ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

Câmara de São Paulo estuda adotar gestão por OSs na educação municipal

Proposta, em tramitação na Câmara de Vereadores, dá às OSs autonomia para contratar professores e definir projeto pedagógico no ensino fundamental

Câmara de São Paulo estuda adotar gestão por OSs na educação municipal (Foto: Reprodução - Freepik)

Câmara Municipal de São Paulo discute um projeto de lei que autoriza a prefeitura a entregar a gestão de suas escolas municipais de ensino fundamental e médio para organizações sociais sem fins lucrativos, as OSs.

Esse modelo de gestão é parecido com o que é adotado nos hospitais de Goiás, há quase uma década.

A proposta apresentada pela vereadora Cris Monteiro (Novo) justifica a transferência de responsabilidade como forma de melhorar a qualidade do ensino, com prioridade para escolas em bairros mais pobres e com piores resultados.

As organizações contratadas teriam liberdade para definir currículo, projeto pedagógico e metodologias de ensino nas unidades sob sua gestão. Ganhariam autonomia também para montar o “time de professores, diretores, vice-diretores e secretário escolar”, podendo contratar pessoas de fora da rede de ensino, sem concurso público.

“Não significa que não vamos investir na formação dos professores, que não terá concurso público. Este projeto não é bala de prata nem panaceia para solucionar os problemas da educação municipal, mas pode ser um dos caminhos”, diz a vereadora ao jornal Folha de São Paulo.

Críticos à proposta apontam risco de privatização do ensino municipal e do aumento da desigualdade entre escolas. Dizem que o projeto avança na Câmara de forma apressada, sem um debate sobre a eficácia pedagógica, e alertam para o risco de casos de desvio de recursos e favorecimento das entidades privadas.

Organizações sociais já atuam na educação infantil do município. A prefeitura recorreu ao modelo de creches terceirizadas por não atender a demanda de crianças de 0 a 3 anos em unidades próprias.

Suspeitas envolvendo esses contratos motivaram operações da Polícia Civil, em 2019, e da Polícia Federal, em janeiro de 2021, ambas durante a gestão Bruno Covas (PSDB).

Segundo as investigações, entidades responsáveis pelas escolas e escritórios de contabilidade utilizavam empresas de fachada para emitir notas frias ou superfaturadas, desviando repasses municipais. O caso ficou conhecido como “máfia das creches”.

No ano passado, a Folha revelou que uma das firmas investigadas repassou cerca de R$ 31 mil para o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a uma empresa da família dele na época em que ele era vereador.

Nunes nega irregularidades nos repasses. O Ministério Público ainda não concluiu o inquérito que apura o caso.

Questionada sobre as denúncias que recaem sobre os contratos com creches, a vereadora diz que “não dá para condenar o modelo por conta de alguns maus exemplos”.

Em maio, a bancada do PSOL obstruiu uma sessão na qual a proposta seria votada, sob argumento de que ela não havia passado por comissões temáticas. No dia 9, o texto chegou à Comissão de Educação, onde o relator, Celso Giannazi, diz que convocará ao menos duas audiências públicas para ampliar o debate.

Ainda assim, o projeto pode ir à votação nas próximas semanas. Pelo regimento da Casa, os textos podem ir a plenário desde que tenham sido aprovado pela CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa), o que ocorreu em 18 de abril.

O presidente da Câmara, Milton Leite (União Brasil), planeja incluir o texto de Monteiro em sessões extras destinadas a discutir projetos polêmicos. “Esse projeto tem a simpatia do prefeito, e há um movimento para passá-lo de forma atabalhoada”, diz Giannazi.

Procurado pela reportagem, o prefeito Nunes disse que não tem conhecimento da proposta. Já a vereadora diz que já apresentou o modelo para os secretários da Educação, Fernando Padula, da Casa Civil, Fabricio Cobra Arbes, e que “as conversas com o Executivo são muito boas”.

Em nota, a prefeitura diz entender que “todas as sugestões para aprimorar os serviços e as políticas públicas são bem-vindas”, mas vai “aguardar a evolução dos debates no Legislativo” para se manifestar.