Religião

Católicos criam site para mostrar força nas urnas

// // Apesar de ser um Estado laico, o voto religioso no Brasil conta. E…

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Apesar de ser um Estado laico, o voto religioso no Brasil conta. E muito. É visível a aproximação dos três principais candidatos à Presidência da República com pastores e lideranças, principalmente evangélicas, na hora de pedir voto.

Marina Silva (PSB), evangélica declarada, chegou a mudar seu programa de governo após ser criticada pelo pastor Silas Malafaia. Aécio Neves (PSDB), católico por tradição familiar, participou de uma extensa agenda no último fim de semana, no Rio de Janeiro, em uma igreja evangélica.

Dilma Rousseff (PT) fez questão de participar, antes da campanha, da inauguração do Templo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus. Sem falar no Pastor Everaldo (PSC), quem o próprio nome indica a inclinação. E os católicos, que representam 64,4% da população (Censo 2010), por onde andam nessa eleição?

Para tentar ganhar terreno e mudar essa maior influência evangélica, um grupo de jovens colocou no ar o blog “Voto Católico”, que pretende indicar candidatos que não tenham medo de se declarar católicos. Para figurar entre os “escolhidos” do site, é preciso, antes de qualquer coisa, ser ficha limpa. As propostas têm que estar de acordo com as recomendações da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB). É preciso ainda assinar um termo de compromisso segundo o qual o candidato, se eleito, não aprovará leis que possam ir contra os princípios católicos. Entre os princípios, segundo o blog, estão se declarar contrário o aborto e o casamento homossexual.

Mas encontrar católicos dispostos a se encaixar nesse perfil parece não ser tarefa fácil. Dos 17.001 candidatos a deputado estadual em todo país, apenas 11 assinaram o termo e se assumiram católicos. Dos 7.140 candidatos a deputado federal, apenas dez passarem pelo crivo do blog. “Tem gente que tem medo de perder o voto dos evangélicos. Acho que o candidato não pode ter medo de se declarar católico. Pelo contrário. Não pode é ficar em cima do muro. O católico está muito tímido. O evangélico trabalha mais nesse processo eleitoral”, admite Luciano Bretas, candidato a deputado federal pelo PTB em Minas.
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No Rio, Marcio Pacheco (PSC) é um desses candidatos a deputado estadual aprovados pelo site. “Minha entrada na vida pública se deu após 22 anos de missão dentro da igreja, por isso vejo como algo natural assumir isso. Mas não critico quem não o faça. Não faço política para católico apenas, mas para todos”, disse Pacheco, que, apesar de divulgar em seu site apoio direto de padres e bispos, vê a igreja católica cumprindo o papel de conscientizar as pessoas a um voto coerente com sua ideologia. Marcio não acha estranho estar num partido cujo candidato à Presidência é um evangélico, o Pastor Everaldo. “Não podemos ser proselitistas na vida pública. A doutrina social nos ensina a sermos acolhedores em todos os momentos. Dialogamos muito para defender a vida no Brasil (contra o aborto) com evangélicos, espíritas e agnósticos”, afirma.

Mas, se para o voto proporcional ainda é possível encontrar alguns candidatos, para cargos majoritários é mais complicado. Dos 173 candidatos a governador, cinco foram aceitos pelo blog e se declararam católicos. Cinco também são os senadores, num universo de 185 nomes em todo o País. Entre eles, está Gim Argello (PTB-DF), que já foi barrado no Congresso Nacional para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) por conta de seus vários processos no Superior Tribunal Federal (STF), que vão de lavagem de dinheiro a crime eleitoral, corrupção ativa e peculato. Como não chegou a ser condenado por um colegiado, ainda passa por ficha limpa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Já entre os candidatos a presidente, até agora, nenhum dos 11 se comprometeu com a causa católica. Mas a atualização do site é constante. Os organizadores avisam: “a qualquer momento podem ser incluídos novos candidatos para sua escolha, portanto, não deixe de consultar este blog periodicamente.”

Poder subestimado
Mas que ninguém subestime a força católica na hora de votar. Em 2006, a deputada Jandira Feghali (PCdoB) liderava, com folga de oito pontos percentuais, a disputa por uma vaga no Senado pelo Rio de Janeiro e viu a força da mobilização religiosa contra ela. Sua posição em favor do aborto e campanhas de associações pró-vida acabaram por tirar sua vitória. Jandira chegou a acusar o então Cardeal Arcebispo do Rio, dom Eusébio Oscar Scheid, de orquestrar uma campanha contra ela, mas nada ficou comprovado pela Justiça Eleitoral. Fato é que o conservador Francisco Dornelles foi eleito com mais de 500 mil votos. No próximo dia 16 de setembro a CNBB promove, em Aparecida (SP), um debate entre os candidatos a presidente que será transmitido por oito emissoras católicas e retransmitido por mais de 230 rádios e outros tantos sites. 

(DoTerra)