Brasil tem 207,8 milhões de habitantes, indica prévia do Censo do IBGE
Número é menor do que os 213,3 milhões de estimativa de 2021; segundo órgão, diferença é explicada pela realização do Censo
A população brasileira foi calculada em 207,8 milhões de habitantes, indicou uma prévia do Censo Demográfico 2022 publicada nesta quarta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O instituto fez a divulgação devido à necessidade de encaminhar dados populacionais para o TCU (Tribunal de Contas da União).
O repasse das estatísticas é necessário para os cálculos do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), fonte de recursos das prefeituras.
O IBGE entrega os números anualmente para o TCU. Nos anos de Censo, são enviados os dados do próprio recenseamento.
Mas, como a coleta de 2022 só será finalizada em 2023, o instituto fez adaptações na metodologia, utilizando projeções para complementar os resultados apurados nos domicílios até 25 de dezembro.
“A divulgação tem como objetivo cumprir a lei que determina ao instituto fornecer, anualmente, o cálculo da população de cada um dos 5.570 municípios do país para o Tribunal de Contas da União (TCU)”, afirmou o órgão de pesquisas.
“Após análises, a equipe do IBGE concluiu que o melhor modelo é o que utiliza os dados do Censo 2022 nos municípios onde a coleta já havia terminado e uma combinação de dados coletados e estimativas para os demais municípios”, acrescentou.
Conforme nota técnica do instituto, 4.410 municípios brasileiros foram considerados como coletados no Censo. Nesses casos, a população considerada foi aquela observada na pesquisa concluída.
Os demais 1.160 municípios foram considerados não totalmente coletados. Ou seja, com a coleta ainda não finalizada.
Nesses locais, o número da população total foi calculado com a soma da população observada nos setores da pesquisa e da população estimada nos setores não finalizados.
A divisão do FPM é feita de acordo com o número de habitantes das cidades, que são divididas em faixas.
POPULAÇÃO ABAIXO DA ESTIMATIVA
Nos anos sem Censo, o IBGE compartilha as chamadas estimativas populacionais com o TCU. Essas projeções seguem um modelo de tendência a partir dos dados do último Censo concluído –neste caso, seria o de 2010.
Recorrer a essa metodologia era uma das alternativas estudadas pelo instituto em 2022, mas acabou rejeitada. A nova edição do Censo deveria ser realizada em 2020, mas foi adiada duas vezes, até este ano.
Conforme as estimativas populacionais, a população brasileira havia sido de 213,3 milhões em 2021, ou seja, maior do que a trazida pela prévia do Censo de 2022.
“É muito comum essa diferenciação entre estimativa e Censo. Em 1980, por exemplo, a gente tinha um Maranhão a menos se comparado com a estimativa”, disse o diretor de pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, em entrevista nesta quarta.
“Isso tem a ver com problemas que podem ter ocorrido em Censos anteriores, pode estar relacionado com não ter sido feita uma contagem no meio da década. Se você tiver problema em um dos Censos, pode se arrastar”, acrescentou.
Azeredo disse estar “muito seguro” em relação às informações divulgadas nesta quarta. Ele lembrou que uma nova estimativa populacional estaria 12 anos afastada do último Censo, sem nenhuma recontagem ao longo da década.
O número de 207,8 milhões pode passar por ajustes até o final da contagem dos brasileiros.
“É um dado bem mais apurado do que a estimativa, reflete muito melhor a realidade. Está muitíssimo próximo do dado definitivo do Censo”, afirmou Claudio Stenner, diretor de geociências do IBGE.
ATRASOS NA PESQUISA
As entrevistas do levantamento começaram em 1º de agosto. Inicialmente, o instituto planejava o término da coleta para outubro, mas o prazo foi estendido para janeiro do próximo ano.
Isso significa que a coleta levará pelo menos seis meses para ser concluída, o dobro da previsão inicial (três meses).
O órgão projeta o rescaldo da operação, com checagens residuais, para fevereiro. O plano é divulgar novos dados do Censo a partir de março.
O atraso da pesquisa traz risco de judicialização. Como os valores do FPM são alvos de disputa, seja por municípios que têm o coeficiente rebaixado, ou por aqueles que querem ampliar seus recursos, há expectativa de que a metodologia ou a demora do levantamento possa servir para questionamentos.
Segundo Azeredo, os locais com a coleta mais atrasada são grandes centros urbanos, incluindo capitais como São Paulo.
“Os municípios que estão menos avançados são os maiores, capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Em tese, [o novo modelo] não implicaria muito porque [as grandes cidades] não estão naquela relação dos municípios abaixo de 170 mil habitantes, que vão ganhar ou perder na escala do FPM”, disse o diretor em entrevista na terça (27).
O IBGE argumenta que o Censo deste ano é mais tecnológico do que os anteriores, o que garantiria um controle maior das informações levantadas, mesmo com o atraso na coleta.
“Hoje, a gente tem ferramentas, como as coordenadas de GPS e a plataforma geográfica interativa, que permitem fazer diversos controles para saber se a população está correta ou não, se alguma quadra, se algum prédio, ficou de fora. Isso a gente pode acompanhar, sobretudo em municípios pequenos”, relatou Azeredo na terça.
Consultada pela reportagem, a CNM (Confederação Nacional de Municípios) indicou que está analisando os dados apresentados pelo IBGE.
O TCU, por sua vez, afirmou que não cabe ao órgão avaliar a qualidade da metodologia usada pelo instituto.
“Compete ao próprio IBGE adotar a metodologia mais apropriada e enviar ao tribunal os dados que melhor representem as populações dos municípios”, disse.