ECONOMIA

Carrefour Brasil disse ao governo que foi surpreendido com posição da matriz na França

Acionistas do Carrefour no Brasil demonstraram preocupação com os reflexos da crise com agronegócio brasileiro

Rede de supermercados Carrefour (Foto: Divulgação)

(Folhapress) A diretoria do Carrefour no Brasil entrou em contato com o Ministério da Agricultura para comentar a decisão de seu presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, que anunciou a suspensão da compra de carne de países do Mercosul, incluindo o Brasil.

Segundo informações obtidas pela Folha, a chefia brasileira do Carrefour informou à alta cúpula do Ministério da Agricultura que foi “surpreendida” com as declarações feitas por Alexandre Bompard.

Os acionistas do Carrefour no Brasil demonstraram preocupação com os reflexos da crise entre a rede varejista e o governo brasileiro e, segundo uma fonte do alto escalão do governo, se comprometeram a cobrar algum posicionamento diferente de sua matriz na França.

O Brasil responde por cerca de 23% da operação global do Carrefour. Uma fonte do Ministério da Agricultura resumiu a situação dessa forma: “Se um supermercado não tem carne, nem pão, você sabe, não vende nada.”

Folha procurou o Carrefour Brasil para se manifestar a respeito do contato feito com o Ministério da Agricultura. Não houve resposta até a publicação desta reportagem.

Por meio de nota publicada na semana passada, o Carrefour França informou que a medida anunciada em 20 de novembro por seu presidente “se aplica apenas às lojas na França” e que “em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”.

“Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”, declarou o Carrefour.

Ocorre que os produtores brasileiros interromperam o fornecimento de carnes para a rede de varejo no Brasil. Em entrevista à Folha, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reagiu com indignação à decisão do Carrefour na França e afirmou que, além de os produtores paralisarem a venda de carne na rede nacional do grupo francês, produtores de frango também estão seguindo o mesmo caminho.

O ministro afirmou que a França, como um todo, não representa 0,5% das exportações brasileiras de carnes e que o Carrefour usa questões sanitárias e ambientais como “pretexto” para barrar os produtos nacionais e fazer proteção de mercado.

A França tem uma participação ínfima nas exportações de carne do Brasil. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio mostram que o país respondeu por 0,0026% da importação mundial de carne brasileira entre janeiro e outubro deste ano. Foram comprados pelos franceses US$ 245 mil em carnes do Brasil neste ano.