Divino Pai Eterno

Carreiros de Orizona já estão a caminho de Trindade

Tradicional festa religiosa, a maior em devoção ao Divino Pai Eterno, atrai pessoas de todos os lugares do mundo. Sertanejos em carros de bois já deslocam em caminhada da fé

Mal o dia amanhece e o que espera por eles é sol quente, poeira, estrada, cascalho e devoção. O som do eixo do carro de boi é o tom que arrepia o homem bruto, da lida. A fé no Divino Pai Eterno, move toda essa gente, que saiu ao raiar do sol desta quinta-feira, 14, de Orizona, e pretende passar 15 dias na estrada até Trindade. Tudo isso não é para pedir nada, mas agradecer: pela saúde da família, dos animais, pela força em lutar todos os dias, e vencer a lida do campo.

A chegada aos pés do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno está prevista para acontecer somente no dia 26 de junho, mas até lá, a rotina é a mesma: “Levantar cedo, juntar a boiada. A fé no peito e os pés no chão. Num passo lento saiu na jornada pra romaria da devoção,” como narra a composição de Romaria, de autoria de Walter José.

A organização dos carreiros, por conta de Wilton de Lió e Edson Vieira, antevê os problemas, e antes de tomar rumo às cidades que passarão, entre estradas de terra, pousando em fazendas e almoçando em beiras de riachos, pedem uma bênção ao pároco da cidade, que roga por saúde e proteção a todos os fiéis e animais.

Na tralha, dentro do carro de boi, vai de tudo. Um bolo de fubá para o lanche da manhã, bolacha, carne conservada em lata, preparada com cuidado e tendo como principal meio de conserva a banha do porco engordado para a ocasião. A água resfriada atenua o calor do sertanejo, que leva o terço em uma das mãos e a vara de condução das juntas de bois na outra. A imagem do Divino Pai Eterno está por dentro da aba do intocável chapéu.

Conversa pouca. O som que se ouve é o barulho do eixo que queima pelo aperto do cocão. A roda de cravos levanta a poeira marrom, que mais tarde vai estar na cara de todos, misturando fé, suor e a cor do chão. A reza é farta, e o tom é de seriedade.

Depois do sol quente, é a vez de se aproximar do primeiro pouso. Amanhã seguem ao amanhecer. Até chegar à margem do Rio do Peixe, no fim da tarde, e só então pegar rumo para Passaquatro, quando pousam no sábado. Bela Vista, Hidrolândia, Aragoiânia, Abadia de Goiás ainda estão pela frente. É chão, até chegar em Trindade na terça (26). Eles ficam por lá até o dia 28, quando participam da bênção campal, e o desfile de Carros de Bois e Muladeiros, nas ruas da cidade e no Carreiródromo. (Imagens: Edson Vieira)