Chefes do “novo cangaço” tentaram fuga de cela no dia de roubo em Araçatuba
Homens apostados como chefes estão presos em penitenciária de Presidente Venceslau, em São Paulo
Dois homens apontados como chefes da tática de roubo a bancos conhecida como “novo cangaço” tentaram fugir da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), unidade de segurança máxima onde estão os criminosos mais perigosos do PCC (Primeiro Comando da Capital) em São Paulo.
O episódio ocorreu na manhã de 30 de agosto, mesma data do mega-assalto em Araçatuba (SP), quando criminosos tentaram roubar R$ 90 milhões de uma agência do Banco do Brasil na cidade as cédulas foram destruídas pelo cofre. Foi a segunda tentativa de fuga no mesmo presídio em menos de um mês o outro caso ocorreu em 22 deste mês, quando criminosos confeccionaram roupas de policiais penais com tecido preto, proibido na unidade há sete anos.
O plano foi descoberto às 8h40, quando agentes penitenciários fizeram uma blitz no pavilhão 1 e notaram que a grade da janela da cela 42 estava serrada. Os funcionários imediatamente comunicaram o fato à direção da unidade prisional, conforme consta em documento obtido com exclusividade pelo UOL.
Na cela, estavam três homens, sendo que dois são apontados como chefões do “novo cangaço”, tática também conhecida como “domínio de cidades”, e um narcotraficante. São eles: Tiago Ciro Tadeu Faria, 39, conhecido como “Gianechini” ou “galã do novo cangaço”, e Arnon Afonso da Silva Vieira, 30, assaltante de agências bancárias que já esteve na lista dos dez criminosos mais procurados do Brasil. O terceiro detento suspeito de envolvimento na ação é Antônio Márcio Renes Araújo, 35, condenado a 197 anos por tráfico internacional de drogas.
Homens do GIR (Grupo de Intervenção Rápida), uma espécie de tropa de choque do sistema prisional paulista, conduziram os três presos ao Pavilhão Disciplinar para cumprir castigo de dez dias. Eles são acusados de cometer falta de natureza grave.
A diretoria da penitenciária instaurou um procedimento interno disciplinar para apurar o caso. O depoimento deles foi marcado para o dia 3 deste mês. Porém, os prisioneiros se reservaram o direito de permanecer em silêncio e se recusaram em assinar o termo de declaração.
O advogado Florestan Rodrigo do Prado, da Funap (Fundação Professor Doutor Manoel Pedro Pimentel), representou os presos e defendeu a nulidade do procedimento, alegando que “não há nos autos o competente exame de corpo de delito direto para constatar tecnicamente a tentativa de fuga”.
Já a comissão apuradora concluiu que os presos cometeram falta de natureza grave e impôs aos acusados pena disciplinar de 30 dias de isolamento e também fixou o prazo de um ano para a reabilitação da conduta carcerária dos três detentos.
Procurada pelo UOL, a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) ainda não se posicionou. A resposta será incluída na reportagem assim que o órgão encaminhar a sua versão do caso.
Quem são os chefes do ‘novo cangaço’
Investigações da Polícia Federal apontam que “Gianechini” explodia agências bancárias no país desde 2017. A PF apurou que ele participou do roubo a banco em Botucatu (SP), em 29 de julho de 2020, quando foram roubados R$ 2 milhões.
Em maio de 2020, ele ajudou a comandar o ataque ao Banco do Brasil em Ourinhos (SP), ainda segundo a PF. Na ocasião, foram levados R$ 50 milhões. Investigações apontam ainda a suspeita de participação em outros dois ataques a agências: em 30 de janeiro de 2017 em Lajes (RN) e outro em 5 de setembro de 2018, com suposta ação no roubo à Caixa Econômica Federal de Bauru (SP).
Arnon, o companheiro de cela de “Gianechini”, foi acusado de explodir uma agência bancária em Piracicaba em maio de 2018 e de distribuir explosivos para quadrilhas do “novo cangaço” na região de Campinas.
Ele foi preso em outubro do ano passado e pretendia, segundo a polícia, realizar um roubo no mês seguinte na cidade de Campina Grande do Sul (PR), onde já havia inclusive alugado uma chácara que seria usada para a logística do bando.
A segunda tentativa de fuga na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau também aconteceu no pavilhão 1 no dia 22 deste mês. A cela era habitada pelos presos Iranildo Ferreira da Silva, 43, Tony Ricardo Silveira, 47 anos, e Edilson Pereira Reis, 40. A ação dos presos foi bem ousada. Os detentos confeccionaram na cela 6 uniformes semelhantes aos usados pelo GIR, incluindo coletes à aprova de bala improvisados com papelão. Também fizeram simulacros (réplicas) de uma pistola automática e de uma espingarda calibre 12.
Agentes penitenciários só fizeram uma inspeção na cela dos prisioneiros porque sentiram um forte odor de bebida alcoólica. Lá, encontraram cerca de 20 litros de cachaça produzida artesanalmente pelos próprios presos, também conhecida como “maria louca”.
Eles ainda apreenderam na cela dos prisioneiros 268 gramas de cimento, duas cordas que possivelmente seriam usadas na fuga (uma com 50 m e outra com 25 m), cinco estiletes, um pedaço de serra, 18 cartões de memórias e cinco adaptadores para leitura de cartão.
Os uniformes similares aos do GIR foram confeccionados com tecidos pretos. Porém, a entrada de visitantes com roupas pretas, inclusive de calcinhas, é proibida no presídio ao menos desde 2014, conforme reportagem publicada pelo UOL em 13 de janeiro de 2021.
Iranildo foi condenado a 35 anos por roubos, homicídio e formação de quadrilha. A pena de Tony Silveira é de 81 anos por roubos e furtos. Já Edilson foi sentenciado a 39 anos de prisão em regime fechado por uma série de roubos.
A reportagem ligou para os advogados dos internos, mas ainda não obteve resposta.