Coaf aponta movimentação suspeita de quase R$ 1,8 mi no escritório de Ricardo Salles
Segundo o Coaf, Ricardo Salles já estaria à frente do Ministério do Meio Ambiente; defesa do ministro nega
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) diz que o escritório de advocacia de Ricardo Salles realizou uma operação financeira suspeita de R$ 1,799 milhão após o ministro assumir a pasta do Meio Ambiente. Essa transação financeira, de acordo com o órgão de combate à lavagem de dinheiro, teria ocorrido entre outubro de 2019 e abril de 2020. A defesa de Salles nega.
A principal suspeita apontada pelo Coaf envolve uma operação no mercado financeiro que teria sido realizada pelo escritório de Salles, “destoando do perfil histórico de operações”. “Chamou a atenção o volume expressivo movimentado”, ressalta o relatório sigiloso do órgão, obtido pelo GLOBO.
Os indícios de irregularidades em movimentações financeiras feitas pelo escritório do ministro do Meio Ambiente foram enviados pelo Coaf à Polícia Federal e serviram como uma das provas para embasar a Operação Akuanduba, deflagrada na semana passada com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) e que cumpriu busca e apreensão nos endereços de Salles.
O Coaf afirma em seu relatório que o escritório do ministro do Meio Ambiente realizou “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio”. O faturamento médio anual da banca jurídica identificado pelo órgão foi de R$ 350 mil, mas, segundo o relatório, foram realizadas transações superiores à receita da sociedade formada entre Salles e a sua mãe, Diva Carvalho de Aquino.
“Suspeita-se da incompatibilidade entre o volume transacionado a crédito no período e o faturamento médio mensal de cadastro, aparentemente, indicando movimentação de recursos não declarados”, diz o Coaf.
No período de janeiro de 2012 a junho de 2020, o escritório do ministro do Meio Ambiente registrou movimentação financeira total de R$ 14 milhões, considerando entradas e saídas de recursos, segundo o relatório do Coaf. Desse volume, de acordo com o órgão, a banca recebeu R$ 7 milhões em suas contas de diversos clientes. O relatório, porém, não apresentou o detalhamento dos anos referentes a esses pagamentos nem apontou repasses de madeireiras que foram alvos da Operação Akuanduba.
Com base nessas informações, a Polícia Federal solicitou ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal, autorização para quebrar os sigilos bancário e fiscal de Salles para obter mais detalhes das operações suspeitas. O pedido foi deferido. Agora, os investigadores devem cruzar os dados para esclarecer o caso.
O relatório do Coaf foi um dos principais elementos utilizados pela Polícia Federal para justificar a inclusão de Salles na investigação. “Cremos que a confirmação da simples existência de operações suspeitas a cargo do ministro Salles, no mesmo período dos fatos em apuração neste IPL, juntamente com os demais elementos coligidos, permitem que seja apreciado por V. Excelência a judicialização destes autos perante este tribunal (o STF)”, escreveu a PF.
Procurada, a defesa de Salles negou irregularidades e afirmou que os clientes do escritório do ministro não têm relação com suas atividades políticas. “Todas as questões relativas à investigação serão prestadas nos autos do inquérito, tão logo se tenha acesso. Não existe nenhum movimento suspeito em relação ao escritório de advocacia, que tem clientes sem qualquer relação com atividades políticas. A ética e o sigilo impedem quaisquer comentários”, afirmou o advogado Fernando Fernandes, que defende o ministro do Meio Ambiente.