Com 1,5 mi de veículos, Goiânia encontra desafios para melhorar o trânsito
Pesquisa aponta que 40% dos condutores consultados classificam o trânsito da capital como ruim e outros 34% avaliam como péssimo. Soluções passam por conclusões de obras e incentivo ao ciclismo
Completando 87 anos neste sábado 24 de outubro, Goiânia não tem muitos motivos para comemorar em relação ao trânsito. São acidentes, engarrafamentos, má sinalização e uma situação caótica durante quase todo o dia. Soma-se a isso as obras espalhadas pela capital, que ocasionam interdições e desvios em diversas vias, além do pouco espaços para a circulação dos mesmos, o que deixa o fluxo congestionado.
Em dezembro do ano passado o Instituto Grupom realizou uma pesquisa na qual apontou que a maioria dos goianienses estão insatisfeitos com o trânsito da capital. Mais de 20% dos entrevistados consideraram péssima a mobilidade urbana e avaliaram o trânsito com nota zero.
A pesquisa mostrou ainda que cerca de 31% dos consultados acredita que a Prefeitura seja responsável pela situação atual, enquanto 23% culpam as empresas de ônibus por não proporcionarem um transporte eficiente para que as pessoas deixem os carros em casa.
Já uma enquete realizada pela SMT (Secretaria Municipal de Trânsito) sobre os principais problemas do trânsito em Goiânia, mostrou que 40% dos condutores consultados classificam o tráfego da capital como ruim e outros 34% avaliam como péssimo.
Frota
Segundo o Departamento de Trânsito de Goiás (Detran-GO), hoje o estado tem 4.143.800 carros, sendo 1.249.501 somente na capital. Já em relação às motocicletas, são 1.131.655 em Goiás, e dessas, 302.116 estão em Goiânia.
No mais recente estudo sobre a frota de veículos no país, realizado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), Goiânia ficou em 6º lugar como a cidade com a maior frota de carros do Brasil. Em relação às motos, a capital ocupava o 4º lugar no ranking.
O estudo também apontou que, enquanto a média nacional era de um carro para cada 3,89 habitantes, na capital goiana a proporção era de 1 para 2,42 habitantes.
Carros e Motos vs. Ônibus
A grande frota de veículos é apontada pelo perito e ex-Superintendente Municipal de Trânsito, Antenor Pinheiro, como um dos principais problemas no trânsito goianiense.
“As autoridades tendem a priorizar alternativas que beneficiam veículos particulares, em detrimento dos coletivos. Isso é preocupante e estimula o uso do carro e da moto. Assim, a tendência são ruas mais congestionadas. Soma-se a isso a baixa ação de rotina da engenheira, da fiscalização e da educação ao volante”, diz.
Como exemplo de uma dessas alternativas em benefício de transportes particulares, estão os 73 pontos de faixas exclusivas para motos que serão feitos em Goiânia. Segundo a SMT, os motociclistas terão um espaço em separado, de aproximadamente cinco metros, para aguardar o tempo do semáforo sem ter que dividir o espaço com os carros.
O perito afirma que, na contramão do que é feito, é necessário priorizar os deslocamentos dos ônibus de uma forma mais rápida.
“Hoje a velocidade operacional em Goiânia varia de 8 a 12 quilômetros por hora, quando o ideal seria 27 a 30 quilômetros. É preciso vontade política para resolver os problemas de infraestrutura e gerenciamento do sistema”, acrescenta.
Vamos de bike
Para Antenor, além de investir no sistema de transporte público coletivo, umas das formas de melhorar o trânsito na capital é integrar esse sistema com opções cicloviárias e o transporte de pedestres.
Esse, inclusive, é o foco desta matéria do Mais Goiás, na qual mostra que a implementação de ciclovias é uma das principais alternativas para uma melhor mobilidade urbana.
Contudo, segundo dados da SMT, nos últimos anos a extensão de novas vias exclusivas para bicicletas foi 15 vezes menor do que o construído para carros. A Secretaria calcula atualmente 94,07 km de vias cicláveis em Goiânia.
Na capital observa-se cada vez mais crescente o número de pessoas adeptas aos passeios ciclísticos. O grupo Pedal Goiano, por exemplo, se reúne a cada 15 dias para pedalar percursos que variam entre 15 e 24 quilômetros. No Facebook, a página do grupo já conta com mais de 11 mil curtidas.
Ligando a cidade
Em março de 2015 teve início em Goiânia a obra do BRT (em inglês: Bus Rapid Transit). O projeto estabelecia a entrega de um corredor exclusivo com 21,8 quilômetros de extensão, ligando as regiões Sul e Norte da capital. Pela proposta, seriam disponibilizados 93 ônibus, sendo 28 articulados e 65 convencionais.
Conforme consta no site da Prefeitura, a previsão de conclusão da obra era para este mês de outubro. Contudo, basta transitar pelos pontos da capital onde o meio de transporte está sendo implantado, para constatar que o projeto levará mais um tempo para ser concluído.
Para tornar o BRT uma realidade, vias precisam ser interditadas constantemente e o trajeto de linhas de ônibus por vezes é modificado. Além disso, a obra já sofreu com paralizações.
Antenor Pinheiro diz que os problemas de trânsito relacionados a obras voltadas para o transporte público, principalmente como a do BRT, são decorrentes da falta de planejamento das autoridades e “de serem feitas de uma forma mais racional”.
Sobre a conclusão do BRT, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços (Seinfra) enviou uma nota ao Mais Goiás informando que “foi proposto um novo TAC (Termos de Ajustamento de Conduta) ao Ministério Público Federal (MPF)” e que “adotará um plano de ação para a conclusão das obras do trecho 2 no primeiro semestre de 2021“.
Além do BRT, outras três grandes obras de Goiânia devem ser concluídas apenas no ano que vem: o complexo viário da Avenida Jamel Cecílio, o Terminal Isidória e o trecho da Avenida Leste Oeste.
Para Dolzonan da Cunha Mattos, titular da Seinfra, todas as obras estarão concluídas na primeira metade de 2021. “Como todos os candidatos prometeram não desligar as máquinas, deve ficar pronto no primeiro semestre. O dinheiro já está carimbado e é específico para esses projetos. Nós não vamos deixar uma obra sequer sem funcionalidade”, disse.
https://www.emaisgoias.com.br/morte-de-motociclistas-aumenta-de-8-para-33-em-17-anos-diz-pesquisa/