HOMENAGEM

Colégio homenageia alunos que salvaram colega de atentado a faca, em São Paulo

Um deles segurou o braço do agressor e o outro jogou a carteira para impedir novos golpes

Interior da sala de aula do Colégio Floresta, na Zona Leste de São Paulo, onde estudante foi atingida por facadas. — Foto: Acervo pessoal

Dois alunos foram homenageados nesta segunda-feira (28) por terem reagido para salvar a colega atacada por outro aluno a facadas na sala de aula da 8ª série do colégio Floresta, na zona leste de São Paulo.

Na última terça-feira (22), um aluno de 12 anos golpeou oito vezes a colega de classe da mesma idade no intervalo entre as aulas, quando não havia professores presentes. Segundo a diretora da escola, Elotisa Maria Otavia Garcia, no momento do ataque, outros dois alunos se levantaram para ajudar a vítima.

Um deles segurou o braço do agressor e pediu a outro colega que o atingisse com a carteira para impedir novos golpes. Enquanto isso, uma aluna usou sua blusa para estancar o sangue da vítima, e logo apareceram dois professores.

Os dois estudantes de 12 anos foram aplaudidos e ganharam uma medalha da diretora durante cerimônia que reuniu pais e alunos na retomada das aulas após o ataque. Um deles sofreu um ferimento, mas passa bem.

“O que aconteceu foi uma fatalidade. O aluno nunca teve problema de agressividade e era um estudante exemplar”, disse a diretora.

A educadora, que também é dona da escola, conta que estava em uma reunião quando foi abordada por uma funcionária em prantos. “Vi um dos professores com a aluna no colo. Outro professor estava ao lado com o jaleco todo ensanguentado. Colocamos ela no carro e chegamos ao hospital Ermelino Matarazzo em quatro minutos”, conta.

No trajeto, a aluna dizia que foi atingida por uma caneta e não sabia que se tratava de uma faca porque foi atacada pelas costas. “Pelo sangramento, eu sabia que não tinha sido uma caneta, mas nunca pensei ter sido uma faca”, disse a diretora.

“O socorro foi muito rápido e isso foi crucial para salvar a minha filha”, diz Glady Xavier Nascimento, mãe da vítima.

Muito emocionada, ela agradeceu pelo apoio recebido da escola e dos demais pais durante a cerimônia desta segunda-feira.

Recuperada e em casa desde sábado (26), quando teve alta do hospital, a estudante ainda não decidiu se irá continuar no mesmo colégio, segundo a mãe. Caçula de quatro filhos, a menina é a quinta integrante da família a estudar no colégio Floresta, que frequenta desde os 4 anos.

​A vítima e o colega agressor conviviam desde o fim de janeiro, quando foram retomadas as aulas presenciais na escola.

“Não sabemos o que aconteceu”, disse Elotisa em pronunciamento aos pais e alunos. “Não podemos imaginar que só porque um aluno é tímido é porque tem problemas”, continuou.

Na retomada das aulas após o ataque, as crianças que presenciaram o ataque terão acompanhamento psicológico. “Essas crianças ficaram dois anos em casa presas a redes sociais e jogos. Não sabemos até que ponto foram influenciadas”, disse a diretora.

A advogada da escola, Luciana Swab, afirmou que o aluno agressor está internado na Fundação Casa desde o ocorrido e sem receber visitas dos pais.

Procurada, a Fundação Casa informou que o interno está em quarentena de 14 dias, “norma padrão para todos os internos por conta da pandemia da Covid-19”, quando não pode receber visitas. O contato com o pai é constante por telefone, segundo a instituição.

Na audiência de custódia, o juiz determinou a internação provisória, que dura até 45 dias. Depois disso, uma nova audiência será marcada e, caso seja condenado à internação, o estudante somente poderá deixar a Fundação Casa após 3 anos. ​

​Em carta enviada ao grupo de pais da escola, o pai do agressor agradeceu o apoio dado ao filho “mesmo sabendo que ele fez uma coisa muito errada” e pediu desculpas por “não termos percebido qualquer alteração de comportamento”.

Mãe de vítima fazia trabalho social com os colegas agressores

A mãe da aluna atacada a facadas pelo colega em sala de aula trabalha como assistente social em um posto de saúde na zona leste e, até poucos meses antes do ataque da filha, atuava em um grupo de apoio a vítimas de violência e agressores.

“Eu pedi para sair do grupo e hoje sei que Deus estava me preparando para não estar tão fragilizada neste momento, para lidar com essa situação com a minha filha”, diz.

A mãe também rebate as acusações de que a garota fazia bullying contra o agressor, segundo versão dada pelo aluno em depoimento à polícia. “Ela é uma criança, lamento muito as pessoas a acusarem de ter feito bullying.”