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Butantan espera discutir produção da Coronavac em 2023 com governo de transição

Instituto tem estoque de 2,5 milhões de doses, enquanto capitais paralisam vacinação contra Covid

Butantan espera discutir produção da Coronavac em 2023 com governo de transição (Foto: Agência Brasil)

A produção da vacina Coronavac, que está parada no momento, pode ser retomada no próximo ano se houver interesse do governo eleito, diz o diretor-executivo da Fundação Butantan e ex-diretor do instituto de mesmo nome, Dimas Tadeu Covas.

Segundo ele, não houve procura pelo atual governo para adquirir mais doses do imunizante nem mesmo para crianças. Atualmente, o estoque no instituto tem 2,5 milhões de doses.

Porém, ao menos sete capitais do país pararam a vacinação em crianças de 3 e 4 anos devido à falta de doses.

“Nós tínhamos um contrato de 100 milhões de doses com o governo federal. Depois, foi feito um contrato aditivo para mais 6 milhões, mas o governo apenas pediu 2 milhões. O único estado que não foi afetado pela paralisação foi São Paulo, pois aqui temos o instituto que faz a distribuição diretamente ao PEI [Programa Estadual de Imunização]”, afirmou Covas em entrevista na tarde desta terça (29) na sede do Butantan, na zona oeste paulistana.

Ainda de acordo com Covas, a produção da Coronavac não é a única que foi afetada pela falta de contratos com o Ministério da Saúde. “O instituto fornece oito vacinas anualmente ao ministério, e esses contratos ainda não foram firmados. Em fevereiro e março começa a distribuição da vacina contra influenza e até o momento não temos um contrato da pasta para essas doses”, disse.

Para ele, uma reversão do cenário com o atual governo é improvável. O mais esperado é que o governo eleito faça uma sinalização para a aquisição dos imunizantes no próximo ano.

“Houve um anúncio por parte da equipe de governo de transição para dizer que a vacinação vai ser retomada em todo o país a níveis pré-pandemia, com uma ampliação das vacinas ofertadas. Estamos aguardando um movimento por parte deles para a aquisição.”

A aceleração da vacinação com reforço também é algo esperado pelo médico hematologista. Segundo ele, só metade da população brasileira recebeu a terceira dose, e isso preocupa.

“Hoje a vacinação no Brasil está no menor ritmo desde o início. Precisa retomar, precisa completar o reforço com a última dose disponível, sem falar naqueles que ainda não tomaram nenhuma vacina. Para o ano que vem, se essa tarefa for cumprida, aí podemos discutir a vacinação anual da Covid, a meu ver esquema que será seguido”, afirmou Covas.

O diretor também criticou a chamada guerra das vacinas, episódio que ficou conhecido em 2020 pelo “manda e desmanda” do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello para a compra da Coronavac, que foi anunciada por Pazuello e logo em seguida desmentida por Bolsonaro.

“Se não tivesse ocorrido a disputa política [pela vacina], poderíamos ter começado a vacinação um mês antes de quando iniciou no país, em dezembro de 2020. Um estudo já mostrou que a vacinação no ritmo que foi um mês, um mês e meio após o início da campanha poderia ter salvo até 100 mil vidas a mais”, afirmou.

Covas cita um estudo feito por pesquisadores de diversas instituições de pesquisa do país, incluindo Unesp, Unicamp, USP e Fiocruz, que apontou 47 mil vidas a mais seriam evitadas se o ritmo da vacinação fosse igual no primeiro mês da vacinação àquele de oito semanas depois.

O diretor espera ainda que o governo eleito recupere a cobertura vacinal e, mais importante, a confiança nas vacinas no próximo ano, embora recuperar 100% demore tempo. “Não vai ser de imediato, é um processo que demora. Antes o Brasil era reconhecido pela OMS [Organização Mundial da Saúde] como o mais importante programa de imunização do mundo. Precisamos reforçar a importância da vacinação.”