COMPORTAMENTO

Brasileiro ainda come saudável, mas cresce presença de ultraprocessados

Preços de alimentos in natura têm aumentado, movimento que se intensificou durante a pandemia

Brasileiro ainda come saudável, mas cresce presença de ultraprocessados (Foto: Pixabay)

O brasileiro está comendo mais ultraprocessados. Mas a boa notícia é que, pelo menos por enquanto, ainda predomina no país o costume de “comida de verdade”, preparações culinárias com alimentos naturais ou minimamente processados, como leite, farinhas e arroz.

O cenário de expansão de ultraprocessados, contudo, é preocupante, segundo especialistas.

Essa é a conclusão de um estudo de pesquisadores Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde/USP) e da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) recentemente publicada na Revista de Saúde Pública.

Para o estudo, os cientistas usaram dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que correspondem ao período de 1987 até 2018. Eles observaram os produtos que foram adquiridos pelas famílias, e não o consumo em si dos alimentos, apesar de, logicamente, as duas ações terem correlações.

Com isso, puderam agrupar os itens possivelmente consumidos a partir da classificação Nova, desenvolvida no próprio Nupens —e utilizada e reconhecida internacionalmente— e que divide os alimentos em quatro grupos: in natura ou minimamente processados; ingredientes processados (como azeite, manteiga e açúcar); alimentos processados (como conservas de legumes, queijos e pães artesanais); e alimentos e bebidas ultraprocessados.

Comer qualquer coisa excessivamente é prejudicial. Mas, em linhas gerais, é no último grupo, o dos ultraprocessados, com seus aditivos, que mora o maior problema. Nessa classe estão refrigerantes, bebidas lácteas, margarinas, salgadinhos de pacote, doces, sorvetes, pães embalados e uma lista sem fim de produtos.

Já há uma considerável e ainda crescente literatura científica que aponta os riscos envolvidos no consumo em maior volume de ultraprocessados, como cânceres, diabetes e outras doenças crônicas.

Na pesquisa de orçamento do IBGE feita no período 2017-2018, a mais recente disponível, quase 49% das calorias disponíveis nos lares de todo o Brasil eram provenientes de alimentos in natura ou minimamente processados. Outros 32% eram derivados de ingredientes e alimentos processados. Por fim, cerca de 19% vinham de ultraprocessados.

“O Brasil tem uma cultura alimentar muito enraizada e isso favorece que a gente mantenha uma alimentação baseada em preparações culinárias”, afirma Renata Levy, uma das autoras do estudo e pesquisadora do Nupens. “Há situações como a do Reino Unido e Estados Unidos onde 60% da alimentação vem de alimentos ultraprocessados.”