Comandante-geral da PM de SP entrega o cargo e impõe a Doria baixa estratégica na Segurança
A relação do oficial com o governador do Estado, João Doria (PSDB), vinha se desgastando desde o ano passado e piorou durante o caso de Paraisópolis
O coronel Marcelo Vieira Salles, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, colocou o cargo à disposição ontem e deverá deixar o posto que ocupa desde 2018. A relação do oficial com o governador do Estado, João Doria (PSDB), vinha se desgastando desde o ano passado e piorou durante o caso de Paraisópolis, onde uma ação da PM causou o pisoteamento e morte de nove jovens, segundo inquérito oficial. O nome do substituto para o cargo ainda não foi escolhido.
Salles ocupa o comando da corporação desde maio de 2018, quando foi escolhido pelo então governador Márcio França (PSB). Ele sobreviveu à troca no Palácio dos Bandeirantes e seguiu comandando os mais de 90 mil policiais durante o primeiro ano da gestão Doria. Antes, foi ajudante de ordens do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), comandante da Cavalaria e atuou na Defesa Civil e na Casa Militar.
O coronel assumiu meses após um recorde de letalidade policial, registrado em 2017, e teve como desafio o controle dessas estatísticas. A letalidade caiu em 2018, mas voltou a subir em 2019, acompanhando um discurso do governador de “mandar bandido para o cemitério”, em caso de resistências e confrontos. Ao longo da sua gestão, as outras estatísticas de criminalidade mantiveram a tendência de redução e o Estado voltou a registrar uma mínima histórica nos homicídios.
Apesar disso, o caso de Paraisópolis opôs Doria e Salles. A pedido dos parentes das vítimas, o governador se comprometeu a afastar todos os policiais da ocorrência, retirando-os das ruas. Trinta e um policiais estão nessa condição. A decisão do governador soou como uma punição antecipada aos agentes – o objetivo de Salles era preservar os policiais até que a investigação apontasse alguma conclusão sobre o caso.
Nesta semana, veio a público a conclusão da Corregedoria de que a ação dos PMs causou as mortes, mas o inquérito pede que não sejam punidos porque teriam agido em legítima defesa. Outra investigação, da Polícia Civil, está em andamento.
Além disso, causou estranheza no Palácio dos Bandeirantes a ida do comandante à Brasília pouco tempo após as mortes em Paraisópolis. Em vídeo distribuído por Salles, ele aparece comentando a “vitória” do projeto da Previdência dos policiais militares, com garantias para esses trabalhadores. Em São Paulo, a crise de Paraisópolis se intensificava e a interpretação foi a de que Salles lidava com assuntos corporativos em vez de dedicar atenção ao caso.
Segundo um coronel ouvido pela reportagem, esse fator político teve mais peso no desgaste entre o comandante e o governador do que mesmo a decisão do afastamento dos policiais de Paraisópolis. Entre os coronéis, há o indicativo de que Salles pretende lançar carreira na política com auxílio do PSL, ex-partido do presidente Jair Bolsonaro. Em outubro do ano passado, Doria foi vaiado durante o evento de formatura de sargentos da PM de São Paulo, enquanto Bolsonaro, também presente, foi aplaudido pela plateia.
Caráter pessoal
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que Salles solicitou ao secretário da Segurança, general João Camilo Pires de Campos, sua passagem para a reserva. “Ao secretário, na ocasião, o comandante ressaltou que a decisão é de caráter pessoal. A secretaria já avalia o substituto para dar sequência ao excelente trabalho desempenhado pelo coronel Salles.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.