COMBUSTÍVEIS

Câmara aprova MP que autoriza venda direta de etanol aos postos

Deputados retiraram trecho que permitia estabelecimentos venderem gasolina de outra marca

Governo quer gasolina com mais álcool até março (Foto: Jucimar de Sousa - Mais Goiás)

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (25) uma medida provisória que altera a forma de comercialização do etanol nos postos de combustíveis. Pela proposta, produtores ou importadores poderão vender o produto diretamente aos postos, sem a intermediação de distribuidoras, antes obrigatória.

Um destaque apresentado pelo PT e apoiado pela maioria do plenário retirou um dos principais itens da proposta, o que permitia aos postos revenderem combustíveis de mais de uma marca.

Segundo o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), autor do pedido para suprimir esse artigo, a proposta poderia levar os consumidores a serem enganados.

“A medida irá prejudicar o consumidor de combustíveis, que será atraído ao posto em razão de uma marca renomada e adquirirá de qualquer distribuidor. A redução do preço dos combustíveis é muito importante para o consumidor, mas não existe nenhuma comprovação de que a proposta irá alcançar esse objetivo e, ao contrário do que se espera, será prejudicial ao consumidor, que poderá ser enganado”, argumentou.

O governo estimava que a medida poderia reduzir o preço da gasolina em até R$ 0,50 por litro, como resultado do aumento da competição. Em consulta pública sobre o tema em maio, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) defendeu que a fidelidade à marca da gasolina passaria a ser escolha do consumidor e não uma obrigação regulatória que dá hoje à agência função de fiscalizar contratos particulares.

O texto segue para o Senado Federal, onde precisa ser votado até 9 de dezembro, quando a MP perde validade. A medida ainda altera a cobrança da contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) na venda de álcool anidro importado para adição à gasolina, quando o distribuidor também for importado.

O relator do texto, deputado Augusto Coutinho (Solidariedade-PE), fez outras mudanças na proposta. Uma delas autoriza a revenda varejista de gasolina e etanol hidratado fora do estabelecimento autorizado, sem limitação geográfica e terrena. Para isso, será necessário regulamentação da ANP.

Também foi incluída na versão final a previsão de que não será necessário que a empresa demonstre vinculações a outros agentes da indústria de biocombustíveis para obter a outorga de autorização de atividade de compra e venda de etanol.

Em outro trecho, Coutinho alterou a lei que estabelece os crimes contra a ordem econômica para que o crime de usar gás liquefeito de petróleo fique restrito ao uso apenas para fins automotivos. Atualmente, é proibido o uso do em motores de qualquer espécie, saunas, caldeiras e aquecimento de piscinas, ou para fins automotivos.

O governo editou a MP com a intenção de tentar ampliar a competição no mercado de combustíveis. A promessa de ganhos com as mudanças é questionada pelo mercado de combustíveis e potenciais prejuízos ao consumidor foram tema de uma contestação dos Procons em consulta pública da ANP para debater as mudanças.

Distribuidoras e a defesa da concorrência se preocupam especificamente com a possibilidade de venda de combustíveis de outras marcas nos postos. Para os órgãos de defesa do consumidor, a medida fere dispositivos legais que garantem o direito à informação clara, precisa e adequada.