Capes pode cortar bolsa de brasileiros no exterior por causa de coronavírus
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciou nesta quarta-feira (18) que…
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciou nesta quarta-feira (18) que pode cortar bolsas de estudantes brasileiros que estão em universidades no exterior e optarem por não antecipar a volta ao Brasil devido à pandemia do novo coronavírus.
Em comunicado divulgado em sua página na internet, o órgão subordinado ao MEC (Ministério da Educação) anunciou que os pesquisadores que estão em instituições que tiveram as aulas presenciais suspensas devem retornar ao país e realizar as atividades remotamente.
Para aqueles que estão em países que mantém abertas suas fronteiras e decidirem não seguir a determinação, o “roteiro de orientações” divulgado aos estudantes diz que “a bolsa será suspensa até a comprovação da normalização das atividades”. A Capes entende que não faz sentido os bolsistas permanecerem exterior se estiverem isolados dos centros universitários, trabalhando em casa.
A medida desagradou a muitos estudantes que reclamam de possíveis prejuízos às suas pesquisas. Uma doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), que atualmente está na Universidade Nacional Autônoma do México e prefere não se identificar, diz que a volta agora seria desastrosa para sua pesquisa, que depende muito mais do trabalho de campo do que das aulas presenciais. Sem o dinheiro da bolsa, no entanto, ela não teria como se sustentar na Cidade do México.
Apesar da Capes ter anunciado que os benefícios serão retomados assim que a situação se normalizar, muitos pesquisadores temem voltar ao Brasil e ficar sem recursos aqui, já que há atrasos na reativação das bolsas pagas no país.
Também na quarta-feira (18), a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) anunciou que todos os estudantes que estão no exterior com bolsa da agência poderão antecipar a volta ao Brasil. Muitos pesquisadores, no entanto, seguem em dúvida.
Pós-doutorando na Unicamp, Felipe Bier Nogueira conta que pretendia deixar a Universidade de Princeton (EUA) e voltar ao Brasil apenas no dia 16 de abril, exatamente no dia em que chega ao fim o contrato de sua Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE). Agora, porém, ele teme esperar e acabar não conseguindo retornar.
Se for obrigado a permanecer nos Estados Unidos sem os valores pagos em dólar pela Fapesp, ele não terá como se manter em uma das regiões mais caras do país, ainda mais sem o plano de saúde, que também vence no próximo dia 16. “Seria o pior momento para ficar sem a cobertura”, pondera Bier, que deixou de sair de casa não apenas para evitar a possibilidade de contaminação, mas também para economizar algum dinheiro.
A Fapesp anunciou a prorrogação, por sessenta dias, de todas as bolsas em universidades brasileiras, mas os casos de pesquisadores que estão no exterior serão analisados caso a caso. Na Universidade de Illinois Urbana-Champaign, até o momento a preocupação de Lorena Muniagurria é com relação às passagens aéreas que foram compradas para a participação em congressos mas não poderão ser utilizadas. Das três viagens previamente programadas, a antropóloga pesquisadora do Instituto de Artes da Unicamp já sabe que não será reembolsada pela companhia em pelo menos um dos casos.
“O que eu estou fazendo é guardar absolutamente todos os recibos e documentos possíveis, para que depois possa demonstrar tudo na prestação de contas” à Fapesp, diz Muniagurria, que não pretende retornar antes ao Brasil, já que sua bolsa tem duração até o mês de agosto, quando espera que a situação esterá sob controle.
Em Harvard, a pesquisadora no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Mariah Queiroz conta que sua bolsa de Estágio de Doutorando no Exterior concedida pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) vai até o fim de abril, mas ela já pensa em antecipar a volta ao Brasil.
Apesar do prejuízo à sua pesquisa, Mariah Queiroz diz que a questão financeira está pesando em sua decisão. Ao descobrir que seu plano de saúde não cobria pandemias, por exemplo, ela decidiu pagar do próprio bolso por um novo plano, mais abrangente, mas agora não sabe se conseguirá ser ressarcida.
Procurado pela reportagem, o presidente da Faperj, Jerson Lima, que vem trabalhando de casa por ter tido confirmado o diagnóstico do novo coronavírus, informou que a fundação fluminense será flexível na avaliação das demandas dos pesquisadores. Entre as medidas já adotadas, está a prorrogação, em noventa dias, do prazo para que os bolsistas prestem contas.
O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que também oferece bolsas para pesquisa no exterior informou que todas as solicitações ligadas ao coronavírus estão sendo analisadas caso a caso.