Com homenagem a Chico Science, Galo leva mais de 2 milhões às ruas
Foliões tomaram as ruas do Centro do Recife, para acompanhar o bloco.
A concentração do Galo da Madrugada teve início às 9h, no Forte das Cinco Pontas. O bloco arrasta multidões até as 18h30, quando se dispersa na Rua do Imperador. Um dos pontos altos do trajeto é o encontro com a estátua gigante do Galo, de quase 30 metros, na ponte Duarte Coelho. Este ano o mascote veio de óculos escuros em homenagem a Chico Science.
Com a camisa do bloco ou com fantasias, os foliões pulam junto, já que a folia é de graça. O frevo é o ritmo predominante, como em todo o carnaval pernambucano, mas há lugar para marchinhas de carnaval do Rio de Janeiro, o afoxé da Bahia e a música contemporânea do próprio Pernambuco.
E não só de ritmos é feita a variedade do Galo. Os fieis do bloco vem de todos os lugares do Brasil. O grupo da professora Karina Naro, 31 anos, é de Campina Grande, Paraíba. “Há quatro anos que a gente sempre vem. A gente se encantou com a energia, a animação. Depois de conhecer esse carnaval não é preciso ir a nenhum outro. É um carnaval popular, com gente fantasiada, com gente que não precisa de dinheiro para se divertir. Um carnaval extremamente democrático.”
Entre os pernambucanos também existem fieis ao bloco. Há exatos 20 anos o grupo dos Super Pernambucanos comparecem fantasiados com capas estampadas com a bandeira de Pernambuco. O professor Marcos Barros, 41 anos, explica o amor pelo bloco: “todo ano compartilhamos essa identidade que é única no mundo, só tem aqui. O Galo da Madrugada não tem definição, faz parte do sangue da gente. As festas da nossa região estão na nossa ideologia, no nosso dia a dia, e o Galo da Madrugada coroa a apoteose da diversão, da alegria, do amor”.
Este ano, caranguejos foram incorporados às fantasias dos super pernambucanos em referência ao homenageado do Galo, o músico Chico Science, um dos fundadores do movimento cultural manguebeat. “A gente não podia deixar de reverenciar uma das maiores referências musicais do mundo, que a ‘pernambucaneidade’ não pode esquecer”, defende Marcos.
Os comerciantes da região também estão aproveitando o homenageado da vez para vender o modelo de chapéu que ficou famoso com o músico. Kleber Duarte, 43 anos, conta que todos já esqueceram o nome correto do acessório: Salomé. Hoje só é chamado de “Chico Science” mesmo.
“Esse chapéu não era usado por muita gente, compravam para fazer base de fantasia, os palhaços, caboclo de lança. Aí, com ele, popularizou”, explica Kleber.
A mãe dele, Gerusa Gouveia, 63, afirma que vendeu alguns exemplares para o próprio Science. “Lembro como hoje. Foi num sábado à tarde, no mercado de São José. Ele disse que precisava de seis para usar com a banda dele. Depois de alguns meses vi que tinha morrido em um acidente”, recorda, fazendo referência ao dia 2 de fevereiro de 1997, quando o artista faleceu, aos 30 anos, em uma batida de carro.
Mas não só de ícones pernambucanos são feitas as fantasias que desfilam no bloco. O cabeleireiro Jorge Ferreira, 47anos, todo ano sai de vampiro, mas, em 2016, atualizou o tema. “Eu estou também de dengue e crise”, diz, mostrando uma placa grudada em um cajado vampiresco. “Qual é mais difícil de combater, a dengue ou a crise?”, pergunta o folião.
O vampiro sanguinário estava acompanhado de outro bebedor de sangue. O mosquito da dengue, fantasia do DJ Israel Gomes, 31. “Lembrando que hoje a dengue não está picando é nada, só está brincando o carnaval. Aproveitou a folga para brincar o Galo da Madrugada e na quinta-feira volta às atividades normais”, graceja.