DEPRESSÃO

Cientistas identificam por que mulheres têm mais depressão e respondem pior aos tratamentos

Genes específicos ligados a sintomas da doença foram alterados na região do cérebro que atua na motivação e nas interações sociais

Cientistas identificam por que mulheres têm mais depressão e respondem pior aos tratamentos (Foto: Pexels)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mulheres são de maneira geral mais afetadas pela depressão do que homens. A tendência pode ser comprovada ao se observar os números da doença no Brasil. Segundo a última edição da Pesquisa Vigitel, conduzida pelo Ministério da Saúde, 11,3% dos brasileiros têm um diagnóstico para a depressão, percentual que sobe para 14% ao se analisar apenas as pessoas do sexo feminino e cai para 7% entre as do sexo masculino. Esse perfil também leva a uma pior resposta aos medicamentos para o quadro, explicam pesquisadores.

As causas para essa diferença ainda não são bem explicadas pela ciência, que busca entender como regiões do cérebro ligadas à depressão são mais afetadas nas mulheres. Agora, um novo estudo conduzido por um time de cientistas da Universidade da Califórnia, do Hospital Mount Sinai e da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e da Universidade de Laval, no Canadá, encontraram uma das explicações.

Publicado na revista científica Biological Psychiatry, o novo estudo analisou os impactos da depressão numa região do cérebro chamada de Núcleo accumbens (NAc), que é ligada à motivação, ao centro de recompensa e às interações sociais.

Análises anteriores já haviam mostrado que, apenas em mulheres, diferentes genes do NAc eram ativados e desativados junto ao diagnóstico de depressão. Os pesquisadores consideravam que essas mudanças poderiam ser tanto consequências da doença, como as próprias responsáveis pelos sintomas do problema de saúde mental.

Para entender melhor essa relação, eles conduziram pesquisas com camundongos fêmeas, que possuem estrutura cerebral semelhante à humana. No trabalho, eles colocaram os animais em situações consideradas de interação social negativa, que induziram comportamentos relacionados à depressão de forma mais forte nos indivíduos do sexo feminino. Esse processo desencadeou as mudanças nos genes do NAc.

“Essas análises são muito informativas para entender os efeitos duradouros do estresse no cérebro. Em nosso modelo de roedores, interações sociais negativas mudaram os padrões de expressão gênica em camundongos fêmeas que espelhavam os padrões observados em mulheres com depressão. Isso é emocionante porque as mulheres são pouco estudadas neste campo, e essa descoberta permite focar a atenção na relevância desses dados para a saúde da mulher, explica a pesquisadora da Universidade da Califórnia que projetou e liderou esses estudos, Alexia Williams, em comunicado.

Em seguida, os responsáveis pelo estudo decidiram testar se o aumento de genes que foram desativados no cérebro de mulheres poderia ajudar na melhora do tratamento da depressão. Para isso, selecionaram um gene específico, que controla a expressão de uma proteína chamada de Rgs2. Isso porque, por sua vez, essa proteína atua nos receptores de neurotransmissores utilizados como alvos de medicamentos para a doença, como Prozac e Zoloft.

“Em humanos, versões menos estáveis ​​da proteína Rgs2 estão associadas a um risco aumentado de depressão, por isso estávamos curiosos para ver se o aumento de Rgs2 no Núcleo accumbens poderia reduzir comportamentos relacionados à depressão”, diz o professor de psicologia da Universidade da Califórnia Brian Trainor, autor sênior do estudo.

Quando os pesquisadores aumentaram a expressão dessa proteína por meio da manipulação do gene, os efeitos relacionados à depressão nos camundongos foram atenuados. Foram observados, por exemplo, um aumento da abordagem social e das preferências por alimentos para níveis de indivíduos que não haviam tido um comportamento relacionado à depressão.

“Esses resultados destacam um mecanismo molecular que contribui para a falta de motivação frequentemente observada em pacientes deprimidos. A função reduzida de proteínas como Rgs2 pode contribuir para sintomas difíceis de tratar em pessoas que sofrem de doenças mentais. Nossa esperança é que, fazendo estudos como esses, (…) aproximemos a ciência do desenvolvimento de novos tratamentos para os necessitados”, complementou Williams.