CHEGOU AO DESTINO

Cão que fugiu de Congonhas voa com a tutora para casa em poltrona só para ele

Vira-lata Beethoven escapou da caixa, foi para o pátio dos aviões e andou em ruas próximas até ser achado sete horas depois

Cão que fugiu de Congonhas voa com a tutora para casa em poltrona só para ele (Foto: Reprodução - Arquivo Pessoal)

Cerca de 24 horas depois de ter fugido do aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo e de ter mobilizado até outro cão —um farejador—, o vira-lata Beethoven finalmente chegou a Florianópolis (SC) no início da tarde desta quinta-feira (20). O cachorro desapareceu por volta das 13h30 de quarta-feira (19), durante uma conexão.

Ele foi colocado em uma caixa fechada com cadeado, própria para transporte, no compartimento de um voo da Latam que partiu de Cuiabá (MT) e deveria ter embarcado em outro, mas sumiu.

Conforme apurou a reportagem com um funcionário do aeroporto, o animal, de dez anos, correu para o pátio dos aviões. Pilotos que se preparavam para decolar foram informados de que era preciso esperar pelo resgate. Foi emitido um alerta de emergência.

A Infraero, estatal que administra o aeroporto, disse que a pista ficou fechada por seis minutos, das 13h37 às 13h43. Dois voos sofreram atrasos para pousar, um de 25 minutos e outro de 27 minutos.

Segundo a tutora, a terapeuta sistêmica Valquíria Lopes, 34, que viajava de mudança para a capital catarinense, Beethoven, que já havia mordido o comedouro durante a viagem, conseguiu abrir a grade traseira da caixinha de transporte de animal quando ela foi colocada no chão por um funcionário da empresa aérea.

E foi aí que a saga começou. A tutora falou que estava na área de embarque quando seu nome foi chamado pelo sistema de som do aeroporto. “Uma funcionária da Latam me avisou que o cachorro havia sumido e disse que precisávamos entrar em um carro para procurar nas ruas pois ele teria saído de Congonhas pela área dos bombeiros.”

A busca pelo animal, segundo ela, teve até ajuda de um cão farejador requisitado pela Latam, além de várias pessoas. O primeiro sinal do cão quando uma funcionária da empresa aérea, que estava em um ponto de ônibus, disse ter visto o vira-lata, que fugiu mais uma vez quando a mulher tentou correr atrás dele.

Sem beber água havia várias horas, Beethoven parou diante de um bebedouro que o dono de uma barbearia próxima ao aeroporto coloca na calçada para cachorros de rua. “Um vigia viu e desconfiou que era ele, pois já tínhamos movimentado toda a vizinhança. Ele o prendeu com uma coleira que pediu emprestado”, afirmou Lopes, que encontrou o animal por volta das 20h30.

Como haviam perdido o voo para Florianópolis, tutora e vira-lata foram levados para um hotel pago pela empresa aérea. “Ele dormiu em uma cama e eu, em outra”, afirmou Lopes.

O conforto continuou nesta quinta, pois desta vez o animal não foi no compartimento de bagagem, mas solto na cabine com os demais passageiros, em uma poltrona só ele.

“Não pretendo processar a empresa, pois reconheço o esforço que tiveram, mas foi muito descuido terem colocado a caixa no chão e deixarem ele escapar”, afirmou. “Espero que nunca mais permitam que isso aconteça de novo.”

Em nota, a Latam disse lamentar profundamente o ocorrido e que estava atuando com equipes de buscas no entorno do aeroporto para encontrar o cachorro, o que foi confirmado pela tutora, que chegou a procurar o posto da Polícia Federal no aeroporto. “Tinha gente a pé, de moto e de carro, além do cão farejador.”

Essa não é a primeira vez que um animal foge da área de bagagens em São Paulo. No fim do ano passado, a vira-lata Pandora desapareceu durante uma conexão no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. O animal só foi encontrado 45 dias depois e voltou para seu tutor em 30 de janeiro.

Pandora ia do Recife para Navegantes (SC) quando escapou da caixa de transporte —obrigatória para esse tipo de viagem— e desapareceu durante conexão de voo da Gol, em 15 de dezembro.

Nesse período, o tutor fez mobilizações nas redes sociais e contou com apoio jurídico e de grupos em busca da cachorra.

Na ocasião, a Gol informou que nunca deixou de prestar assistência e que lamentava o incidente. Afirmou, ainda, que, após o caso, adotou uma série de medidas na tentativa de encontrar Pandora.

Essa é a segunda vez no mês que Congonhas sofre com fechamento de pista por causa de um incidente. No último dia 9, a pista principal de Congonhas foi bloqueada por cerca de nove horas após o estouro de um dos pneus de um jato executivo.

O acidente provocou um efeito cascata nos principais aeroportos do país. Ao todo, 230 voos tiveram de ser cancelados de domingo (9) a segunda-feira (10), quando o saguão registrou longas filas e esperas de até quatro horas.