 2021, a previsão divulgada pelo Ministério da Saúde, de 52,2 milhões, foi alterada para 43,8 milhões. Constava, oficialmente, em 16 de junho, a projeção da entrega de 37.917.860 doses”, diz o texto.
O número de doses projetado para junho representa um acréscimo quatro milhões de doses em relação ao mês de maio. Se extrapolado para os próximos meses, esse aporte adicional resultaria em um patamar baixo de imunização da população adulta contra a Covid-19″, segue o texto.
“Em julho, conforme a projeção oficial divulgada, a quantidade de doses permanecerá no mesmo nível dos meses de maio e junho. O governo anuncia uma mudança substancial na disponibilidade de vacinas entre agosto e setembro, mediante a entrega de 140,5 milhões de doses. Para o último trimestre do ano se prevê a oferta de 290 milhões de doses. Somadas as quantidades projetadas com as já distribuídas, as doses seriam mais que suficientes para a vacinação completa da população adulta. Caso as projeções da oferta de vacinas até setembro se concretizem, metas de cobertura de mais de 90% da população imunizada com duas doses poderão, em tese, ser alcançadas até 31 de dezembro de 2021”, diz ainda o estudo.
Para que isso ocorra, no entanto, será necessário resgatar “as pessoas não vacinadas (que não receberam ainda nenhuma dose) e aquelas pessoas que só receberam a primeira dose precisam completar a imunização com a segunda dose”.
Contudo, finaliza o texto, “as expectativas de acelerar a vacinação a partir de agosto/setembro se concentram em torno do cumprimento dos prazos e andamento das negociações para entrega de imunizantes”.