Candidaturas negras aumentam e expõem desigualdade entre cargos e partidos
Segundo especialista, em eleições majoritárias, com os candidatos a prefeito, a participação de negros cai para 35%
A participação de negros aumentou nas eleições 2020 em relação ao último pleito municipal, em 2016, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ao analisar os dados, no entanto, vê-se uma disparidade entre partidos e cargos disputados.
Enquanto a participação de pretos e pardos chega a 50% de todas as candidaturas, nas disputas majoritárias cai para 35%. Comparações entre partidos também expõem desigualdade: uns ultrapassam 60%, outros têm índice inferior a 10%. Para analista entrevistado pelo UOL, essa diferença fala sobre a expectativa das legendas de vitórias nas eleições, em especial em grandes cidades.
De acordo com dados disponibilizados pelo TSE até a manhã da última segunda (28), pretos e pardos somam 272.039 candidaturas, quase 50% dos 545.437 inscritos. Deste total, 260.563 (47,8%) se registraram como brancos, 2.159 (0,4%), como indígenas e 1.946 (0,36%), como amarelos. Há ainda 8.730 (1,6%) que não informaram raça.
A participação é um avanço em relação aos 47,6% de candidatos ditos pretos e pardos da última eleição, que teve, por sua vez, 51,5% de candidatos brancos. Mas se mantém díspar na proporção da população brasileira, com 56,2% considerados negros ou pardos segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em eleições majoritárias, índice cai para 35%
Quando se olha só as eleições majoritárias, com os candidatos a prefeito, a participação de negros cai para 35%. Para o cientista político Cristiano Rodrigues, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), isso é resultado da falta de políticas de incentivo a candidaturas negras e mostra como os partidos veem suas chances de vitória nos pleitos.
“Não houve nenhum incentivo institucional para que aumentassem as candidaturas negras. Teve a decisão do TSE [de financiamento proporcional para candidatos negros], mas foi aprovada para 2022 e quase uma semana antes de os partidos decidirem suas chapas”, avalia Rodrigues.
Agora, o STF julga se já a medida deverá valer para este ano. Estão quatro votos a favor. A decisão deve sair nesta semana, mas, como os registros já foram encerrados, não deverá surtir efeito prático para o pleito de 2020.
Além disso, diz o pesquisador da UFMG, essa diferença demonstra o perfil que os partidos entendem como vencedores do pleito.
“A competição eleitoral é determinante [para a escolha do candidato]. Os partidos tendem a escolher nomes com maiores chances de serem eleitos, o que muitas vezes coincide com o perfil do homem, branco, de classe média ou alta, que já foi eleito… Em especial nas grandes cidades.”
Segundo ele, em cidades menores ou com maioria de população negra, isso se dissipa mais. Na capital paulista, por exemplo, enquanto 32% da população se identifica como negros ou pardos, três dos 14 (21%) candidatos se registraram como pretos.
PSTU tem maior participação negra; Novo, a menor
Os dados também mostram desigualdade entre os partidos nas eleições majoritárias. Dos 33 partidos que concorrem as eleições, cinco têm mais de 50% de candidatos negros enquanto quatro não atingem 30%.
Maior participação entre partidos ligados a movimentos sociais e partidos cristãos não é coincidência. Segundo Rodrigues, estas são as duas principais “frentes de entrada” de negros no meio partidário.
“Estudos de dinâmica eleitoral mostram que os candidatos negros vêm de dois padrões: movimentos sociais —geralmente ligados a partidos ditos progressistas, de esquerda e de centro— ou cristãos, ligados em especial a igrejas neopentecostais e de renovação carismática. Estes, geralmente, têm pautas mais conservadoras, sem relação com a questão racial”, avalia o cientista político.
Ele explica também que o tamanho do partido é um fator importante nesta comparação. A estreante UP, por exemplo, lançou apenas 15 candidatos a prefeito pelo país —destes, nove são pretos ou pardos. “Além do número menor de candidaturas, é mais fácil concorrer em partidos menores, são mais permeáveis”, afirma o analista.
Não é regra. O Novo, partido com baixa participação, tem apenas dois candidatos negros —6,6% dos 30 lançados pelo país. Este é o número absoluto mais baixo, mesma situação do PCB. Mas estes, no entanto, concorrem em apenas seis pleitos majoritários no Brasil.
“Volta-se, então, ao primeiro ponto: partidos que são mais ligados a estes movimentos sociais, de base, acabam tendo mais ligação com pessoas negras e, consequentemente, mais candidatos”, conclui Rodrigues.