Casal de idosos é vítima de ‘sequestro virtual’, a nova modalidade do crime
Aos moldes do já conhecido "Bença Tia", criminosos mudaram a forma de agir e já fizeram mais vítimas no Estado: um caso é registrado por dia
Eram sete da manhã, da sexta-feira (12), como qualquer outro dia na casa de dois idosos de Anápolis, a 55 quilômetros de Goiânia. Ele, um juiz, de 81 anos, ela, 69 anos, professora; ambos aposentados. Os dois foram feitos reténs por três dias, até a manhã dessa segunda-feira (12), de uma nova modalidade criminosa. De um lado, obrigados a ficar em um hotel e o tempo todo no telefone, eles pensavam que o filho era feito refém; do outro, o filho, de Brasília, também não podia desligar a ligação, negociava o resgate dos pais.
A Polícia Civil conseguiu libertar o casal de idosos em um banco, no Setor Central de Goiânia, prestes a fazer uma transferência bancária de R$ 181 mil. Só no final de semana a família já havia transferido R$ 41 mil e os bandidos sacaram rapidamente, de uma agência no Paraná. Todos os dias, pelo menos uma pessoa é vítima de sequestro, segundo delegado.
O Mais Goiás adiantou ontem (14) que os últimos casos de sequestro têm aumentado de forma significativa no Estado. O crime não era comum em anos anteriores. A nova modalidade criminosa, chamada pelos policiais de sequestro virtual, não precisa, obrigatoriamente, que as vítimas tenham contato pessoal com os bandidos.
Os criminosos têm total domínio das ações de quem é feita vítima. O delegado do Grupo Antissequestro (GAS) da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) Kleyton Manoel Dias revela como os criminosos atuam.
“A vítima atende o telefone e recebe a informação de que um parente é feito refém. Em seguida, é obrigado a dar o número de telefone de familiares e sair de casa parafazer as transferências. Enquanto os bandidos obrigam que a vítima se hospede em um hotel, do outro lado entram em contato com os familiares, por telefone, e anunciam que o hospedado é quem está em cativeiro,” explica o delegado.
O investigador explica que a modalidade é nova, mas usa os mesmos moldes do antigo ‘Bença Tia’.
FRAGILIDADE
“Eu me desesperei. Estou há 20 horas sem comer porque eles (os sequestradores) eram quem diziam o que poderia ou não comer”, disse o juiz aposentado, que às 16 horas ainda não tinha feito nenhuma refeição no dia. Ele e a esposa saíram de Anápolis na manhã de sexta-feira(12), e foram obrigados a comprar um novo celular e desligar o aparelho antigo.
Na capital, seguiam as ordens dos bandidos, e sempre estavam ligados ao telefone. Os criminosos disseram até onde era para as vítimas comer, se hospedar, o horário que era para tomar banho, e outras atividades. “Isso é privar a vítima de liberdade, por tanto, já que os criminosos pediam resgate deles à família, se enquadra como sequestro”, explica o delegado. O crime praticado contra os idosos, que acreditavam num sequestro irreal, pode ser considerado como estelionato.
O delegado já sabe de onde partiram as ligações. Segundo Kleyton Manoel, que usa os métodos técnicos da polícia para escutas e grampos autorizados pela Justiça, criminosos de Bangu (RJ) foram responsáveis. São bandidos que dão as ordens de dentro de presídio, e encontram o número de forma aleatória, acredita a polícia.
INVESTIGAÇÃO
O GAB iniciou a investigação do caso e um agente de polícia estava ligado ao telefone com os criminosos. Ele se passou pelo filho do casal de idosos, em negociação com os criminosos. O agente gravou todas as ligações. Os áudios da negociação antes, durante e depois da libertação do casal você acompanha em primeira mão no Mais Goiás (Ouça aqui). Ao telefone, com os bandidos do outro lado da linha, o delegado ameaçou, em frente à imprensa: “Aqui é do Grupo Antissequestro. Nós já identificamos cada um da sua quadrilha e vamos prender todos vocês!”
OUTROS CASOS
Uma idosa de 61 anos foi feita refém na última semana. Os criminosos entraram em contato com ela na sexta-feira (12) e disseram que estavam com a filha dela. A mulher é empresária do ramo de alimentação e foi obrigada a se hospedar em um hotel e fazer transferências em vários locais para os criminosos. A Polícia já sabe que as ligações telefônicas para ela partiram de Betim (MG).