ELEIÇÕES

Campanhas de Lula e Bolsonaro usam debate para avaliar suas fragilidades

Equipes dos candidatos identificaram que Lula precisa melhorar respostas sobre escândalos da era petista e que Bolsonaro se sai mal quando o debate é sobre coronavírus

(Foto: Reprodução)

As campanhas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saíram do debate da Band, realizado na noite de domingo, convencidas sobre o que deverão explorar e quais pontos precisarão aperfeiçoar para crescer nas pesquisas até a eleição. Os petistas avaliam que Lula foi mal quando confrontado com os casos de corrupção que assolaram a sua gestão e de sua correligionária Dilma Rousseff. Para os aliados do candidato à reeleição, ele não conseguiu sair “das cordas” durante quase todo o primeiro bloco, momento em que a pandemia monopolizou o debate.

Os lulistas acreditam que o petista poderia ter enfrentado de forma mais efetiva os questionamentos de Bolsonaro (PL) sobre corrupção. Lula vem sendo preparado para dar respostas sobre escândalos do Mensalão e do Petrolão desde o início da campanha, mas não foi bem sucedido ao tratar do assunto no debate. Estrategistas enxergam que ele se saiu melhor ao responder sobre malfeitos durante a sabatina ao Jornal Nacional, no final de agosto. O aperfeiçoamento do discurso nesse ponto será a prioridade da campanha para o debate da Globo, marcado para 28 de outubro, a dois dias do segundo turno.

É um consenso entre pessoas próximos a Lula que ele teve a oportunidade de emparedar Bolsonaro e virar o jogo da corrupção. Para isso, na opinião dessa ala, deveria ter lembrado as acusações de rachadinha (esquema de partilha de salários de servidores) nos gabinetes do clã presidencial, da compra dos imóveis pela família com dinheiro vivo e do escândalo envolvendo pastores no Ministério da Educação.

Um outro momento do programa chamou a atenção da campanha: o toque corporal de Bolsonaro em Lula. O ex-presidente se aproximou a tentou pousar a mão no ombro do adversário. Quem conhece Lula diz que ele ficou muito incomodado, o que pode ter contribuído para desconcentrar o petista, ao mesmo tempo em que foi visto como falta de respeito por parte de Bolsonaro. A campanha do presidente da República tem exatamente a mesma avaliação e considerou o episódio como um ponto positivo.

Daqui para frente, a cúpula petista pretende também intensificar a preparação para que Lula alcance os evangélicos com mais eficiência, tanto nos programas de propaganda eleitoral gratuita quanto no último debate. A leitura é de que o programa da Band era um bom momento para Lula fazer um aceno mais objetivo ao eleitorado religiosos. Pessoas próximas ao ex-presidente afirmam que foi uma decisão do próprio presidenciável não abordar o tema, contrariando o desejo de aliados. Na fala final, Lula só disse uma frase direcionada ao segmento, sem citá-lo:

— Quem aprovou a lei de liberdade religiosa foi esse que vos fala.

Considerado um tema para o qual Bolsonaro “não tem resposta”, a pandemia continuará sendo explorada pelo PT até o fim da campanha. O ex-presidente cresce ao falar do assunto, avaliam aliados. Os bolsonaristas admitem que o presidente se sai mal quando o debate migra para os estragos provocados pelo coronavírus.

Por outro lado, Lula não administrou bem o tempo no terceiro bloco. Os petistas entendem, contudo, que Bolsonaro não conseguiu ampliar apoio com o tempo em que falou sem ser interrompido, pois não apresentou propostas ao país e nem lançou mão de declarações ponderadas, que poderiam garantir a ele a atração do eleitorado de centro e de indecisos.

Efeito Moro sobre Lula

A partir de uma avaliação semelhante à do adversário, a campanha de Bolsonaro planeja manter a corrupção como foco principal dos ataques a Lula. Para os bolsonaristas, Lula não só não foi capaz de encaixar um discurso para explicar os escândalos das gestões petistas, como demonstrou desconforto quando teve de falar a respeito da prisão de companheiros.

A ideia é continuar batendo no assunto tanto nos embates presenciais, como nas redes sociais e propagandas de televisão e rádio. Internamente, o QG bolsonarista acredita que, como os dois candidatos são amplamente conhecidos, não há “bala de prata” por vir e, portanto, a busca por eleitores indecisos será definida em debates sobre o passado de ambos.

Bolsonaro convidou o ex-ministro e senador eleito Sergio Moro (União Brasil) para acompanhá-lo ao programa da Band. O objetivo era justamente tentar desequilibrar Lula com a presença do juiz que o condenou na Lava-Jato. Bolsonaro e Moro se reconciliaram após o primeiro turno, mais de dois anos depois que o então ministro da Justiça deixou o governo acusando o presidente de ter tentado interferir na Polícia Federal. Durante o debate de ontem, Moro subsidiou o candidato à reeleição com informações.

Por outro lado, a campanha admite que Bolsonaro ainda perde muito quando confrontado sobre a atuação do governo na pandemia da Covid-19. O presidente, na avaliação dos auxiliares, não consegue fazer a defesa de sua gestão na saúde e se mostra incapaz de rebater as críticas que recebe sobre sua postura em relação às vacinas, que ele questionou a eficácia e demorou a comprar. Também, para aliados, fica sem resposta quando o adversário lembra do episódio em que o presidente simulou uma pessoa com falta de ar. Lula explorou a crise sanitária e se saiu melhor no primeiro bloco, na opinião das duas campanhas.

De modo geral, integrantes do núcleo duro de Bolsonaro consideram que, apesar de ter começado em desvantagem, ele terminou o debate em alta. O presidente, na percepção de auxiliares, iniciou o programa nervoso, com uma postura militar e pouco à vontade em andar pelo palco. Havia um temor na equipe de que o formato do debate da Band favorecesse Lula, que tem um estilo de “contador de história.” Por fim, o candidato do PL acabou usando melhor o tempo, o que foi comemorado pela campanha.

Outro ponto celebrado pelo QG bolsonarista é que o debate acabou por desviar o foco da declaração do presidente de que “pintou um clima” durante um passeio de moto pela comunidade de São Sebastião, em Brasília, quando avistou meninas de 14 e 15 anos. Pouco antes do debate, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, determinou a remoção de publicações que associavam Bolsonaro a pedofilia. A decisão deu alivio ao presidente, que ao chegar aos estúdios da Band disse que viveu as “piores 24 horas da minha vida”.