PERNAMBUCO

Caso Miguel: mãe tem cargo em prefeitura comandada pelo patrão e não sabia

Os dados estão no portal da transparência da prefeitura de Tamandaré e são públicos para consulta. A mulher nega que sabia do cargo

A mãe do menino Miguel, Mirtes Renata Santana de Souza, apesar de trabalhar como empregada doméstica para o prefeito de Tamandaré (PE), Sérgio Hacker Corte Real (PSB), tem o nome na lista de pessoas que exercem cargo comissionado na prefeitura da cidade, localizada 104 km do Recife. Os dados estão no portal da transparência da prefeitura de Tamandaré e são públicos para consulta.

Mirtes diz que não sabia do cargo e que trabalhava apenas na casa dos patrões. A assessoria da prefeitura informou que só falará sobre o caso na semana que vem.

A empregada doméstica perdeu o filho de 5 anos na última terça-feira (2), quando deixou o menino aos cuidados da patroa, a primeira-dama Sarí Mariana Gaspar Corte Real, ao levar a cadela da família dos patrões para passear na rua. A criança, que estava sob a guarda temporária da patroa, caiu do 9º andar do prédio e morreu.

Sarí Corte Real chegou a ser presa pelo crime de homicídio culposo (quando não há intenção de matar), depois que a Polícia Civil de Pernambuco analisou imagens do circuito interno do condomínio e viu que ela deixou a criança sozinha no elevador. A primeira-dama pagou a fiança de R$ 20 mil e foi liberada para responder pelo crime em liberdade.

A empregada doméstica tem o nome na lista de cargos comissionados da prefeitura desde 1º de fevereiro de 2017. Teoricamente, ela exerce a função de gerente de divisão com lotação na manutenção das atividades de administração da prefeitura de Tamandaré. O salário para este cargo é de R$ 1.093,62, segundo os dados do portal da transparência.

Entretanto, Mirtes nunca cumpriu um dia de serviço na prefeitura, pois trabalhava como empregada doméstica no apartamento de Corte Real em Recife e na casa dele em Tamandaré.

Mirtes disse ao UOL na manhã de hoje que não sabia que o nome dela constava como funcionária da prefeitura de Tamandaré e que recebia o salário das mãos dos patrões. Ela trabalhava para a família Hacker Corte Real havia quatro anos.

“Estou surpresa com essa informação. Eu trabalhava na casa deles, a minha mãe também ia quando a família ia para Tamandaré. A gente se revezava em cuidar da casa e das crianças”, disse Mirtes.

Na última terça-feira, ela precisou levar o filho para o trabalho porque a creche em que ele costuma ficar está com as atividades suspensas devido à pandemia do novo coronavírus.
Outro lado

A prefeitura de Tamandaré informou que o prefeito Sérgio Hacker “se encontra profundamente abalado pelo fato já noticiado pela imprensa” e que “no momento próprio e de forma oficial prestará as informações aos órgãos competentes”.

A assessoria de imprensa enviou duas notas à reportagem do UOL: na primeira, referia-se ao falecimento do menino Miguel como “morte”; depois, enviou uma segunda nota, “corrigindo” a primeira, afirmando “a lamentável perda do pequeno Miguel”.

O UOL questionou sobre o fato de o nome da empregada doméstica constar como funcionária da prefeitura, e a assessoria de imprensa informou que só vai se posicionar na semana que vem.

“Recebemos uma solicitação de informações pertinentes à sra Mirtes Renata, do Ministério Público, e na próxima semana falaremos a respeito.”