Rio de Janeiro

Caso Flordelis: polícia investiga participação de outros filhos no crime

De acordo com a investigação, também há a suspeita de participação de pessoas ligadas à família no crime

Após a prisão de sete filhos e uma neta da deputada federal Flordelis (PSD-RJ), a Polícia Civil do Rio ainda investiga o suposto envolvimento de outros filhos adotivos da parlamentar no assassinato do pastor Anderson do Carmo, morto a tiros na madrugada de 16 de junho de 2019 dentro da própria casa em Niterói.

De acordo com a investigação, também há a suspeita de participação de pessoas ligadas à família no crime. Na última segunda-feira (24), a parlamentar foi denunciada à Justiça por suspeita de ter sido a mandante do assassinato. Ao todo, a polícia já prendeu 11 pessoas por suspeita de envolvimento no homicídio.

“As investigações continuam. Foi instaurado um novo inquérito para a apuração de outras pessoas no crime. Pessoas da família e de fora”, informou o delegado Allan Duarte.

Segundo a polícia, bens da própria vítima podem ter sido usados para pagar pelo crime. Parte de uma coleção com cerca de 20 relógios e dinheiro do pastor, guardado em uma mochila, desapareceram depois do assassinato. Em depoimento, Flordelis disse não saber onde estavam o dinheiro e os relógios.

A suspeita surgiu com base no depoimento dado por Lucas Cezar dos Santos, um dos filhos adotivos do casal. Preso desde junho do ano passado, ele é acusado de ter obtido a arma usada no crime por Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, também preso desde o crime.

A deputada Flordelis e o marido Anderson, assassinado em junho de 2019 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram

A deputada Flordelis e o marido Anderson, assassinado em junho de 2019

Imagem: Reprodução/Instagram

Lucas disse à polícia ter recebido uma proposta de R$ 5.000 feita por Marzy Teixeira da Silva, também filha adotiva da parlamentar, para matar o pastor. Presa preventivamente desde segunda-feira, Marzy fez pesquisas na internet para contratar um matador de aluguel.

Nas buscas, identificadas no celular apreendido pela Polícia Civil do Rio, usou expressões como “barra pesada online”, “alguém da barra pesada” e até “assassino onde achar”. Ela também tentou localizar veneno letal acessível para compra e chegou a pesquisar por “veneno para matar pessoa”.

Apesar das buscas na internet, não foi Marzy quem contratou o matador de aluguel, segundo a polícia. Neta de Flordelis, Rayane dos Santos Oliveira, também presa na segunda-feira, foi a responsável, de acordo com as investigações, pela contratação do assassinato sob encomenda, que acabou não acontecendo.

O que dizem Flordelis e outros acusados

Desde o início das investigações, a deputada nega participação no assassinato de Anderson. Na segunda, dia em que a denúncia foi apresentada e os filhos de Flordelis presos, a defesa da deputada se disse “surpresa” com a operação.

“Preciso ainda apurar o que consideraram como provas e o que permitiu o indiciamento e as prisões. Preciso ainda ter acesso a essas informações, mas digo que ficamos surpresos com essa ação hoje”, afirmou o advogado Anderson Rollemberg, por meio de nota.

O advogado Maurício Mayr enfatizou que a parlamentar foi ouvida na condição de testemunha e disse acreditar na inocência dela.

“A deputada desde o início desse segundo inquérito foi tratada como testemunha, vindo a ser indiciada agora no final e denunciada. Tivemos acesso hoje [segunda-feira] ao processo, vamos fazer análise e estudo do caso. Ela figurava como testemunha na ocasião e não atrapalhou as investigações. Todos foram encontrados, as pessoas que tiveram a prisão em seu desfavor.”

O defensor disse ainda que “a juíza da Vara acertadamente falou da desnecessidade de prisão preventiva da deputada, apesar de ter a imunidade parlamentar, ela entendeu ser desnecessário prendê-la neste momento até por causa do lapso temporal que se passou desde o fato até o presente momento”.

O advogado dos cinco filhos e da neta da parlamentar presos, Luiz Felipe Alves, disse que o processo está em segredo de Justiça, o que implicou na demora da leitura dos autos. Segundo ele, já é possível afirmar que os argumentos da decisão são genéricos “sem qualquer individualização quanto à real e efetiva necessidade de prisão cautelar para cada um dos acusados”.

Em nota, a defesa enfatizou que os filhos e a neta da parlamentar são “pessoas íntegras, primárias, detentoras de ótimos antecedentes, com residência fixa e trabalho lícito”.