Com Haddad subindo nas pesquisas, PT modula discurso econômico
Ele admitiu que algumas mudanças pretendidas pelo partido -como a revisão da reforma trabalhista- vão depender do Congresso Nacional, mas voltou a reforçar a disposição de revogação do teto de gastos e da retirada dos investimentos da meta fiscal
Após a confirmação de Fernando Haddad como candidato do PT à presidência e de seu rápido avanço nas pesquisas de intenção de voto, surgem os primeiros sinais de inflexão do discurso econômico do partido, em um possível aceno ao mercado financeiro e empresários.
Nesta segunda-feira (17), Marcio Pochmann, um dos assessores econômicos do PT, assegurou a uma plateia de empresários em São Paulo que um eventual governo Haddad evitará o que chamou de “choques” e reconheceu o insucesso de algumas medidas tomadas durante os anos de governo.
“A perspectiva não é de um governo que promova choques, mas a implementação de políticas graduais”, disse Pochmann. “Temos um programa, uma proposta. Nada que nos exigiria fazer um ajuste radical”, disse.
Em evento organizado pelo Lide, grupo de líderes empresariais, Pochmann admitiu que algumas mudanças pretendidas pelo partido -como a revisão da reforma trabalhista- vão depender do Congresso Nacional, mas voltou a reforçar a disposição de revogação do teto de gastos e da retirada dos investimentos da meta fiscal.
Ao mesmo tempo disse que o PT, se eleito, continuará cumprindo o tripé econômico (meta de inflação, metas fiscais e câmbio flutuante) e que há reconhecimento, por parte do partido, de erros e acertos, o que dá credibilidade para disputar as eleições.
Dentre os erros, Pochmann citou a tentativa de reduzir o custo da energia elétrica, além da política de desoneração da folha de pagamento das empresas -ambas implementadas durante do governo de Dilma Rousseff.
Segundo ele, a desoneração foi usada como instrumento de barganha pelo Congresso e, “de fato, não levou a uma ampliação do investimento, do crescimento econômico e, portanto, da receita tributária”, afirmou.
Olhando à frente, Pochmann disse que o PT encontra hoje condições melhores para presidir o Brasil do que em 2003 e afirmou também que, embora o papel do estado seja fundamental, ele jamais substituirá a iniciativa privada.
“Apesar de críticas que temos ao governo, reconhecemos que a inflação está sob controle.”
Eleições podem pacificar o País
Para Pochmann, o nó político após as eleições de 2014 levou o partido a mudar a orientação econômica, trazendo inflação, em um processo de “opção pela recessão”.
Pochmann disse, no entanto, que as eleições podem pacificar o país, abrindo espaço para a resolução dos problemas econômicos e sociais.
Segundo ele, é perigoso o discurso feito por alguns candidatos, como Jair Bolsonaro (PSL), de que as eleições podem não resolver a questão política. “O próprio Tasso Jereissati [senador pelo PSDB e ex-presidente do partido] foi feliz ao dizer que existiram opções erradas. Que o PSDB não aceitou o resultado, o que é dramático à democracia”.
Questionado, Pochmann disse que isso já foi resolvido pelo próprio PT, que afirmava que eleições sem Lula -preso em Curitiba- configurariam golpe.
“Não falo pela direção do PT, mas fomos tendo derrotas parlamentares e judiciais desde 2014. Dizíamos “não vai ter golpe”, teve golpe, “fora Temer”, continuou o Temer. São palavras de ordem que expressam a perspectiva de um partido, mas o fato de Fernando Haddad substituir o Lula significa que nos adaptamos aos limites da institucionalidade”, disse.
Pochmann qualificou como especulações notícias de que já existiriam negociações para compor eventual equipe econômica e negou que o partido converse com Marcos Lisboa -economista que hoje preside o Insper.
Para ele, a ênfase está no programa, bem conhecido por Haddad. “Haddad é o único caso de candidato à presidente que foi o próprio coordenador do programa”.